AMV – Nutrição Animal

Índice

1 – Nutrição Animal

1.1 – Requisitos Nutricionais

1.1.1 – Proteínas

1.1.2 – Hidratos de Carbono

1.1.3 – Gorduras

1.1.4 – Vitaminas

1.1.5 – Minerais

1.1.6 – Água

2 – Nutrição entre Espécies

2.1 – Nutrientes Essenciais

3 – Suporte Nutricional do Paciente Hospitalizado

3.1 – Então QUEM e QUANDO devemos Alimentar?

3.2.1 – Necessidades Proteicas

3.2.2 – Necessidades em Micronutrientes

3.3 – Nutrição Entérica

 

1. Nutrição Animal

A nutrição abrange o estudo dos elementos que constituem os alimentos e os processos pelos quais o organismo digere, metaboliza, absorve e elimina os nutrientes obtidos por via da alimentação para depois os relacionar com a saúde dos indivíduos, o seu crescimento, reprodução e manutenção das funções vitais.

Assim como os humanos, os animais precisam de uma variedade de nutrientes essenciais para crescer, desenvolver-se e manter a sua saúde, aumentando assim a sua longevidade.

 

1.1 Requisitos Nutricionais

Desta forma, podemos identificar os principais requisitos nutricionais.

1.1.1 Proteínas

As Proteínas são essenciais para a construção e reparação de tecidos, bem como manutenção da musculatura, além de desempenharem funções importantes no sistema imunológico, enzimático e hormonal.

 

1.1.2 Hidratos de Carbono

Os Hidratos de Carbono são responsáveis por fornecer energia, que é crucial para a atividade física e para as funções metabólicas do corpo. Também desempenham um papel na saúde digestiva, especialmente em animais herbívoros.

 

1.1.3 Gorduras

As Gorduras são uma fonte concentrada de energia e são essenciais para a absorção de vitaminas lipossolúveis, além de desempenharem papéis estruturais nas membranas celulares.

 

1.1.4 Vitaminas

As Vitaminas, como por exemplo, A, D, E, K, C e várias vitaminas do complexo B, são nutrientes orgânicos necessários em pequenas quantidades para várias funções metabólicas e fisiológicas.

 

1.1.5 Minerais

Como por exemplo, o Cálcio, Fósforo, Potássio, Sódio, Magnésio, Ferro e Zinco, são elementos inorgânicos necessários para várias funções corporais, como formação dos ossos e dentes, equilíbrio eletrolítico, contração muscular e função do sistema nervoso.

 

 

1.1.6 Água

A Água é essencial para todas as formas de vida e desempenha uma variedade de funções no corpo, incluindo o transporte de nutrientes, a regulação da temperatura corporal, a eliminação de resíduos e a lubrificação das articulações.

Apresentar uma dieta equilibrada é muito importante para a saúde, pois deve fornecer-se a quantidade certa de cada nutriente tendo em conta as necessidades individuais e fatores como a idade, tamanho, nível de atividade e condições médicas de cada animal.

 

1.2 A Nutrição ao longo do Crescimento

A nutrição ao longo do crescimento é crucial para garantir um desenvolvimento saudável e adequado.

 

:: FASE JÚNIOR

Na fase júnior, os bebés estão em rápido crescimento e têm altas necessidades nutricionais. Estes precisam de uma dieta rica em proteínas de alta qualidade para suportar o desenvolvimento muscular e ósseo.

Além disso, precisam ainda de calorias extra para sustentar seu rápido crescimento. Alimentos formulados especificamente para animais em idade júnior geralmente fornecem os nutrientes necessários nesta fase.

 

:: FASE ADULTA

Uma vez que o animal atinge a maturidade (fase adulta), as suas necessidades nutricionais mudam. Uma dieta que forneça proteínas, gorduras, hidratos de carbono, vitaminas e minerais em quantidades adequadas é importante para manter a saúde e o peso corporal ideal. A quantidade de alimento pode precisar de ser ajustada com base no nível de atividade, tamanho e condição física do animal.

 

:: FASE SÉNIOR

À medida que os animais envelhecem (fase sénior), as suas necessidades nutricionais podem mudar novamente. Alguns animais seniores podem precisar de dietas com menos calorias para evitar o ganho de peso excessivo, enquanto outros podem precisar de suplementos específicos para problemas de saúde relacionados com a idade, como a artrite ou problemas renais.

