Índice
1 – Higiene Pessoal e Conceitos de Assepsia
1.1 – ACT – Condições Básicas de Higiene e Segurança no Trabalho
1.2 – Higiene Pessoal
1.2.1 – Higienização das Mãos
1.2.2 – Uso de Luvas
1.2.3 – Uniforme
1.2.4 – Higiene Respiratória
1.3 – Assepsia
2 – Rotinas de Limpeza e Cuidados com Animais Hospitalizados
2.1 – Higiene das Instalações
2.1.1 – Produtos de Limpeza e Desinfetantes
2.1.2 – Superfícies e Equipamento
2.2 – Rotinas de Limpeza e Cuidados com Animais Hospitalizados
2.2.1 – Lavagem da Roupa dos Animais
2.2.2 – Desinfeção de Equipamento Cirúrgico
2.3 – Gestão e Eliminação de Resíduos
2.3.1 – Classificação de Resíduos Hospitalares
3 – Segurança no Trabalho
3.1 – Perigo e Risco
3.1.1 – Riscos em Serviços Veterinários
1. Higiene Pessoal e Conceitos de Assepsia
A Higiene e Segurança no Trabalho é um conjunto de medidas preventivas adotadas pelas empresas e seus colaboradores que visam garantir a segurança e saúde de todos durante o trabalho.
A utilização de equipamentos de proteção individual (EPI) ou até a ventilação correta de um espaço são alguns exemplos de medidas de Higiene e Segurança no Trabalho.
1.1 ACT – Condições Básicas de Higiene e Segurança no Trabalho
Segundo o guia da Autoridade para as Condições de Trabalho, as condições básicas de Higiene e Segurança no Trabalho são as seguintes:
- Ventilação adequada de todos os espaços do local de trabalho e instalações;
- Condições térmicas adequadas às atividades desenvolvidas;
- Condições de iluminação ajustadas às tarefas;
- Limpeza das instalações e respetiva gestão de resíduos;
- Gestão, inspeção e manutenção de equipamentos de trabalho, redes e instalações;
- Sistemas de deteção e de segurança contra incêndio;
- Meios e equipamentos de primeiros socorros e assistência em caso de acidente;
- Gestão e organização da emergência;
- Instalações sanitárias, separadas por géneros, devidamente equipadas;
- Locais para guardar vestuário e pertences (vestiários equipados com cacifos), em particular quando a atividade a desenvolver implique a utilização de fardamento e equipamentos de proteção individual (EPI);
- Locais para a realização de refeições.
1.2 Higiene Pessoal
No entanto, todo este trabalho começa a partir de casa e da consciencialização do próprio indivíduo, como a higiene pessoal. Esta, para além de ser crucial no dia-a-dia, é também um dos pilares da prevenção de doenças iatrogénicas no ambiente veterinário.
1.2.1 Higienização das Mãos
Comecemos pela lavagem das mãos.
A higienização das mãos é a medida individual mais simples e menos dispendiosa para prevenir a propagação das infeções nos serviços de saúde.
Os produtos mais eficazes na redução do número de bactérias das mãos são (por ordem decrescente) as preparações alcoólicas para fricção das mãos, os sabões antimicrobianos e os sabões simples.
Esta eficácia está dependente da quantidade de produto utilizado e da duração do procedimento de higienização.
Devemos lavar as mãos com água e sabão líquido contido em dispensador quando estas:
- Estejam visivelmente sujas;
- Se encontrem contaminadas com matérias orgânicas;
- Quando exista exposição a organismos potencialmente formadores de esporos;
- Ou depois de usar os sanitários.
Devemos friccionar as mãos com uma preparação alcoólica adaptada mesmo que as mãos não estejam visivelmente sujas e nas seguintes situações clínicas:
- Antes e depois de ter contacto direto com pacientes;
- Depois de remover as luvas;
- Antes de manusear um dispositivo invasivo, usando-se ou não luvas;
- Depois do contacto com matéria orgânica;
- No cuidado ao paciente, quando se passa de uma área do corpo contaminada para uma área limpa;
- Depois de entrar em contacto com objetos inanimados incluindo equipamento médico.
Devemos lavar as mãos com água e um sabão simples ou antimicrobiano ou friccioná-las com uma preparação alcoólica antes de manipular medicamentos ou outros produtos de saúde.
Quando já se tenham friccionado as mãos com uma preparação alcoólica não usar concomitantemente sabão antimicrobiano.
1.2.2 Uso de Luvas
O uso de luvas é recomendado por duas razões:
- Prevenir transmissão de microrganismos patogénicos através das mãos dos profissionais de saúde aos animais ou entre pacientes;
- Reduzir o risco de aquisição de infeções através do doente.
