Inteligência Emocional

Índice

1. Inteligência Emocional: uma competência a desenvolver

1.1. Emoções: o que são e que papel desempenham na nossa vida

1.2. Origem e fundamentos da Inteligência Emocional

1.3. Principais pilares da Inteligência Emocional

1.4. Inteligência Emocional: aplicação prática

2. Promover o autoconhecimento

2.1. O papel das crenças

2.2. Crenças fortalecedoras versus crenças limitantes

2.3. Promover o autoconhecimento: aplicação prática

2.4. A eficácia de uma perspetiva positiva

 

1. Inteligência Emocional: uma competência a desenvolver

Nas sociedades denominadas desenvolvidas, adquiriu-se o hábito de viver a alta velocidade, ignorando os sinais de alerta transmitidos pelo corpo e pela mente.

Os seres humanos são cada vez mais dominados pela busca do sucesso, tornando-se vítimas das consequências inerentes à pressão imposta pela competitividade. Passam a maior parte do seu tempo nesta demanda, ignorando o ritmo biológico individual (ciclo circadiano), bem como os estados emocionais que vão sentindo ao longo do processo, negligenciando assim fatores essenciais ao seu equilíbrio e bem-estar.

Toda esta correria leva ao acumular de cansaço e de stress, responsáveis não só por uma grande parte das doenças físicas, mas também por um aumento na incidência de patologias de foro psicológico. Estudos recentes demonstram que a população afetada por problemas como ansiedade, fobias, ataques de pânico e depressão, têm aumentado consideravelmente nos últimos anos. De notar que, todas as faixas etárias são afetadas, incluindo os adolescentes e as crianças, grupos em que se verificou um aumento significativo nas últimas décadas.

Este tipo de desequilíbrio emocional tem um impacto que pode ser devastador, dado que afeta as vertentes pessoal, profissional, familiar e social do ser humano. Segundo Daniel Goleman, psicólogo especialista na área da Inteligência Emocional, e considerado o principal pesquisador contemporâneo desta área:

 

Estas patologias são manifestações da falta de equilíbrio (principalmente emocional), e podem ser evitadas se cada um dedicar algum tempo a conhecer-se um pouco melhor, e a aprender algumas técnicas e noções que irão certamente tornar a vida mais equilibrada e agradável.

É neste sentido que, desenvolver a inteligência emocional pode revelar-se uma competência capaz de mudar a vida, tanto do ponto de vista pessoal como profissional. Otimizar a capacidade de reconhecer as nossas próprias emoções bem como as dos outros, assim como potencializar as competências que permitem melhorar os relacionamentos interpessoais, é um dos principais objetivos desta área de conhecimento.

Neste curso, vamos introduzi-lo neste mundo e procuraremos acompanhá-lo neste primeiro passo que, esperamos que se possa transformar num momento decisivo para a sua evolução, tanto na vida pessoal como profissional.

 

1.1. Emoções: o que são e que papel desempenham na nossa vida

Etimologicamente, a palavra “emoção” (do latim emovere) significa “mover para”. Esta classificação sofreu uma evolução ao longo dos tempos, sendo hoje vista como uma “agitação da mente ou do espírito”. Esta definição sugere uma predisposição para a ação em função dos estímulos (sejam eles cognitivos internos ou sensoriais externos), uma espécie de impulso para o movimento, uma estratégia dinâmica que nos capacita para enfrentar os desafios da vida.

De facto, as emoções desempenham um papel fundamental no quotidiano dos seres humanos dado que, o seu principal objetivo é funcionar como um guia para alcançar o estado de equilíbrio. Por um lado, chamam a atenção para eventuais perigos ou situações potencialmente ameaçadoras ao bem-estar ou mesmo à vida; por outro, são poderosos indicadores do grau de satisfação individual e, ao mesmo tempo, motores propulsores de mudança, motivando e dando feedback contínuo sobre o estado atual do individuo.

Estudos recentes que se debruçam essencialmente sobre o funcionamento do cérebro, têm vindo a demonstrar a complexidade do mesmo, bem como a crescente importância demonstrada pelas emoções, nomeadamente no que diz respeito ao comportamento dos seres humanos.

Neste sentido, considera-se a existência de dois tipos de mente: a mente racional e a mente emocional. Embora façam parte de um mesmo sistema e partilhem objetivos, têm características e funcionamentos distintos.