As dietas formuladas para estes animais muitas vezes contêm ingredientes que suportam a saúde articular e a função cognitiva.

 

2. Nutrição entre Espécies

As diferenças de nutrição entre cães e gatos são substanciais devido às suas origens, evolução e fisiologia.

 

Relativamente à sua classificação alimentar, os cães são carnívoros facultativos, o que significa que, embora prefiram carne, podem digerir e utilizar nutrientes de fontes vegetais. Têm por isso dietas mais flexíveis.

 

Já os gatos são carnívoros obrigatórios, e por este motivo necessitam de uma dieta predominantemente baseada em carne. Estes têm requisitos específicos que só podem ser preenchidos por proteínas animais.

 

2.1 Nutrientes Essenciais

Relativamente aos nutrientes essenciais:

 

:: PROTEÍNAS e AMINOÁCIDOS

No caso das proteínas e aminoácidos, os cães precisam de proteínas de alta qualidade, no entanto podem tolerar proteínas vegetais. Conseguem também sintetizar alguns aminoácidos essenciais a partir de precursores dietéticos.

 

Já os felinos necessitam de uma quantidade maior de proteínas e alguns aminoácidos essenciais, como a taurina, que é encontrada quase exclusivamente em tecidos animais. A deficiência de taurina pode levar a problemas cardíacos e visuais graves.

 

:: GORDURAS e ÁCIDOS GORDOS ESSENCIAIS

Relativamente a gorduras e ácidos gordos essenciais, nos cães, as gorduras são uma fonte importante de energia. Desta forma precisam de ácidos gordos essenciais como o Ómega-6 e Ómega-3, que podem ser obtidos a partir de fontes animais e vegetais.

 

Já os gatos necessitam de gorduras para obter energia e também de ácidos gordos essenciais, principalmente de Ácido Araquidónico (encontrado apenas em gorduras animais), que é vital para muitas funções biológicas.

 

:: HIDRATOS de CARBONO

Relativamente aos hidratos de carbono, os cães podem digerir e utilizar hidratos de carbono como fonte de energia. Possuem enzimas digestivas como a amílase salivar, que ajuda na digestão de amidos.

Já os gatos têm uma capacidade limitada de digerir hidratos de carbono e não possuem amílase salivar. Dependem principalmente de proteínas e gorduras para obter energia.

 

:: VITAMINAS

Os cães podem sintetizar a Vitamina A a partir de betacarotenos que se encontram presentes nas plantas. Necessitam também de vitaminas do complexo B na sua dieta.

 

Os gatos não podem converter betacarotenos em Vitamina A e, portanto, precisam de vitamina A preformada, encontrada nos tecidos animais. Estes também têm necessidades específicas de Niacina (Vitamina B3) e Vitamina B6 em maiores quantidades do que os cães.

 

:: MINERAIS

Ambos, cães e gatos, precisam de minerais como o cálcio, fósforo, magnésio e potássio, no entanto, as quantidades e proporções variam. Os gatos, por exemplo, têm uma necessidade mais alta de cálcio em comparação com os cães.

 

:: FIBRA

Os cães beneficiam de uma quantidade moderada de fibra na dieta para a saúde digestiva.

 

Já os gatos, geralmente necessitam de menos fibra, pois o seu sistema digestivo é adaptado para uma dieta rica em proteínas e gorduras, com menos matéria vegetal.

 

Existem várias dietas no mercado que podem ser administradas e utilizadas, no entanto as dietas BARF (Biologically Appropriate Raw Food), Grain Free e dietas naturais têm vindo a ganhar bastante força e fama relativamente às dietas convencionais para cães e gatos. No entanto, estas diferem significativamente na sua composição, preparação e teor nutricional.

 

A escolha entre dietas pode depender dos objetivos de saúde do animal, preferências pessoais do dono e questões práticas como custo e conveniência das mesmas.

 

3. Suporte Nutricional do Paciente Hospitalizado

Nos pacientes críticos as substâncias responsáveis por mediar o estado metabólico são hormonas como os glucocorticoides, catecolaminas, citocinas e outras, que são libertadas devido à lesão dos tecidos, agentes infeciosos e inflamação e não devido à simples falta de comida (estado de catabolismo).

 

No paciente crítico o perigo de vida não recai na falta de energia, mas sim na falta de aminoácidos, pois estes são necessários para a síntese de proteínas de defesa como as imunoglobulinas, fatores de coagulação e proteínas inflamatórias.

