AMV – Anatomia e Fisiologia Animal

Índice

1 – Introdução

1.1 – Anatomia e Fisiologia Veterinária

1.1 – Pontos de Referência do Corpo Animal

2 – Sistema Musculoesquelético

2.1 – Osteologia

3 – Esqueleto Axial

3.1 – Principais Ossos da Cabeça

3.2 – Ossos da Coluna Vertebral

3.3 – Ossos da Caixa Torácica

4 – Esqueleto Apendicular

4.1 – Principais Ossos da Cintura e Membros Torácicos

4.2 – Principais Ossos da Cintura e Membros Pélvicos

5 – Miologia

5.1 – Classificação dos Músculos

5.2 – Principais Grupos Musculares

6 – Esplancnologia

6.1 – Sistema Nervoso

6.2 – Sistema Respiratório

6.3 – Sistema Cardiovascular

6.4 – Sistema Digestivo

6.5 – Sistema Urinário

6.6 – Sistema Reprodutor

6.7 – Órgãos Endócrinos

 

1. Introdução

1.1. Anatomia e Fisiologia Veterinária

A anatomia e a fisiologia veterinária são campos da ciência que se concentram no estudo da estrutura e função dos organismos animais.

anatomia centra-se na estrutura física dos animais. Isso inclui o estudo dos sistemas musculoesquelético, cardiovascular, respiratório, digestivo, nervoso, urinário, reprodutivo e outros sistemas específicos de cada espécie animal. A compreensão da anatomia é essencial para diagnóstico, cirurgia, tratamento e outras práticas veterinárias.

 

fisiologia concentra-se na função dos sistemas e órgãos dentro do corpo. Isso inclui o estudo dos processos bioquímicos, metabólicos e físicos que ocorrem nos organismos vivos. Compreender a fisiologia é crucial para entender como o corpo dos animais responde a estímulos internos e externos, regula processos corporais, mantém a homeostase e realiza funções vitais.

Além de aplicar o conhecimento em práticas clínicas, a anatomia e fisiologia veterinárias também são áreas de pesquisa ativa. A pesquisa nessas áreas pode levar a avanços no entendimento de doenças, desenvolvimento de novos tratamentos, melhoria da saúde e bem-estar dos animais, e contribuições para a medicina veterinária como um todo.

 

1.1 Pontos de Referência do Corpo Animal

Para se poder descrever com precisão a localização de estruturas dentro do corpo de um animal, tanto em termos da sua posição relativa ao plano do corpo quanto à sua proximidade com pontos de referência específicos (como a cabeça, a cauda ou o tronco) podemos dividir o mesmo por quadrantes e ainda associar os termos cranial/caudal e proximal/distal.

 

:: PLANO CRANIAL/CAUDAL
Esses termos são usados para descrever direções no corpo do animal. “Cranial” refere-se à parte da frente ou cabeça do animal, enquanto “caudal” refere-se à parte traseira ou cauda do animal. Por exemplo, ao descrever a localização de um órgão dentro do corpo, podemos dizer que está localizado mais cranialmente (mais próximo da cabeça) ou mais caudalmente (mais próximo da cauda).

:: PLANO PROXIMAL/DISTAL
Estes termos são usados principalmente para descrever a localização de estruturas dentro de membros ou apêndices. “Proximal” refere-se à parte mais próxima do ponto de origem ou do tronco do corpo, enquanto “distal” refere-se à parte mais afastada do ponto de origem ou mais distante do tronco do corpo.

Por exemplo, ao descrever uma fratura em um osso de uma perna, podemos dizer que a fratura está mais proximal (mais próxima do corpo) ou mais distal (mais distante do corpo).

Os termos “medial”, “lateral”, “dorsal” e “ventral” são utilizados para descrever a posição e a direção das estruturas anatómicas em relação ao eixo central do corpo, por exemplo:

:: PLANO MEDIAL
Refere-se à direção mais próxima do plano médio do corpo, que é um plano vertical que divide o corpo em duas metades iguais, direita e esquerda. Portanto, “medial” indica que uma estrutura está mais próxima do plano médio. Por exemplo, o dedo mindinho é mais medial do que o polegar em uma mão.