A mente racional contempla a ponderação minuciosa da situação, bem como a análise precisa de todos os detalhes, requerendo mais tempo na tomada de decisão que precede a ação. É fundamental na tomada de decisões, no delinear de estratégias e na resolução de problemas não urgentes.

 

Por sua vez, a mente emocional age como que por instinto, dado que o seu objetivo principal é manter-nos em segurança. Baseia-se em primeiras impressões, perceciona a circunstância como um todo e responde tendo em consideração apenas os pontos percecionados como relevantes. É mais rápida que a mente racional, e é dominante em situações de urgência ou de stress.

Assim, em situações de perigo, a mente emocional assume o comando. Desencadeia a denominada “resposta de luta ou fuga’’, que por sua vez ativa um conjunto de mecanismos fisiológicos, que nos permite agir rapidamente em caso de perigo iminente, como por exemplo: em caso de incêndio, naufrágio, ou acidente de trabalho.

Desta forma, antecipa-se à mente racional, que naturalmente começaria a conjeturar sobre qual a melhor opção naquele caso concreto, analisando sobre diferentes ângulos a situação em questão, até tomar uma decisão sensata e ponderada, a qual muito provavelmente chegaria tarde demais.

Sobre este mesmo ponto, é importante salientar que, contrariamente ao que acontece em situações de urgência, onde o perigo é real, na maioria das situações de stress, não existe uma ameaça concreta. No entanto, a mente emocional perceciona-o como tal, desencadeando uma reação semelhante à descrita anteriormente. Assim, em determinados momentos, podemos sentir-nos invadidos por sentimentos avassaladores como a raiva, a frustração ou o medo (entre outros). Estes manifestam-se igualmente de forma espontânea e sem passar pelo filtro cognitivo, o que nem sempre se revela adequado à situação, como por exemplo: numa manifestação excessivamente efusiva durante uma discussão de ideias com um responsável, um colega ou um cliente.

Assim, a expressão de um estado emocional descontrolado, pode ter consequências graves ao nível das relações interpessoais pelo que, aprender a usar a bússola das emoções, permite-nos disfrutar de uma vida mais equilibrada, de mais sucesso e bem-estar. Esta gestão implica um maior conhecimento de si mesmo, bem como o desenvolvimento de técnicas facilitadoras do relacionamento interpessoal.

 

1.2. Origem e fundamentos da Inteligência Emocional

Charles Darwin (1809-1882), naturalista, geólogo e biólogo britânico, famoso pela sua teoria sobre a evolução das espécies, foi provavelmente o primeiro a detetar a universalidade das expressões faciais da emoção, evidenciando que, o ciclo evolutivo favoreceu a gravação desses sinais no nosso sistema nervoso central.

No entanto, quem introduziu a noção de Ser Biopsicossocial, chamando a atenção para a importância das emoções na vida do ser humano, foi sem dúvida Sigmund Freud (1856-1939), médico neurologista e psiquiatra, conhecido pelas suas teorias inovadoras e métodos controversos.

Ao longo dos anos, vários especialistas de diversas áreas exploraram o tema, evidenciando o papel preponderante da inteligência emocional nas nossas vidas. Assim, esta passou a ser percebida como um conjunto de capacidades emocionais e sociais que combinadas entre si, determinam:

  • O quanto cada indivíduo é capaz de se conhecer a si mesmo e de se expressar;
  • A habilidade de desenvolver e manter relações sociais;
  • O modo como cada um consegue lidar com os desafios diários e o quanto estes o afetam com o passar do tempo;
  • Como cada pessoa usa as informações emocionais apreendidas (tanto as suas como as de outras pessoas) de maneira eficaz e significativa na sua vida.

Na mesma linha de pensamento, Daniel Goleman, psicólogo especialista na área da inteligência emocional, considerado o principal pesquisador contemporâneo nesta área, serviu de inspiração a uma nova filosofia de vida, a tal ponto que várias escolas privadas dos Estados Unidos da América e do Brasil começaram a desenvolver um programa curricular (denominado de LIV no Brasil – Laboratório Inteligência de Vida) que contempla a importância dos sentimentos na educação.

Segundo este, todas as emoções são percebidas como relevantes para a continuidade da vida, sendo essencial a tomada de consciência de que os sentimentos não podem ser controlados, mas que a escolha do que fazer com eles pode.

