Potencializar o candidato

1. Perfil do (líder político) candidato

Para refletir sobre esta temática, vamos responder às seguintes questões:

  • Qual é o contributo do partido e das características do candidato para os eleitores decidirem como votar?
  • Quais são as características atribuíveis ao candidato, que mais contribuem para o eleitor decidir em quem vai votar?

A minha experiência, muito fundamentada em estudos e eleições recentes, leva-me a concluir que nas eleições autárquicas, os eleitores fundamentam cada vez mais a sua decisão de voto, em função das características dos candidatos, ou seja, na capacidade de liderança do candidato e menos na sua ligação partidária e ideológica.

Embora a eleição para os órgãos autárquicos se apoie em listas de candidatos, o líder que encabeça cada uma das listas, com especial destaque para o líder da lista à gestão da Câmara, assume o grande protagonismo da eleição e da campanha.

Que características deverá apresentar um candidato para se apresentar como ganhador?

Embora características como:

  • dinamismo,
  • honestidade,
  • simpatia,
  • competência,
  • capacidade para resolver os problemas do concelho e dos munícipes,
  • capacidade de liderança,
  • conhecimento dos problemas do concelho,
  • e proximidade aos munícipes,

sejam apontadas como características fundamentais para que um candidato possa liderar uma autarquia, estudos recentes realizados em Portugal demonstram que os eleitores acabam por agrupar estas caraterísticas em dois grupos, que designamos por:

  • fatores de competência
  • e fatores de caráter do candidato.

Não nos podemos esquecer que a estrutura organizacional de uma autarquia equivale na maior parte dos casos, em Portugal, a uma organização de média ou grande dimensão, geri-la com sucesso implica assumir uma liderança organizacional dinâmica e assertiva, corolário das organizações com sucesso nos tempos modernos.

Entre os fatores de caráter do candidato, destacamos dois que pela sua importância, contributo no processo de decisão e facilidade de serem trabalháveis ao nível de uma campanha, merecem o nosso destaque, são eles a simpatia e a proximidade aos munícipes.

Ao nível da competência, o nosso candidato deverá apresentar traços de grande dinamismo, aptidões para gerir a causa pública, capacidade para resolver problemas e um bom conhecimento do concelho. A experiência poderá ser a cereja no topo do bolo.

Se o nosso candidato possuir bons índices em cada um dos traços destacados, o processo de comunicação deverá destaca-los individualmente ou agrupados conforme as situações o exigirem.

Uma vez que a eleição autárquica é muito centrada no elemento que encabeça a lista ao executivo municipal, ao nosso candidato não chega reunir os traços de salientados, ele necessita de se afirmar como um líder.

O processo de liderança política, tal como qualquer outro cargo que exija liderança organizacional, embora possa ter uma componente intrínseca, aprende-se e desenvolve-se.

Se o nosso candidato apresentar uma boa carga intrínseca para liderar e coordenar pessoas, deveremos trabalhar a forma como transmite aos eleitores e membros da campanha a intensidade e sentimento com que pretende liderar as propostas que apresenta e as causas que defende.

Liderar em política é um processo que se desenvolve e aprende quer com experiência diária, quer com formação adequada. Para ter sucesso na política e para que o nosso candidato se afirme como um líder ganhador deverá também saber comunicar as suas atitudes na relação com os eleitores, com os militantes e ou apoiantes e com as pessoas que trabalham na sua campanha.

Importa ainda destacar que as sondagens de opinião podem disponibilizar boa informação sobre quais os traços de personalidade mais valorizados por uma comunidade, assim como na forma que eles são percecionados num candidato.

 

2. Pontos fortes e pontos fracos de um Candidato

As qualidades e atributos de um candidato ou, pelo menos, as que são percecionadas pelo eleitorado constituem o que normalmente se designa por imagem pública do candidato.

Cabe perguntar então, será possível modificar a imagem pública de um candidato durante uma campanha eleitoral?

Diremos que sim, porém, temos de admitir que nem sempre é fácil ou possível.

Urge, então, conhecer as qualidades e atributos do candidato, ou seja, os seus pontos fortes, para que possam ser potencializados, assim como neutralizar ou compensar os pontos fracos.

Atributos e competências como: honesto, inteligente, trabalhador, simpático e experiente, constituirão para qualquer cidadão o candidato ideal, no entanto, nos tempos que correm, já poucos eleitores valorizam ou acreditam em candidatos ideais. Contudo se o nosso candidato for detentor desses atributos ou competências devemos potencializá-las ao longo da campanha.

Em detrimento deste tipo de pontos fortes absolutos, importa cada vez mais saber identificar pontos fortes relativos, ou seja, pontos fortes em que o nosso candidato é melhor que os seus adversários.

Para conhecer estes pontos fortes relativos, as sondagens de opinião e os estudos qualitativos podem ser fundamentais.