Desta forma, o suporte nutricional não elimina o estado catabólico, mas vai amenizar os efeitos secundários e auxiliar o paciente no processo de recuperação, mantendo os tecidos endógenos.

 

3.1 Então QUEM e QUANDO devemos Alimentar?

Devemos alimentar os pacientes que:

  • Tenham tido mudanças no tipo de dieta e não se tenham adaptado à mesma;
  • Pacientes que apresentem hiporexia (falta de apetite) voluntária ou involuntária;
  • Mantenham uma perda de peso ao longo do tempo;
  • Apresentem consequências da subnutrição;
  • Apresentem uma doença adjacente;
  • Se encontram malnutridos antes do início da doença atual;
  • Conseguimos antecipar uma anorexia de mais de 3-5 dias (característico da pancreatite);
  • Estavam bem nutridos, mas que desenvolveram ou correm o risco de desenvolver complicações graves (lipidose hepática em animais obesos, peritonite séptica, pneumonia por aspiração, entre outros).

 

Se o apetite está diminuído, mas o animal ainda come voluntariamente, devemos medir o consumo diário durante um dia para determinarmos a quantidade de suplementação a dar e para que tal aconteça temos de determinar o aporte calórico ideal par o paciente utilizando fórmulas específicas.

Se o animal está num estado caquético e apresenta uma doença grave, este tem obrigatoriedade e prioridade em ser nutrido o mais rapidamente possível.

 

Nos restantes animais, há que avaliar as vantagens e desvantagens do suporte nutricional, tendo em consideração que este deve ser iniciado assim que os sinais clínicos o permitirem.

A necessidade energética é calculada por dia e contempla a energia necessária para os processos básicos de vida, como a assimilação de nutrientes, termorregulação, atividade física e até o repouso, no entanto existem riscos de sobredosagem que podem provocar hiperglicemias, falência hepática, vómitos, diarreia e desequilíbrios eletrolíticos.

 

3.2 NER – Necessidade Energética de Repouso

NER para cães e gatos dos 2kg aos 30kg

 

NER <2kg e >30kg

 

Para calcular a % da NER por dia

 

3.2.1 Necessidades Proteicas

As necessidades proteicas dos pacientes críticos são muito superiores às de um animal saudável. Estes pacientes necessitam de uma proteína altamente digerível com uma concentração adequada de todos os aminoácidos. Fontes de proteína animal como o ovo e proteína do leite preenchem esse critério.

 

Deste modo, devemos utilizar dietas comerciais da gama de veterinária adequadas para animais convalescentes.

No entanto existem exceções: pacientes com patologias renais ou hepáticas que não toleram elevados níveis de proteína e nesse caso, devemos fornecer meios para eliminar a ureia e a amónia resultante do metabolismo das proteínas.

 

3.2.2 Necessidades em Micronutrientes

Os pacientes críticos possuem reservas de vitaminas, ácidos gordos e minerais para sobreviver durante meses, no entanto as Vitaminas Hidrossolúveis, como as vitaminas do complexo B são muito instáveis.

 

3.3 Nutrição Entérica

Quando falamos em nutrição entérica, podemos distinguir as diferentes formas de nutrição, como:

  • A alimentação assistida;
  • Estimulação química;
  • Entubação naso-esofágica;
  • Entubação por faringostomia;
  • Entubação por esofagostomia (Entubação esofágica gato);
  • Gastrostomia;
  • Enterostomia.

 

É importante manter uma alimentação entérica o mais cedo possível para impedir a translocação bacteriana, a absorção de endotoxinas e o desenvolvimento de sépsis.

 

A escolha do método será baseada no estado nutricional do animal, estado geral de saúde, tempo estimado de suporte nutricional e tolerância à anestesia.

 

Todo o tipo de procedimentos que impliquem a entubação ou pequenas cirurgias são à base de dietas líquidas próprias.

 

Tem por isso de existir um plano alimentar rigoroso que cumpra com as necessidades nutricionais do paciente crítico e profissionais altamente responsáveis por tais alimentações, tendo sempre o cuidado de fazer, não só o registo das mesmas (quantidade e periodicidade das alimentações), como também a administração de água antes e após a alimentação para lavagem do tubo e para que desta forma não fiquem resíduos acumulados que possam provocar outras complicações.