Na base desta perspetiva estão os princípios fundamentais da teoria desenvolvida por Daniel Goleman, de que a inteligência emocional assenta sobre 5 pilares principais, nomeadamente:

  • Autoconsciência
  • Autorregulação
  • Automotivação
  • Empatia
  • Habilidades sociais

 

1.3. Principais pilares da Inteligência Emocional

De acordo com a teoria desenvolvida por Daniel Goleman, a inteligência emocional assenta sobre 5 pilares principais, nomeadamente: a autoconsciência, a autorregulação, a automotivação, a empatia e as habilidades sociais.

Façamos uma breve análise de cada uma delas:

Autoconsciência

Refere-se à capacidade de conhecer as nossas próprias emoções, ou seja, reconhecer um sentimento enquanto este está a acontecer.
Esta competência é considerada como a pedra basilar da inteligência emocional, dado que se revela essencial para a introspeção e o autoconhecimento. Funciona como uma espécie de bússola moral, permitindo uma melhor gestão da vida, e favorecendo o desenvolvimento de uma boa intuição e da tomada de decisão consciente. Por outro lado, a ausência desta capacidade deixa o indivíduo à mercê das suas emoções, o que pode ter um impacto negativo importante nos seus comportamentos e atitudes quotidianos.

Autorregulação

 Esta capacidade deriva da autoconsciência e implica lidar com as emoções de forma ajustada, ou seja, ser capaz de selecionar a reação adequada a um determinado estímulo, em vez de se deixar levar por um impulso (o que se pode revelar nocivo para o próprio ou para os outros). Esta autogestão inclui a capacidade de se acalmar a si mesmo, afastando sentimentos como a ansiedade, a tristeza, ou a desilusão (entre outros), bem como as consequências nefastas que estas acarretam. Esta competência favorece a recuperação das contrariedades inerentes ao desenrolar da vida, sem que haja lugar à repressão de sentimentos desagradáveis e indesejados.

Automotivação

Consiste em motivar-se a si próprio, ou seja, ser capaz de conduzir as emoções no sentido de um objetivo ou meta pessoal, e persistir apesar das deceções. Esta capacidade favorece o autocontrolo emocional, ou seja, a habilidade de adiar a recompensa e dominar a impulsividade, e está intimamente relacionada com a esperança, a perseverança, a resiliência e a iniciativa. Permite também entrar mais facilmente num “estado de fluxo”, que favorece a produtividade, a eficácia e desempenhos de qualidade em todo tipo de áreas.

Empatia

 Trata-se de uma aptidão que deriva da autoconsciência dado que, quanto maior a nossa capacidade de reconhecer as nossas próprias emoções, mais aptos estaremos a identificar os sentimentos dos outros. Consiste na capacidade de reconhecer as emoções dos outros, ou seja, desenvolver a sensibilidade de reconhecer os indícios ténues que revelam as necessidades ou desejos de outra pessoa, nomeadamente através do tom de voz, da expressão facial, da postura corporal, dos momentos de silêncio ou dos gestos.

Esta competência promove o altruísmo, e a sua ausência é caraterística de pessoas com perfil criminoso como os psicopatas, os violadores, ou os indivíduos que assediam sexualmente as crianças.

Habilidades Sociais

 Podem ser consideradas como a arte de nos relacionarmos com os outros e implicam a maturidade das capacidades de autorregulação e de empatia. No fundo, consiste em coordenar todas as competências anteriormente referidas, no sentido de otimizar as relações interpessoais. O domínio das habilidades sociais está na base da popularidade, da liderança e da eficácia interpessoal, permitindo inspirar, persuadir e influenciar os outros, bem como fazer com que se sintam à vontade. A carência desta habilidade pode levar mesmo os indivíduos intelectualmente brilhantes a fracassar na área das relações interpessoais, fazendo com que sejam vistos como arrogantes, antipáticos ou insensíveis.

 

1.4. Inteligência Emocional: aplicação prática

Daniel Goleman tornou-se célebre a nível mundial por afirmar que, saber lidar com as emoções é essencial para a evolução do ser humano, estando convicto de que a herança genética não é determinante no que diz respeito ao sucesso ou fracasso dos indivíduos. Neste sentido, defende que a inteligência emocional pode ser aprendida e desenvolvida através da repetição de um conjunto de práticas quotidianas.