Nas eleições autárquicas de 2013, para a Câmara do Porto, o candidato Rui Moreira procurou destacar os seus pontos fortes relativamente ao candidato Luís Filipe Menezes. Rui Moreira apresentou-se como um candidato responsável, sério, genuíno e apartidário, por outras palavras, sem filiações políticas.

Importa, também, compreender como determinados pontos fortes ou fracos são percecionados pelo eleitorado. Voltando ao caso do Porto nas eleições de 2013, o eleitorado valorizou menos a experiência autárquica de Luís Filipe Menezes que a genuína dedicação ao Porto manifestada por Rui Moreira ou o mesmo o seu sentido de responsabilidade.

Um candidato que apresente pontos fortes, muito provavelmente, apresentará também pontos fracos. Importa, relativamente a estes, referir que encobrir os pontos fracos não é a melhor solução, uma vez que os concorrentes devem fazer um exercício semelhante e o seu objetivo será divulgar ao máximo os pontos fracos do candidato opositor.

Relativamente aos pontos fortes e pontos fracos relativos do candidato, é crucial saber até que ponto vai a aceitação e tolerância do eleitorado; não nos podemos esquecer da velha máxima “o eleitorado quando gosta até perdoa os defeitos, mas quando não ama nem as virtudes tolera”.

Por esta razão, devemos ter em conta que uma campanha nem sempre decorre com a racionalidade de um matemático.

Na potencialização de um candidato, é fundamental hierarquizar e destacar os pontos fortes relativos e neutralizar ou compensar os seus pontos fracos. Para que a potencialização do nosso candidato tenha sucesso, devemos também, promover e destacar os pontos débeis dos adversários e contornar ou neutralizar os pontos fortes.

O “problema” é que em democracia os concorrentes também vão a jogo e vão tentar fazer exatamente a mesma coisa.

Para superar da melhor forma, todos estes problemas, há que ter sempre pronto uma espécie de plano de crise, ou de contingência, para saber exatamente qual o comportamento a adotar sempre que surja o pior cenário.

Ricardo Rio, em Braga, quando lhe apontavam que era um candidato perdedor uma vez que tinha perdido duas vezes a eleição face a Mesquita Machado, respondeu “a minha determinação e amor pelo bem-estar dos Bracarenses levar-me-ão a ir à luta as vezes que forem necessárias”. Transformou, assim, um ponto fraco num ponto forte, nomeadamente, em determinação e persistência.

Tal como um sonoplasta, que destaca as virtudes da voz e reduz ou elimina o ruído, na potencialização do candidato devem ser destacados os seus pontos fortes e suavizar ou neutralizar os pontos fracos. Mas atenção, da mesma forma que um sonoplasta não pode descaraterizar a voz do artista, tal também não deve ser feito em relação a um candidato.

 

3. Imagem pública de um Candidato

Será possível modificar a imagem pública de um político, num curto período de tempo?

Sim é, porém, temos de admitir que nem sempre é fácil ou possível.

As competências ou atributos de caráter num candidato, pelo menos, os que são percecionadas pelo eleitorado, constituem o que normalmente se designa por imagem pública do candidato.

Quando integrou o XIX governo da coligação PSD/CDS-PP, Paulo Portas adotou uma postura de estadista, passando a vestir-se formalmente, adotou uma postura corporal rígida, diferente da que utilizou nas feiras aquando da campanha eleitoral, passou ainda a colocar a voz de uma forma grave.

Tudo isto soou a falso para uma parte dos eleitores e analistas políticos. Porém e dando razão ao provérbio, de que o hábito faz o monge, Paulo Portas governante assimilou o Zezinho das feiras e truculento jornalista e político.

Santana Lopes, político experiente e perspicaz, quando assumiu a função de primeiro ministro em 2004, deixou-se envolver em quezílias e contradições constantes, levando a que a sua imagem de político empreendedor e inteligente, conquistada quando foi secretário de estado e presidente de Câmara, fosse rapidamente substituída pela de um político instável.

Poderíamos apontar vários casos de políticos que ao longo de processos mais ou menos curtos modificaram completamente a sua imagem pública, importa porém, referir que é mais fácil desbaratar uma boa imagem e percecionada positivamente pelo eleitorado, que criar os pilares de uma boa imagem sólida e consistente.

O candidato a presidente de uma Câmara Municipal ou junta de freguesia, deve num primeiro momento conhecer quais são as características da personalidade que os eleitores do concelho ao qual se candidata mais valorizam, posteriormente deverá conhecer como é que essas características são percecionadas na sua pessoa e como vão evoluindo ao longo da campanha e em função das diferentes intervenções e estratégias de comunicação adotadas.

As sondagens podem dar uma boa ajuda.