:: PLANO LATERAL
Refere-se à direção para longe do plano médio do corpo. É o oposto de “medial“. Então, “lateral” indica que uma estrutura está mais distante do plano médio. Por exemplo, os olhos estão localizados lateralmente em relação ao nariz.

:: PLANO DORSAL
Refere-se à parte superior ou posterior do corpo, frequentemente associada às costas ou à região superior do tronco. Em animais quadrúpedes, a parte superior das patas ou membros também é considerada dorsal. Por exemplo, a parte de trás da mão ou do pé é a superfície dorsal.

 :: PLANO VENTRAL
Refere-se à parte inferior ou anterior do corpo, frequentemente associada ao abdómen ou à região frontal do tronco. Em animais quadrúpedes, a parte inferior das patas ou membros é considerada ventral. Por exemplo, a parte da frente da mão ou do pé é a superfície ventral.

Esta terminologia é fundamental para a comunicação eficaz na anatomia veterinária e na prática em clínica veterinária.

 

2. Sistema Musculoesquelético

2.1. Osteologia

Os ossos são órgãos vivos, irrigados por vasos sanguíneos e vasos linfáticos e apresentam uma rede nervosa.

São assim constituídos por: matéria orgânica – matriz orgânica e substância intercelular mineralizada. A porção orgânica do osso é responsável pela sua resistência e elasticidade e a porção mineralizada é responsável pela dureza e rigidez.

 

As principais funções dos ossos e do esqueleto são:

  • Dar forma ao corpo animal;
  • Servem de suporte para músculos e outros tecidos (conjuntivo, adiposo, etc.);
  • Servem de proteção a determinados órgãos vitais (cavidade torácica, cérebro …);
  • Servem de depósito de minerais (principalmente cálcio e fósforo), que podem assim ser mobilizados ou armazenados pelo organismo;
  • Formação de células sanguíneas (função da medula óssea);
  • Intervêm como auxiliares da locomoção.

 

Quanto à sua morfologia podemos falar de:

:: OSSOS LONGOS ou COMPRIDOS – Atuam como alavancas e têm papel importante no movimento do corpo (úmero, rádio, ulna, metacarpo, fémur, …).

:: OSSOS ALONGADOS – Distinguem-se dos anteriores por não apresentarem cavidade medular (costelas, fíbula, clavícula dos primatas, …).

 :: OSSOS PLANOS ou CHATOS – Ossos planos e finos, com funções de proteção de órgãos vitais (alguns ossos do crânio, escápula, …).

:: OSSOS CURTOSOssos onde não se identifica o predomínio de qualquer dimensão: comprimento, largura e espessura são idênticos. Têm como principal função a absorção de choques violentos (ossos do carpo e do tarso, …).

:: OSSOS IRREGULARESOssos de forma irregular, com diversas funções. Situados geralmente no plano médio (vértebras e alguns ossos craniais, …).

:: OSSOS SESAMOIDES Forma semelhante à semente de sésamo (patela ou rótula, ossos sesamoides da face palmar, …).

 

O esqueleto é o conjunto de ossos que dá forma ao corpo e pode ser dividido em duas partes: o axial e o apendicular, sendo que o esqueleto axial diz respeito aos ossos da cabeça, da coluna vertebral e da caixa torácica e o apendicular diz respeito aos membros torácicos e pélvicos.

 

3. Esqueleto Axial

3.1. Principais Ossos da Cabeça

Os ossos da cabeça são a parte do esqueleto responsável pela proteção do encéfalo, pela sustentação dos órgãos sensoriais (visão, audição, gosto e olfato) e pela abertura das vias por onde se iniciam os aparelhos digestivo e respiratório.

Desta forma são divididos entre ossos craniais, constituídos pelos ossos occipital, parietais, frontais, temporais, esfenoide e etmoide, e ossos faciais que se distribuem pela região orbital, nasal e bucal.

 

Os mais evidentes são:

:: Região Orbital: Ossos frontais, lacrimais e zigomáticos ou malares – formam a órbita.

:: Região Nasal: Ossos nasais, maxilares, incisivos e palatinos – rodeiam dorsal, lateral e ventralmente as vias aéreas da região nasal (seios nasais p. ex.).

:: Região Bucal: Maxilares, incisivos, palatinos e mandíbula.