Esta ideologia é sustentada pelo conhecimento científico relativo à neuroplasticidade cerebral, ou seja, a capacidade que o sistema nervoso central possui de modificar algumas das suas propriedades morfológicas (forma) e funcionais (função) em resposta a alterações do ambiente. Este facto significa que, independentemente do nível de desenvolvimento da inteligência emocional que apresenta neste momento, esta pode ser melhorada por forma a que possa alcançar o estado de equilíbrio e bem-estar que deseja.

Neste sentido, o primeiro passo consiste em desenvolver o autoconhecimento, nomeadamente no que se refere à identificação e interpretação das nossas próprias emoções, através da técnica da auto-observação. Observe-se a partir do exterior, isto é, imaginando que está a observar outra pessoa e não a si próprio, e tente perceber o que está a acontecer, sem julgar nem interferir com os sentimentos. Desta forma poderá compreender o que está a sentir, qual foi o fator precipitante desse sentimento e o porquê de este ter sido desencadeado.

Assim que conseguir identificar o sentimento em causa aceite-o, permita que este se manifeste (da forma mais controlada possível), e fale sobre ele com alguém com quem se sinta à vontade para fazê-lo. É importante que fale acerca desse sentimento negativo com que tem vivido, seja ele ansiedade, medo, tristeza, vergonha ou outro, e posteriormente, faça uma análise interior mais profunda para poder descobrir a sua origem. É também importante que defina pelo menos uma ação a pôr em prática rapidamente, no sentido de o ajudar a lidar com a emoção em situações futuras.

 

Com o tempo, vai aperceber-se de que existem vários temas que despoletam em si impulsos de reação inconscientes. E, se prestar atenção às pessoas que estão à sua volta, vai constatar que o mesmo acontece com a maioria delas, pois ainda são poucas aquelas que entendem, dominam e conseguem fazer uma aplicação quotidiana adequada da inteligência emocional.

Se analisar um pouco mais profundamente, vai entender que a origem desses sentimentos remonta à sua infância, na qual desenvolveu determinados tipos de crenças (quer sobre si mesmo, quer sobre os outros e também sobre o mundo) que, sem você se dar conta, se tornaram os alicerces da sua personalidade. Esta compreensão é essencial para que se possa aceitar e aprender a lidar com consigo mesmo e, se assim o desejar, começar a mudar.

Os estados de espírito positivos melhoram a capacidade de refletir de forma flexível e mais complexa, tornando mais fácil encontrar soluções para problemas de foro intelectual ou interpessoal. Neste sentido, de cada vez que for invadido por um sentimento negativo, recorde-se que se trata de uma manifestação de algo que o preocupa ou que necessita de ser resolvido e que, portanto, está na hora de pôr mãos à obra.

 

2. Promover o Autoconhecimento

John Mayer, psicólogo americano especialista em inteligência emocional e em psicologia da personalidade, considera que, no que diz respeito ao modo como as pessoas enfrentam e lidam com as suas próprias emoções, podemos considerar três grupos, nomeadamente:

  • Autoconscientes
  • Imersas
  • Aceitantes

Autoconscientes

 Pessoas conscientes dos seus estados de espírito enquanto estes acontecem. Analisam com clareza as suas próprias emoções, o que pode realçar outros traços da personalidade, tais como: autonomia e segurança relativamente aos seus próprios limites; boa saúde psicológica e tendência para serem positivas. Quando se encontram num estado de espírito negativo, não ficam obcecadas e rapidamente conseguem sair dele. Neste sentido, a sua capacidade de se manter alerta, ajuda-as a controlar as emoções.

 

Imersas

Pessoas que regularmente se deixam dominar pelas emoções, revelando-se incapazes de escapar-lhes, permitindo que os seus estados de espírito assumam o controlo. Mostram-se instáveis e pouco conscientes dos seus próprios sentimentos, perdendo-se facilmente neles, não sendo capazes de manter alguma perspetiva. Consequentemente, nada fazem para evitar entrar em estados de espírito negativos, vivendo com a sensação de que não controlam a sua vida emocional. Habitualmente, sentem-se submersas e descontroladas do ponto de vista emocional.