Se o nosso candidato for valorizado em relação aos atributos para os quais os eleitores atribuem muita importância, estamos perante pontos fortes do nosso candidato e deveremos potencializá-los, dando-lhe destaque no processo de comunicação.

Se o nosso candidato for pouco valorizado nos atributos em relação aos quais os eleitores atribuem muita importância, devemos promovê-los.

Poderemos organizar um programa formativo e de desenvolvimento de competências combinado com o candidato no sentido de potencializar esses atributos. Cada evolução e conquista que o nosso candidato consiga, deverá ser cuidadosamente comunicada aos eleitores.

Devemos, contudo, ter sempre presente que a preparação de um candidato não deve ir no sentido de tentar potencializar atributos que não lhe sejam naturais e em relação aos quais ele não acredita.

A potencialização de um candidato e nomeadamente da sua imagem pública, deve somente ter em linha de conta um certo ajustamento entre o seu perfil, a sua personalidade, as suas ideias e objetivos políticos e a linguagem e postura a adotar na comunicação aos eleitores.

Este processo de ajustamento da imagem pública poderá ser realizado a vários níveis, nomeadamente:

  • a nível da comunicação fatual e publicitária,
  • no contacto com a comunicação social,
  • com os grupos de referência eleitoral;
  • ou diretamente com os eleitores através do contacto direto nas ruas ou nos comícios.

Na potencialização do candidato deveremos ter sempre presente o princípio de um sonoplasta, que procura sempre destacar as virtudes da voz e reduzir ou eliminar o ruído. Em relação à imagem pública do candidato devemos destacar ou potencializar os pontos fortes ou potenciais pontos fortes e suavizar ou neutralizar os pontos fracos.

Mas atenção, da mesma forma que um sonoplasta não pode descaracterizar a voz do artista, tal também não deve ser feito em relação à imagem pública de um candidato.

 

4. Comunicação não verbal em política

Que tipo de implicações têm os gestos, a roupa, as cores ou a aparência física do candidato na decisão de voto?

Para responder a esta questão é importante lembrar que o sucesso no processo de negociação política entre o candidato e o eleitor, pressupõe que o candidato utilize toda a sua capacidade de persuasão.

Na persuasão não são apenas as palavras que contam, é necessário aperfeiçoar outro tipo de comunicação, neste caso concreto falamos da comunicação não verbal utilizada para modificar sentimentos e transmitir emoções, nomeadamente:

  • Comunicação relacionada com os movimentos;
  • Comunicação de proximidade e afetividade;
  • Comunicação paralinguística relacionada com a voz;
  • Aparência física.

Vejamos sumariamente cada um destes tipos de comunicação.

Comunicação relacionada com os movimentos
A coordenação dos movimentos das mãos ou da face, são fundamentais para transmitir seriedade à mensagem que o candidato pretende transmitir. É frequente o candidato estar a transmitir uma mensagem verbal e a comunicação não verbal com as mãos ou a expressão fácil transmitir o seu contrário.

O eleitor tem uma enorme capacidade de compreender essa contradição, que pode funcionar de forma negativa no processo de decisão.

Estas técnicas de comunicação podem ser aperfeiçoadas, com exercícios e acompanhamento de especialistas, lembramos que para comunicar em televisão ou vídeo os movimentos bruscos são sempre desaconselháveis.

Comunicação de proximidade e afetividade.
Marcelo Rebelo de Sousa veio demonstrar a importância das campanhas de proximidade, com forte componente afetiva. Não nos podemos esquecer que somos um povo de afetos onde a proximidade se faz muitas vezes por contacto físico entre as pessoas, nas campanhas autárquicas, esta relação é muito importante.

Se o candidato se sentir bem no contato direto com os eleitores deve tirar proveito, porém tudo o que for para além de um breve diálogo ou um aperto de mão pode acabar por ser contraproducente.

Comunicação paralinguística relacionada com a voz
Em relação a este parâmetro deveremos ter em consideração, o tom de voz, o ritmo da fala, o volume de voz e as pausas utilizadas na pronúncia verbal.

A voz “embargada”, a falha na voz, o pigarrear, o falar mais baixo ou mais alto uma conversa, o tornar a fala mais aguda ou grave, são tudo exemplos de paralinguagem.

Na rádio e TV a comunicação do candidato deve ter um ritmo calmo, ser pausada e transmitir serenidade.

Um candidato que esteja na oposição e pretenda conquistar o poder pode utilizar um tom mais provocatório e agressivo.

Aparência física
O nosso corpo também fala e revela informação sobre o nosso estado emocional, as nossas atitudes e interfere na capacidade de influenciar o eleitor.

Para ser um bom candidato não é obrigatório ser bonito(a) e charmoso(a), mas a aparência exerce alguma influência na opinião dos eleitores.