 

3.2 Ossos da Coluna Vertebral

A coluna vertebral é formada por um conjunto de ossos irregulares chamados vértebras. Cada espécie animal apresenta uma fórmula vertebral típica, quer isto dizer que cada espécie apresenta um número específico de vértebras cervicais (C), torácicas ou dorsais (T), lombares (L), sacras ou sagradas (S) e coccígeas ou caudais (Co).

 

Analisando a morfologia de uma vértebra, esta é constituída pelo processo ou apófise espinhosa, processo ou apófise transversa, apófise caudal, forame ou forâmen (buraco) vertebral e corpo da vértebra. É através do forâmen vertebral que passa a medula. Ainda assim, as vértebras ao longo do esqueleto vão alterando a sua forma anatómica.

 

Começando pelas vértebras cervicais, estas apresentam processos ou apófises articulares bem desenvolvidas e processos ou apófises espinhosas e transversas pouco desenvolvidas, o que permite os movimentos amplos, típicos da região cervical, no entanto, as duas primeiras vértebras cervicais são distintas e apresentam características particulares, sendo estas o Atlas e o Áxis.

 :: ATLAS
É a primeira vértebra cervical, com a apófise espinhosa atrofiada. Apresenta duas cavidades articulares que lhe permitem a articulação com o occipital.

 :: ÁXIS
É a segunda vértebra cervical, com uma apófise espinhosa volumosa, mas pouco proeminente. Apresenta uma estrutura óssea denominada dente do áxis ou processo odontoide, a qual lhe permite efetuar movimentos de rotação com o conjunto cabeça/atlas.

 

Já as vértebras torácicas distinguem-se dos outros tipos de vértebras por apresentarem processos ou apófises espinhosas bem desenvolvidas. Estas vértebras articulam-se também com as costelas, através de superfícies articulares denominadas facetas articulares.

As vértebras lombares apresentam processos ou apófises transversas planas e bem desenvolvidas, projetadas lateralmente. Os processos ou apófises transversas vão aumentando de tamanho até à quarta vértebra, diminuindo depois até à última lombar. Os processos ou apófises espinhosas são semelhantes em dimensão às das últimas vértebras torácicas.

As vértebras sagradas são fundidas num osso único, o sacro, que se articula com a última vértebra lombar e a primeira coccígea, além de se articular lateralmente com a asa do íleo. À medida que se caminha para a última vértebra sagrada, os processos ou apófises vão diminuindo de tamanho até deixarem de possuir o forâmen vertebral.

Por último, as vértebras coccígeas ou caudais formam a estrutura óssea da cauda. O seu número varia de espécie para espécie e até dentro da mesma espécie. O tamanho destas vértebras decresce rapidamente, sendo as últimas diminutas peças ósseas cilíndricas, sem forâmen vertebral.

 

3.3 Ossos da Caixa Torácica

A caixa torácica é formada por um conjunto de ossos alongados denominados costelas, e outro de ossos curtos reunidos no esterno, as estérnebras. As costelas, delimitando lateralmente a cavidade torácica, têm uma parte dorsal óssea (costela óssea) e uma parte ventral cartilagínea.

Cada costela é constituída por uma extremidade dorsal ou vertebral, um corpo e uma extremidade ventral.

Apesar de todas as costelas se articularem dorsalmente com a coluna vertebral, na sua porção ventral elas podem:

  • Ligar-se diretamente ao esterno via cartilagem costal – costelas esternais;
  • Ligar-se indiretamente ao esterno através de uma ponte de tecido cartilagíneo – costelas asternais;
  • Não se ligarem ao esterno, apresentando a sua porção ventral livre – costelas flutuantes – estas são pouco comuns nos animais domésticos de interesse zootécnico.

Já o esterno é subdividido em três estruturas: ponta ou manúbrio, corpo, a porção média e apêndice ou processo xifóide.

 

4. Esqueleto Apendicular

Como vimos anteriormente, o esqueleto apendicular é uma parte importante do sistema esquelético. Tem esta denominação pois inclui os apêndices ou membros do corpo, em oposição ao esqueleto axial, que é composto pela coluna vertebral, crânio e costelas.

 

4.1. Principais Ossos da Cintura e Membros Torácicos

Os ossos da cabeça são a parte do esqueleto responsável pela proteção do encéfalo, pela sustentação dos órgãos sensoriais (visão, audição, gosto e olfato) e pela abertura das vias por onde se iniciam os aparelhos digestivo e respiratório.