 

Aceitantes

Pessoas que frequentemente se encontram conscientes dos seus sentimentos, no entanto, têm tendência para aceitar os estados de espírito tal como estes ocorrem, sem nada fazerem para alterá-los. Neste grupo, podem ser considerados dois tipos de pessoas: os que habitualmente se encontram de bom humor, e portanto não reconhecem a necessidade de mudar; e os que, apesar de terem perfeita noção do que lhes está a acontecer, entram com regularidade em estados de espirito negativos, sem nada fazerem no sentido de contrariá-los, conformando-se  passivamente (padrão típico, por exemplo, das pessoas que se encontram deprimidas e que se resignam ao seu desespero).

Sobre este ponto, proponho uma pequena pausa. Pense por um momento e tente perceber com qual dos grupos referidos anteriormente se identifica. Para efetuar esta autoanálise, terá de se distanciar emocionalmente da situação, no sentido de efetivamente conseguir utilizar apenas a sua mente racional e assim, obter uma resposta realista. Independentemente da conclusão a que chegar, lembre-se que o importante não é o ponto onde se encontra, mas sim, onde quer chegar. Através da presente formação, pretendemos ajudá-lo a iniciar esse caminho, disponibilizando conhecimentos e ferramentas, e acompanhando-o ao longo do processo.

 

2.1. O papel das crenças

Desde o último trimestre de gestação e até ao início dos 7 anos de idade, o cérebro humano encontra-se numa frequência de baixa vibração, cientificamente denominada de “teta”. Esta frequência corresponde a uma espécie de hipnose, o que significa que durante esta etapa da vida, absorvemos a informação sem que esta sofra qualquer tipo de análise ou filtro da nossa parte.

As nossas capacidades reflexiva e analítica ainda não se encontram formadas, pelo que a informação recebida é simplesmente incorporada e assimilada como verdadeira. Deste modo, as nossas crenças são construídas tendo por base os ideais e os comportamentos observados nas outras pessoas, principalmente naqueles que nos são mais próximos e com quem interagimos mais frequentemente.

Com certeza já ouviu alguém dizer-lhe algo como “és igualzinho ao teu pai”, ou “és mesmo parecido com a tua mãe”, ou “quando falas, parece que estou a ouvir o teu avô”. É possível que ainda não se tenha apercebido disso, ou que, até este momento, considerasse esse tipo de afirmações completamente descabidas e sem fundamento. No entanto, se tiver em conta a noção que acaba de ser abordada, conseguirá compreender que essas semelhanças se devem ao fato de que, você ouviu e observou os seus familiares de forma sistemática e repetida, desde a sua infância e ao longo da sua vida, o que inevitavelmente se concretiza através de uma forma de pensar e de agir idênticos a essas pessoas.

Albert Einstein afirmou que:

Neste sentido, estudos na área da psicologia sobre a formação das crenças, e a relação entre crenças e ações, indicam outros modos de formação de crenças após a infância, nomeadamente:

  • A adoção das crenças de um líder carismático.
  • O impacto da publicidade, através da repetição, do choque e da associação com imagens de sexo, amor, beleza e/ou símbolos de fortes emoções positivas.
  • O resultado de um trauma físico (especialmente na cabeça).

As crenças são, portanto, interpretações sobre fatos, pessoas, coisas ou situações, incluindo a respeito de si próprio. E, quando acreditamos verdadeiramente em algo, o nosso comportamento é congruente com essa crença. Assim, podemos afirmar que as crenças não são a realidade, mas a interpretação que fazemos dela. Neste sentido, podemos escolher guardar aquelas que nos fortalecem e fazem sentir bem, e mudar aquelas que nos limitam e nos fazem sentir mal.

Para darmos início a esse processo de mudança, que será sem dúvida determinante para um futuro mais positivo, e consequente aumento significativo no seu bem-estar pessoal, é essencial identificar as suas próprias crenças relativamente a cada um dos temas da sua vida, para depois poder perceber se são positivas e fortalecedoras, ou limitantes e castradoras.

 

2.2. Crenças fortalecedoras versus crenças limitantes

Como vimos, é essencialmente ao longo da infância que as nossas crenças são formadas. Dependendo do contexto familiar e socioeconómico em que crescemos, podemos considerar o desenvolvimento de dois tipos de crenças, nomeadamente: as positivas, que nos fazem sentir confiantes e seguros de nós mesmos, e nos motivam a evoluir; e as negativas, que nos limitam nas nossas capacidades e escolhas, e que nos fazem sentir mal connosco próprios e com o mundo que nos rodeia. Vejamos alguns exemplos:

Desejo Consciente:

Quero mesmo conseguir este emprego novo!