No entanto, a utilização de luvas não substitui a limpeza das mãos por fricção ou lavagem.
Devemos utilizar luvas sempre que:
- Se preveja o contacto com sangue ou outros materiais potencialmente infeciosos, mucosas ou pele não intacta.
- Descartar as luvas depois de ter atendido um doente.
- Não usar o mesmo par de luvas para atender mais que um paciente, nem reutilizá-las.
- Descartar as luvas de acordo com a legislação em vigor para gestão de resíduos de risco biológico.
Idealmente devemos manter as unhas naturais com pequena dimensão e sempre limpas e não devemos usar peças ou joalharia como adornos.
1.2.3 Uniforme
O uniforme também deve ser trocado diariamente e mantido limpo. Um uniforme sujo pode ser também uma fonte de infeção.
1.2.4 Higiene Respiratória
Além disso, a higiene respiratória é também bastante importante. Devemos utilizar máscaras e cobrir a boca para prevenir a disseminação de patógenos, principalmente se estivermos doentes.
1.3 Assepsia
Resumidamente e ao falarmos de todos estes pontos focamo-nos numa nomenclatura bastante importante que é a assepsia. Esta significa ausência de microrganismos patogénicos e é um conceito essencial em procedimentos clínicos e cirúrgicos.
Como já mencionamos, as práticas de assepsia incluem o uso de antissépticos para desinfetar a pele antes de procedimentos, a esterilização de instrumentos cirúrgicos, e a manutenção de um ambiente esterilizado durante os procedimentos. Desta forma conseguimos reduzir significativamente o risco de infeções e complicações nos pacientes.
2. Higiene das Instalações, Produtos de Limpeza e Cuidados com Animais Hospitalizados
2.1 Higiene das Instalações
A limpeza regular das instalações é crucial para manter um ambiente saudável. Todas as áreas devem ser limpas diariamente para remover resíduos e prevenir a proliferação de agentes patogénicos.
É por isso necessário utilizar técnicas adequadas para garantir a eficácia da limpeza, como varrer, esfregar e desinfetar superfícies e pavimentos.
2.1.1 Produtos de Limpeza e Desinfetantes
Escolher os produtos de limpeza corretos é essencial, e por isso devem ser utilizados produtos e desinfetantes aprovados para aplicação em instalações veterinárias, de acordo com as instruções de utilização indicadas no rótulo.
Para pavimentos, deve utilizar-se detergentes neutros que removem os resíduos sem danificar as superfícies.
2.1.2 Superfícies e Equipamento
Para superfícies, devemos utilizar produtos como álcool 70%, hipoclorito de sódio e quaternários de amónio. Esses desinfetantes são eficazes contra muitos agentes patogénicos.
Segundo a FECAVA (Federation of European Companion Animal Veterinary Associations) para a Higiene e Controlo da Infeção na Clínica Veterinária devem lavar-se e desinfetar-se:
- As superfícies e equipamentos antes e depois do contacto com cada paciente e sempre que estejam visivelmente sujas ou contaminadas;
- As maçanetas das portas, teclados, interruptores de luz e telefones diária/ regularmente;
- Alas, jaulas, unidades de isolamento/quarentena e de cuidados intensivos.
2.2 Rotinas de Limpeza e Cuidados com Animais Hospitalizados
Manter as áreas de internamento limpas e desinfetadas é vital para a saúde dos animais hospitalizados e por isso devemos utilizar desinfetantes adequados.
A DGAV (Direção Geral de Alimentação e Veterinária) apresenta uma lista completa atualizada de biocidas de utilização veterinária como o Virkon, por exemplo, que é um produto com efeito bactericida, fungicida e virucida bastante eficaz na eliminação destes agentes.
Desta forma conseguimos evitar, reduzir e eliminar a transmissão de doenças entre os animais que habitem as mesmas jaulas (sucessivamente) e através da utilização dos mesmos comedouros e bebedouros.
2.2.1 Lavagem da Roupa dos Animais
Devemos também criar uma rotina de lavagem da roupa e camas dos animais. Isto é, as mantas e camas que utilizamos para os animais internados devem ser lavadas entre pacientes e sempre que estiverem visivelmente sujas ou contaminadas. Deve remover-se a maior parte da sujidade visível antes de lavar e para isso devemos utilizar luvas.
Na lavandaria devemos estabelecer uma separação clara entre as áreas limpas e sujas, para evitar a ocorrência de contaminação cruzada.
Os pijamas cirúrgicos e batas devem também ser lavados diariamente e sempre que estiverem visivelmente sujos ou contaminados.
A lavagem deve ser efetuada na clínica ou com recurso a uma empresa profissional e a roupa deve ser lavada a 60ºC e secada a elevada temperatura, de modo a eliminar os agentes infeciosos.