:: ESCÁPULA

  • A cintura torácica é constituída pelas escápulas (ou omoplatas);
  • Encontram-se encostadas à parte cranial da parede torácica lateral;
  • São ossos planos;
  • Apresentam um relevo não articular disposto longitudinalmente na sua face lateral, a espinha escapular;
  • A espinha da escápula limita duas depressões: a fossa supraespinhosa e a fossa infraespinhosa;
  • A face medial da escápula é constituída pela fossa subescapular.

:: ÚMERO

  • Osso mais dorsal do membro torácico ou anterior;
  • Articula-se com a escápula;
  • Osso longo;
  • Apresenta na sua extremidade proximal uma cabeça articular e dois relevos não articulares;
  • Tubérculo maior e tubérculo menor;
  • Distalmente, articula-se com o rádio e a ulna (ou cúbito).

:: RÁDIO e ULNA

  • O rádio é um osso longo;
  • Mais desenvolvido que a ulna;
  • Os suínos apresentam uma ulna bastante desenvolvida;
  • A ulna apresenta uma protuberância na sua extremidade proximal chamada de olecrânio.

 

:: CARPO, METACARPO e FALANGES

 CARPO

  • O rádio articula-se com os ossos da fileira proximal do carpo;
  • A região do carpo é constituída por duas fileiras (proximal e distal) de ossos curtos e pares;
  • Os ossos do carpo articulam-se entre si e a extremidade proximal dos ossos da fileira proximal articula-se com o rádio;
  • A extremidade distal dos ossos da fileira distal articula-se com os ossos do metacarpo.

METACARPO

  • Apresenta um número variável de ossos, de acordo com a espécie animal: os bovinos e ovinos têm 2 ossos metacarpianos fundidos, os equinos têm 3 metacarpianos (dos quais o central é o mais desenvolvido) e os suínos 4 (os 2 centrais são os mais desenvolvidos);
  • São ossos longos;
  • Através da sua epífise distal, o(s) osso(s) do metacarpo articula(m)-se com as falanges proximais.

 FALANGES

  • As falanges proximais articulam-se com as falanges médias e estas com as distais;
  • Consoante a espécie em estudo, assim varia o número de dedos.

 

4.2 Principais Ossos da Cintura e Membros Pélvicos

A cintura pélvica é constituída por três peças ósseas: o íleo, o ísquio e o púbis. A união entre os dois membros posteriores é feita através da sínfise pélvica ou púbica ao longo de toda a extensão do bordo mediano dos ossos ísquio e púbis.

 

:: FÉMUR

  • Osso longo;
  • Articula-se através do acetábulo;
  • Apresenta uma cabeça articular que se articula com o acetábulo;
  • Apresenta uma saliência não articular disposta lateralmente, o trocânter maior;
  • Distalmente, o fémur apresenta acidentes ósseos articulares que lhe permitem articular-se com a tíbia e a patela (ou rótula).

 

:: JOELHO

  • A articulação do joelho é considerada uma articulação sinovial composta;
  • É constituída por uma cavidade e uma cápsula articular, líquido sinovial, cartilagem articular, osso subcondral e estruturas intraarticulares, como os meniscos medial e lateral, o ligamento menisco-femoral, os ligamentos cruzados craniais e caudais, o tendão do músculo extensor longo dos dígitos e parte da gordura infra patelar.

 

:: TÍBIA e PERÓNIO

  • Ossos longos.
  • É um osso volumoso, que na sua epífise proximal se articula com a epífise distal do fémur e com a patela;
  • Apresenta na porção proximal do bordo cranial um relevo ósseo longitudinal, não articular, chamado crista tibial ou crista da tíbia;
  • Na sua epífise distal, a tíbia articula-se com a região társica, através do astrágalo;
  • A fíbula (ou perónio) localiza-se lateralmente em relação à tíbia e articula-se a esta na sua epífise proximal;
  • Em alguns animais é bem desenvolvida (p. ex. suínos) e noutros não (p. ex. equinos e ruminantes) podendo não acompanhar a tíbia até à sua epífise distal.