Crença Inconsciente: Se conseguir o emprego novo terei que ir morar sozinha noutra cidade, e a minha mãe passou a minha infância a dizer-me que sou preguiçosa e que nunca me conseguirei desenrascar sozinha.

Crença Inconsciente: Eu só tenho o 12.º ano… o meu pai sempre me disse para estudar porque só quem tem um curso superior é que consegue chegar a algum lado na vida.

 

Desejo Consciente: Quero encontrar um amor verdadeiro!

Crença Inconsciente: A minha avó sempre me disse para ter cuidado com os homens. São uns falsos e só pensam em aproveitar-se das mulheres.

Crença Inconsciente: A minha tia está sempre a dizer-me para parar de sonhar com o príncipe encantado e com o “viveram felizes para sempre”, pois esse tipo de felicidade não existe.

 

Desejo Consciente: Quero ser rico!

Crença Inconsciente: O meu pai sempre me disse que os ricos são pessoas más, que enganam e se aproveitam da bondade dos outros.

Crença Inconsciente: O meu avô não se cansava de repetir que a vida é difícil, o dinheiro não cresce nas árvores, e temos que trabalhar muito para conseguir garantir a nossa sobrevivência.

Os exemplos apresentados são apenas alguns dos imensos que podiam ser abordados. Talvez alguns deles lhe sejam familiares. Como podemos verificar, para cada área da nossa vida pode existir mais de uma crença limitante, o que significa que, por muito que queiramos algo de forma consciente, não conseguiremos alcançá-lo porque, inconscientemente vamos boicotar-nos. Ou seja, reforçamos as nossas crenças quando colhemos resultados coerentes com aquilo que acreditamos.

Imagine agora que tinha crescido num ambiente onde os seus próximos demonstravam afeto e apoio incondicionais, reforçavam a sua autoconfiança e autoestima de forma sistemática, e o elogiavam e incentivavam a perseguir os seus sonhos independentemente de quais fossem. Nesse caso, o primeiro exemplo apresentado seria mais parecido com o seguinte:

Desejo Consciente: Quero mesmo conseguir este emprego novo!

Crença Inconsciente: Os meus pais sempre me disseram o quanto sou inteligente, responsável e determinado, por isso tenho fortes chances de conseguir.

 

 

2.3. Promover o autoconhecimento: aplicação prática

Agora que já percebeu a importância que as crenças formadas durante a sua infância podem ter no seu estado de espírito quotidiano, talvez se pergunte como pode efetivamente mudar aquelas que o fazem sentir mal e estão em desarmonia consigo e com os seus sonhos. São inúmeros os métodos e técnicas existentes atualmente que o podem ajudar a alcançar este objetivo.

No entanto, nesta fase inicial de descoberta, inspirada por alguns dos melhores especialistas desta área, proponho três técnicas simples, mas eficazes, que certamente o motivarão a procurar outras mais complexas à medida que for avançando nesta sua demanda pessoal.

 

Postura Corporal

 O corpo e a mente encontram-se profundamente relacionados através da denominada “argola cibernética”. Isto quer dizer que os seus pensamentos afetam a forma de estar do seu corpo e, de forma idêntica, o modo como usa o seu corpo influencia fortemente os seus pensamentos.

As pessoas tristes ou deprimidas tendem a adotar uma postura curvada, olhar constantemente para o chão e apresentar movimentos lentos. Pelo contrário, pessoas confiantes e positivas, tendem a apresentar uma postura ereta, movimentam-se de forma ativa e olham para o horizonte/ligeiramente para cima.

Neste sentido, proponho que respire profundamente, plante os pés firmemente no chão, corrija a sua postura como se tivesse um fio prateado bem esticado ao longo da sua coluna e até ao topo da sua cabeça, que o mantém ereto e confiante. Vá corrigindo a sua postura sempre que se aperceber que não se encontra neste estado e verá que, em breve, terá reprogramado a sua musculatura e terá interiorizado o hábito de postura confiante e positiva.