Por fim e por uma questão de organização devemos arrumar a roupa limpa em locais próprios para o efeito.
2.2.2 Desinfeção de Equipamento Cirúrgico
Garantir e respeitar as normas de limpeza e desinfeção dos materiais, superfícies e pavimentos, por vezes, podem não ser suficientes, principalmente se estivermos a falar de equipamento cirúrgico, que necessita obrigatoriamente de ser esterilizado e para isso é necessário existir um autoclave no CAMV.
2.3 Gestão e Eliminação de Resíduos
A gestão de resíduos é outra parte fundamental. Os resíduos hospitalares, de acordo com a legislação em vigor, são definidos como os resíduos resultantes de atividades de prestação de cuidados de saúde.
2.3.1 Classificação de Resíduos Hospitalares
Estes resíduos estão classificados de acordo com a legislação em vigor, em quatro grupos, cada um deles com as suas próprias exigências de gestão, triagem, acondicionamento, transporte e tratamento.
:: Grupo I – Resíduos Equiparados a Urbanos
Não apresentam exigências especiais no seu tratamento.
:: Grupo II – Resíduos Hospitalares Não Perigosos
Não estão sujeitos a tratamentos específicos, podendo ser equiparados a urbanos.
:: Grupo III – Resíduos Hospitalares de Risco Biológico
Contaminados ou suspeitos de contaminação, suscetíveis de incineração ou de outro pré-tratamento eficaz, permitindo posterior eliminação como resíduo urbano.
:: Grupo IV – Resíduos Hospitalares Específicos
Necessitam obrigatoriamente de incineração.
A incorreta gestão dos resíduos hospitalares podem constituir um importante problema ambiental e de saúde pública.
3. Segurança no Trabalho
3.1 Perigo e Risco
Não só no ramo da veterinária, como em qualquer outro ramo, temos de saber identificar perigos e avaliar os riscos para garantir um ambiente seguro. No entanto, é importante saber diferenciar os seguintes conceitos:
:: PERIGO
É a propriedade intrínseca de uma instalação, atividade, equipamento, um agente ou outro componente material do trabalho com potencial para provocar dano.
:: RISCO
É a probabilidade de concretização do dano em função das condições de utilização, exposição ou interação do componente material do trabalho que apresente perigo.
Tanto a segurança da empresa, como a segurança dos colaboradores se encontra em primeiro lugar e por isso é essencial que exista a prévia identificação destes fatores. A avaliação dos riscos consiste na análise das situações indesejadas que podem provocar dano na saúde e segurança dos trabalhadores decorrentes das circunstâncias em que o perigo ocorre no trabalho.
Desta forma, a avaliação de riscos tem como objetivo a implementação eficaz de medidas necessárias para proteger e assegurar a segurança e a saúde dos trabalhadores.
Para podermos identificar os perigos e avaliar os riscos temos de:
- Identificar fontes de risco, como equipamentos, produtos químicos, e comportamentos dos animais;
- Avaliar a probabilidade e a gravidade dos riscos associados a essas fontes.
3.1.1 Riscos em Serviços Veterinários
Em serviços veterinários, os riscos estão predominantemente relacionados a:
- Lesões causadas por animais durante a contenção física;
- Lesões perfurocortantes durante a manipulação de agulhas, bisturis e outros;
- Lesões musculoesqueléticas causados não só por stress, mas também por ter de conter e pegar em animais e objetos de carga pesada;
- Infeções provenientes de agentes infeciosos e zoonóticos;
- Lesões causadas pela utilização inadequada de equipamentos e produtos químicos.
Riscos adicionais, menos frequentes, são por exemplo, radiação ionizante (RX), riscos sonoros, no caso das ressonâncias magnéticas (RM) ou mesmo situações de stress de causas diversas.
Desta forma, podemos verificar que efetivamente a segurança do colaborador é essencial e por isso se torna necessário que este possua prática e destreza na contenção correta de animais.
No entanto, antes desta necessidade de treino específica de contenção animal, é essencial que o trabalhador utilize os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) para evitar acidentes e contaminações, tais como luvas, batas, máscaras e em alguns casos óculos de proteção e abafadores de ruído.
No caso de exames radiológicos, o manipulador deve ainda utilizar fatos de chumbo específicos para se proteger da radiação.
Manter um ambiente de trabalho seguro inclui ainda seguir protocolos de emergência e manter os equipamentos, não só, em boas condições de funcionamento, como realizar a sua manutenção periodicamente.
A sinalização de segurança e a organização do espaço de trabalho são essenciais para prevenir acidentes e por isso todos devem manter áreas de passagem livres de obstruções e as zonas de perigo devem de estar devidamente sinalizadas.