 

:: TARSO, METATARSO e FALANGES

  • É constituída por duas fileiras (proximal e distal) de ossos curtos;
  • Os dois ossos da fileira proximal mais volumosos designam -se por astrágalo (talus) e calcâneo. O astrágalo articula -se com a tíbia e com o calcâneo.
  • Na fileira distal encontram – se o osso central (ou navicular ou escafoide) e os ossos tarsais I a IV;
  • Em algumas espécies alguns deles estão juntos;
  • Os ossos do tarso articulam -se entre si e a extremidade distal dos ossos da fileira distal articula -se com os ossos do metatarso;
  • O metatarso apresenta um número variável de ossos, de acordo com a espécie animal:
    • Bovinos e ovinos: 2 ossos metatarsianos fundidos
    • Equinos: têm 3 metatarsianos (dos quais o central é o mais desenvolvido)
    • Suínos: 4 (os 2 centrais são os mais desenvolvidos)

 

  • São ossos longos;
  • Através da sua epífise distal, o(s) osso(s) do metatarso articula(m) -se com as falanges proximais;
  • As falanges proximais articulam-se com as falanges médias, as quais se articulam com as falanges distais;
  • Tal como acontece na mão, consoante a espécie em estudo assim varia o número de dedos: um (solípedes) dois (ruminantes) e quatro (suínos).

 

5. Miologia

A miologia é o ramo da anatomia que se dedica ao estudo dos músculos, incluindo a sua estrutura, função, organização, localização e relação com outras estruturas do corpo. O termo “miologia” vem do grego “mys“, que significa “músculo“, e “logia“, que significa “estudo” ou “ciência”.

Os músculos são órgãos constituídos por tecido muscular, especializado em contrair e realizar movimentos em resposta a um estímulo nervoso e por esta razão desempenham um papel fundamental no movimento do corpo, desde a locomoção até a realização de atividades do dia-a-dia.

As células musculares são denominadas de fibras e tem como características: elasticidade, excitabilidade, contratilidade e capacidade de conduzir estímulos, tendo por isso a capacidade de estabilizar as articulações, manter a postura corporal, regular a temperatura corporal e movimentos involuntários, como por exemplo, os batimentos cardíacos.

 

5.1 Classificação dos Músculos

Quanto à classificação morfológica e funcional do músculo, podemos dizer que estes podem ser:

:: ESTRIADOS

  • São compostos por miócitos fusiformes e mononucleados;
  • Não possuem estrias transversais;
  • Têm movimento involuntário;
  • A sua contração é lenta e rítmica.

 

:: NÃO ESTRIADOS

  • ESTRIADOS CARDÍACOS
    • Miócitos alongados e possuem estrias transversais com ramificações;
    • Podem apresentar um ou dois núcleos centrais;
    • Produzem movimentos involuntários;
    • A sua contração é rápida, vigorosa e contínua.
  • ESTRIADOS ESQUELÉTICOS
    • Miócitos cilíndricos e longos;
    • Têm um grande número de estrias transversais e apresentam nucleação múltipla e periférica;
    • Produzem movimentos voluntários;
    • A sua contração é vigorosa e rápida.

 

Quanto à morfologia de um músculo podemos dizer que este é composto por uma porção média, por extremidades e fáscias.

A porção média é composta pelo ventre muscular, caracteriza-se pelo seu aspeto carnoso e de cor bastante avermelhada. É responsável pela contração e relaxamento e por isso podemos dizer que é a parte “ativa” do músculo.

As extremidades podem conter tendões, em forma de fita ou corda e ricos em fibras de colagénio, e aponeuroses, em forma de lâmina (plana ou achatada) e caracterizadas por membranas fibrosas que revestem os grupos musculares. As extremidades são de difícil cicatrização, têm pouco aporte sanguíneo e são responsáveis pela conexão dos músculos com os ossos.

Por fim, as fáscias são os tecidos conjuntivos fibrosos que envolvem cada músculo; apresentam tamanhos e espessuras variáveis conforme a função muscular.

Facilitam o deslizamento dos músculos entre si evitando os deslocamentos bruscos e são ainda constituídas por uma bainha de contenção muscular responsável por uma contração muscular eficiente. Esta é ainda constituída pelo epimísio, perimísio e pelo endomísio.

Existem ainda estruturas acessórias que facilitam o deslizamento muscular, são essas as bainhas tendinosas (pontes pelas quais deslizam os tendões) e as bolsas sinoviais, que se encontram entre os ossos e os músculos.