 

Diálogo Interior

O ser humano tem cerca de 70.000 pensamentos por dia, 90% dos quais são inconscientes, ou seja, nem sequer nos damos conta deles. A forma mais simples de nos apercebermos do que estamos a pensar é através das nossas emoções. Se nos sentimos mal durante a maior parte do dia, significa que os nossos pensamentos estão a provocar esses sentimentos e, portanto, podemos fazer algo para mudar esse estado de espírito. Provavelmente esse sentimento está relacionado com as suas crenças limitantes, “a sua voz interior” está a criticá-lo de forma negativa, o que o faz sentir cada vez pior.

Pare um momento, ouça o que “a sua voz interior” tem para lhe dizer e depois reformule essa crítica por forma a torná-la construtiva. Desta forma irá habituar-se a ser mais tolerante e compreensivo consigo mesmo e, consequentemente com os outros.

Exemplo:

  • “Que grande burro… Fizeste outra vez asneira! Será que nunca mais aprendes?!”
  • “Isto hoje não correu como esperado… Como é que podemos fazer melhor da próxima vez?”

 

Representações Mentais

Para além dos diálogos internos, a sua mente também cria uma espécie de filmes: imagens associadas a sons, através dos quais faz representações da realidade.

Essas representações podem referir-se à antecipação de determinadas situações (ex. entrevista de emprego, discurso, uma atividade, …) ou a reviver determinada situação marcante do passado (ex. discussão, conflito, …). Referem-se à forma como percecionamos a realidade, e, portanto, podemos escolher torná-las positivas de forma a reforçar a nossa confiança, ou negativas e autodestrutivas.

Quando se sentir stressado ou assoberbado por pensamentos e sentimentos negativos, pare um momento, respire fundo e mude as suas imagens mentais. Escolha uma imagem de um momento de paz ou felicidade que tenha vivido no passado (ou imagine um momento desses que gostaria de viver no futuro), e deixe-se envolver por ele, mergulhe fundo durante uns minutos e verá que se sentirá mais calmo e feliz, e, portanto, mais capaz de lidar com a situação com que se depara nesse momento.

 

 

2.4. A eficácia de uma perspetiva positiva

 Tudo na vida é uma questão de perspetiva. Se pensar um pouco sobre esta ideia, vai aperceber-se de que a forma como escolhe encarar a vida e as situações com que se depara diariamente, vai determinar o seu grau de autoconfiança e consequente bem-estar. Neste sentido, criar ou reforçar crenças fortalecedoras, vai permitir-lhe adotar uma perspetiva positiva e otimista da vida, fazendo com que se sinta mais capaz e cheio de esperança relativamente ao futuro.

As pessoas pessimistas tendem a atribuir a responsabilidade dos acontecimentos a causas internas, gerais e de carater permanente, enquanto que os otimistas sabem que os acontecimentos resultam de causas externas, específicas àquele momento e que se revelam de carater temporário. Neste sentido, algo tão simples como mudar as questões mentais que coloca a si mesmo, pode fazer toda a diferença. Ou seja, perante uma adversidade, em vez de:

“Porque é que eu não consigo fazer isto?”

 Tente:

“Qual a melhor maneira de fazer com que isto resulte?”

Lembre-se, as emoções são contagiosas. Em todos os encontros há uma transmissão de estados de espírito de forma bidirecional, dado que cada um emite um sinal emocional que afeta quem estiver por perto.

Neste sentido, quanto mais confiante e positivo estiver, mais vibrações positivas espalhará pelo mundo, fazendo com que aqueles que se encontram ao seu redor sejam positivamente influenciados por estas. Este pode ser um fator determinante para o seu desempenho e satisfação tanto pessoal como profissional.

Ao desenvolver a sua inteligência emocional, quer através das técnicas apresentadas ao longo da presente formação, quer através de outras metodologias por si escolhidas, começará a conhecer-se cada vez melhor. O que lhe permitirá conhecer e tirar partido do seu verdadeiro potencial que é, como poderá constatar com o passar do tempo, infinito.

 

 

A vida é um conjunto de experiências que nos permite evoluir e crescer como seres humanos, em todas as dimensões. Aprenda a tirar partido de cada uma delas e contribua para tornar este mundo mais positivo e mais harmonioso, um passo de cada vez, mas sem nunca desistir.