Porém há certas condições físicas que são para efeitos práticos aconselháveis a trabalhar para uma boa apresentação, nomeadamente a obesidade, esta característica tende a ser associada a personalidades desleixadas, indisciplinadas, e com baixa autoestima.

O aperto de mão deve ser firme, com 2 a 4 badaladas na mão do eleitor, servindo para passar a mensagem que o candidato se preocupa com o eleitor.

A roupa também deve ser escolhida com cuidado. Barack Obama nas suas campanhas, alternou gravatas vermelhas e azuis. Estudos demonstram que essas cores geram efeitos bem específicos: o vermelho dá a impressão de força e energia; por sua vez, o azul transmite controle e tranquilidade.

 

5. Falar em Público

Tem medo de falar em público?

Saiba que não é o único, atrevo-me a dizer que, em Portugal, deve ser dos medos mais comuns.

Para um político ter medo de falar em público não é caso de vida ou morte, mas saber falar em público é indispensável para ter sucesso.

Para ter sucesso a falar em público, o candidato deverá ter em consideração os seguintes fatores:

  • Naturalidade é um dos requisitos para ter sucesso para falar em público nos tempos modernos. O público aceita que o candidato tenha pouca técnica na sua comunicação, mas não tolera que a sua comunicação surja como artificial;
  • Emoção, o político não pode ser neutro ao falar. Se falar de problemas, necessita demonstrar alguma indignação. Se falar de soluções, deve manifestar determinação e confiança.
  • Demonstrar conhecimento, o político não pode falar ‘por ouvir dizer que’, necessita demonstrar que conhece o assunto, que vive o problema e que tem experiência na matéria.
  • Ter uma conduta pessoal exemplar, houve tempos em que um político podia falar de uma maneira e agir de outra, atualmente isso não é possível, nem tolerável. O político deve apresentar-se como um exemplo daquilo que defende na sua comunicação.

Ter em consideração os fatores referenciados, é muito importante para ter sucesso a falar em público, porém o pilar fundamental é ter um bom discurso e saber comunicá-lo.

Não importa se quem ouve é uma plateia com centenas de pessoas, vinte colaboradores ou apenas um indivíduo. Um bom discurso pode inspirar, influenciar, tranquilizar ou desestabilizar. O fundamental, em qualquer uma dessas situações, é ser compreendido e falar com sentimento e determinação.

Pode parecer simples, mas não é.

Cada um tem a sua própria maneira de falar, mas transmitir com precisão as suas ideias e emoções de forma a que os outros compreendam é a chave para um bom discurso, vejamos alguns conselhos para conseguir falar em público e produzir um discurso que marque positivamente os ouvintes.

  • Estruturar e escrever uma boa mensagem
    Antes de começar a discursar, devemos fazer um roteiro do que queremos falar e apresentar. Primeiro devemos definir o tema, qual a finalidade do tema e adequar a mensagem ao público. É importante definir durante quanto tempo vamos comunicar, como vai ser introduzido o tema e durante quanto tempo vamos fazer o aquecimento do público, não nos podemos esquecer que ter um bom início é importante, mas terminar um discurso ou comunicação com chave de oiro é fundamental. Devemos ter em conta que histórias, que exemplos e que comparações devemos utilizar para tornar o discurso explícito.
  • Estabelecer contato com público
    Para estabelecer contato com o público é necessário entrar na realidade dele, falar a sua linguagem e criar conexão com ele, em suma, é necessário adequar o nosso discurso à realidade e problemas da plateia para quem falamos.
  • Adequar o tom do discurso ao público
    As palavras devem ser pronunciadas claramente para que não possam ser confundidas. O volume e intensidade devem ser adequados ao conteúdo e momento. Não podemos esquecer que volumes muito elevados podem facilmente ser percecionados como autoritários, mas muito baixos podem transmitir timidez e insegurança. Para que o discurso não seja monótono, temos que escolher as palavras que queremos entoar e destacar.
  • Comunicação corporal
    O corpo é o nosso principal meio de comunicação. Muito antes de dizermos uma só palavra transmitimos impressões através de expressões faciais, gestos, postura e figurino. Tudo isso deve reforçar o que pretendemos dizer. O ideal é manter contato visual direto com o público, não sendo persistente e cuidar da aparência como um todo.
  • Comunicação técnica
    É importante comunicar com apoio de bons recursos tecnológicos, porém devem servir de apoio e não ser o ator principal. A regra de ouro é escolher a dose certa de utilização tecnológica porque o ator principal é o candidato.
  • Marca do discurso
    Os bons discursos são aqueles que deixam uma marca e isso só é possível com espontaneidade, que se consegue com dedicação, treino, e muito trabalho, por forma a transmitir o discurso de uma forma diferenciada e única. Em suma, é importante ser honesto e genuíno para falar em público.