 

Focando-nos no sistema músculoesquelético:

Os músculos esqueléticos, podem ser classificados de várias formas.

Quanto à sua morfologia, podemos ter:

:: Músculos Fusiformes: São músculos longos e em forma de fuso (ventre grosso arredondado e extremidades afiladas), com tendões em ambas as extremidades. Exemplos incluem o bíceps braquial, que é constituído por dois músculos com estas características.

:: Músculos Peniformes: São músculos que se assemelham a uma pena, com fibras dispostas num ângulo em relação ao tendão central. Podem ser unipenados ou semipeniforme, bipenados ou multipenados, como o músculo gastrocnémio (bipenado).

:: Músculos Planos ou paralelos: São músculos com fibras paralelas ao plano de ação, como o reto abdominal.

 

Podem ainda ter uma classificação específica relativamente à função que desempenham, ou seja, relativamente à forma como movimentam e posicionam o corpo. Desta forma podemos ter:

:: Músculos Agonistas (Principais): São os músculos responsáveis por um movimento principal e específico do corpo (exemplo: uma contração concêntrica ou movimento de uma determinada articulação).

:: Músculos Antagonistas: São os músculos que se opõem aos movimentos produzidos pelos agonistas. À medida que um agonista se contrai, o antagonista relaxa progressivamente, produzindo um movimento suave.

:: Músculos Sinergistas: São os músculos que ajudam e complementam a ação dos agonistas a produzir ou estabilizar um movimento.

:: Músculos Fixadores: São os músculos que estabilizam as partes proximais de um membro ou uma articulação para permitir que outros músculos produzam movimento, nas partes distais.

Quanto à sua localização podemos ainda denominar os músculos como axiais, que são os músculos que se localizam próximos ao eixo do corpo (como os músculos abdominais e dorsais) e como apendiculares, que são os músculos que se localizam nos membros, como os músculos dos braços e pernas.

De acordo com a ação que desempenham, estes podem classificar-se como:

:: Músculos Flexores: São os músculos que flexionam uma articulação.

:: Músculos Extensores: São os músculos que estendem uma articulação.

:: Músculos Pronadores: São os músculos que movem uma parte do corpo para dentro ou para baixo.

:: Músculos Supinadores: São os músculos que movem uma parte do corpo para fora ou para cima.

 

 

5.2 Principais Grupos Musculares

Os principais músculos do corpo animal variam dependendo da espécie e da função específica do animal, no entanto os principais grupos musculares comuns e de maior importância são:

 

:: MÚSCULOS do PESCOÇO e CABEÇA

– MÚSCULOS MASTIGATÓRIOS – Incluem os músculos temporal e masséter, responsáveis pela mastigação.

– ESTERNOHIODEO – Está disposto ventralmente ao pescoço e estreitamente associado à traqueia, e provoca a retração caudal do osso hioide e das estruturas relacionadas a ele (laringe, faringe e língua), participando na fase final da deglutição.

– BRAQUICEFÁLICO – Une a cabeça e também o pescoço com o membro anterior. Está dividido em duas partes pela interseção clavicular (resto vestigial da clavícula). Quando a cabeça e o pescoço estão fixos, o músculo é um potente extensor da articulação do ombro e flexor do membro torácico. Quando o membro está fixamente apoiado no solo, movimenta a cabeça e o pescoço lateral e ventralmente.

– ESTERNOCEFÁLICO – Origina-se, juntamente com o músculo contralateral, no manúbrio do esterno. Segue ascendente em direção à cabeça divide-se em duas porções: mastoidea e occipital. A parte occipital, insere-se na crista da nuca e a parte mastoidea, insere-se no processo mastoide do temporal. Flexiona o pescoço e move a cabeça para baixo. Se agir unilateralmente desvia a cabeça e o pescoço para o lado correspondente.

 

 

:: MÚSCULOS do TRONCO

Estendem-se ao longo da coluna vertebral e ajudam na manutenção da postura e movimentos do tronco, como por exemplo:

– LATÍSSIMO DORSAL – É o músculo mais largo das costas e é um músculo triangular que se encontra num plano caudal à escápula. Tem como função puxar o membro para frente e contra o tronco; apoiá-lo e puxá-lo para trás durante a flexão da articulação do ombro.

 

– PEITORAL PROFUNDO – Encontra-se revestido parcialmente pelos músculos peitorais superficiais. Origina-se ao longo do esterno e das cartilagens costais e insere-se nos tubérculos maior e menor do úmero. Tem importante participação na formação do aparelho suspensor do tronco. Retrai o membro e, com este fixo, propulsiona o tronco.

 

:: MÚSCULOS ABDOMINAIS

Uma das principais funções dos músculos abdominais é o suporte do peso das vísceras, pois são músculos com bastante flexibilidade e que permitem a adaptação da parede abdominal ao variável volume destas (por exemplo, após a ingestão de alimentos ou durante a gestação).

Os músculos do abdómen têm também função nas atividades fisiológicas tais como a defecação, micção e parto, pois geram pressão e contêm os órgãos abdominais e pélvicos.

Podem ser ainda considerados músculos expiratórios, pois pressionam as vísceras abdominais, o diafragma relaxa, e as costelas movem-se caudalmente, reduzindo assim o volume da cavidade torácica.

Desempenham também um papel importante na estabilização do tronco, mais especificamente, na coluna vertebral e ainda na locomoção.

– OBLÍQUO EXTERNO – Origina-se na face lateral das costelas e além de contribuir para a formação da parede abdominal lateral, também constitui a parede torácica. As funções deste músculo são específicas de todo o grupo de músculos abdominais.

– RETOS ABDOMINAIS – Músculos localizados na região abdominal anterior, responsáveis por fazer a flexão da coluna vertebral e comprimir a cavidade abdominal.

 

 

:: MÚSCULOS do MEMBRO ANTERIOR

– TRAPÉZIO– Localizado na parte superior do pescoço e na parte superior das costas, é responsável pela elevação e rotação da escápula.

– DELTOIDES– Localizado na região do ombro, é responsável por mover o braço em várias direções.

– BÍCEPS BRAQUIAL – Localizado na parte frontal do braço, é responsável por flexionar o cotovelo e levantar o antebraço.

– TRÍCIPS BRAQUIAL – Localizado na parte de trás do braço, é responsável por estender o cotovelo.

– MÚSCULOS do ANTEBRAÇO – Incluem o flexor e o extensor do carpo, responsáveis pelos movimentos do pulso e da “mão”.

 

 

:: MÚSCULOS do MEMBRO POSTERIOR

– GLÚTEOS (Superficial, Médio e Profundo) – Grupo muscular localizado na região dos quadris, e é responsável pela extensão da coxa.

– MÚSCULOS da COXA – Incluem o Quadríceps Femoral na parte frontal da coxa, responsável pela extensão do joelho e suporte do peso corporal, e os músculos Isquiotibiais (Semitendinoso e Semimembranoso) na parte posterior da coxa, responsáveis pela flexão do joelho e extensão do quadril.

– BÍCEPS FEMORAL – Encontra-se numa camada mais superficial da musculatura relativamente ao Quadríceps, no entanto, é também um músculo com elevada importância, pois é extensor de todo o membro, isto é, estende o quadril, o joelho e o tarso, além de abduzir o membro. A parte caudal do músculo atua, como flexor do joelho.

– GASTROCNÉMIO – Responsáveis pela flexão plantar do .

 

Sumariamente temos um esquema geral de toda a musculatura apresentada até agora:

 

6. Esplancnologia

A esplancnologia é o estudo das vísceras, ou seja, dos órgãos internos que se encontram nas cavidades corporais, como a cavidade torácica, abdominal e pélvica. Para além destes, aborda ainda o estudo dos diferentes sistemas do corpo relativamente à estrutura, localização, função e relação dos órgãos internos.

 

6.1 Sistema Nervoso

Alguns dos órgãos e sistemas abordados pela esplancnologia incluem o Sistema Nervoso.

O Sistema Nervoso estuda o cérebro e as células nervosas. Desempenha um papel fundamental na coordenação e controlo das funções do corpo, permitindo a comunicação entre diferentes partes do organismo e a resposta a estímulos internos e externos.

A unidade funcional do sistema nervoso é o neurónio que tem como função iniciar e propagar, além de interpretar e responder aos impulsos nervosos existentes em todo o organismo dos animais.

 

6.2 Sistema Respiratório

O Sistema Respiratório estuda os pulmões, brônquios, traqueia e estruturas relacionadas e envolvidas na respiração e trocas gasosas. É responsável pela absorção, transporte e expulsão de substâncias como o oxigénio e o dióxido de carbono.

Nas aves, os pulmões encontram-se unidos à caixa torácica através de um tecido conjuntivo. O seu diafragma é rudimentar, não possuem pleura e possuem brônquios primários que originam os sacos aéreos.

 

Já os peixes respiram através das guelras, que são bastante vascularizadas. É nestas estruturas que o oxigénio presente na água passa para o interior do corpo e que o dióxido de carbono que está no corpo do animal passa para a água.

 

6.3 Sistema Cardiovascular

O Sistema Cardiovascular estuda do coração, vasos sanguíneos e estruturas relacionadas que estão envolvidas na circulação sanguínea e transporte de nutrientes, oxigénio e resíduos metabólicos.

 

A nível da fisiologia do coração e da circulação sanguínea podemos identificar o sistema vascular – constituído por artérias, capilares e veias.

 

Os vertebrados possuem um sistema circulatório fechado: o coração encontra-se posicionado ventralmente e apresenta um número variável de cavidades. No entanto, existem diferenças anatómicas e fisiológicas observáveis de acordo com a espécie.

 

Ainda assim, e independentemente destas diferenças, o sangue chega às aurículas, passa para os ventrículos e sai do coração para os diferentes órgãos, circulando nas artérias, que se ramificam em arteríolas, as quais originam redes de capilares nos diferentes tecidos. Os capilares convergem e formam as veias fazendo com que o sangue retorne ao coração.

 

6.4 Sistema Digestivo

O Sistema Digestivo é responsável por processar os alimentos, extrair nutrientes essenciais e eliminar resíduos do corpo e por isso estuda órgãos e estruturas envolvidas neste processo, como a boca, a faringe, o esófago, o estômago, intestinos grosso e delgado e outros órgãos e glândulas anexas.

Podemos distinguir diferentes espécies animais com base no seu sistema digestivo relativamente à sua estrutura e funcionamento. Estes podem ser classificados como monogástricos, como é o caso dos carnívoros, omnívoros e alguns herbívoros, que apresentam um estômago simples, ou poligástricos, que na sua maioria são herbívoros e apresentam um estômago mais complexo.

 

:: SISTEMA DIGESTIVO MONOGÁSTRICO

:: SISTEMA DIGESTIVO POLIGÁSTRICO

 

6.5 Sistema Urinário

O Sistema Urinário desempenha um papel essencial na manutenção do equilíbrio hídrico e eletrolítico, na remoção de resíduos metabólicos e na regulação da pressão sanguínea e por isso estuda estruturas com esta função, como os rins, os ureteres, a bexiga e a uretra.

Os rins ajustam o volume e a concentração da urina de acordo com as necessidades do corpo. Isso é feito através da reabsorção seletiva de água e eletrólitos nos túbulos renais e ainda desempenham um papel crucial na regulação da pressão sanguínea, produzindo hormonas que controlam a vasoconstrição e a reabsorção de água e sódio.

 

6.6 Sistema Reprodutor

O Sistema Reprodutor é responsável pela reprodução e conservação das espécies. Diferencia-se entre o sexo masculino e feminino, apresentando órgãos especializados que produzem e transportam gametas (espermatozoides ou óvulos), como testículos, epidídimos, útero, ovários e trompas, bem como órgãos acessórios que facilitam o processo reprodutivo e o desenvolvimento fetal.


O ciclo reprodutivo feminino é caracterizado por mudanças cíclicas nos ovários e no útero. Durante o ciclo menstrual, ocorre a ovulação, isto é, um óvulo maduro desprende-se do ovário e o útero prepara-se para uma possível gravidez. Se a fertilização não ocorrer, o revestimento uterino é eliminado na menstruação. Muitas vezes o primeiro cio pode ser quase impercetível.

 

6.7 Órgãos Endócrinos

O estudo dos Órgãos Endócrinos compreende as glândulas endócrinas, como a tiroide, paratiroides, adrenal, hipófise e outras, e as suas funções relacionadas à produção e regulação de hormonas.