Controlo da Infeção na Clínica Dentária: técnicas de desinfeção e esterilização

Índice

1 – A  Infeção Cruzada na Prática da Medicina Dentária

1.1 – Riscos de Infeção Cruzada na Prática da Medicina Dentária

1.2 – Tipos de Exposição à Infeção Cruzada na Prática de Medicina Dentária

1.3 – Protocolos de Controlo da Infeção

2 – Proteção dos Elementos da Equipa de Medicina Dentária

2.1 – Utilização das Luvas

2.2 – Utilização de Máscara

2.3 – Utilização de Óculos de Proteção e Viseiras

2.4 – Utilização de Avental, Bata ou Farda

2.5 – Utilização de Gorros

3 – Assepsia, Antissepsia e Técnicas de Esterilização

3.1 – Limpeza e Agentes de Limpeza em Medicina Dentária

3.2 – Agentes de Desinfeção

3.3 – Lavagem das Mãos

3.4 – Limpeza e a Desinfeção do Consultório

3.5 – Limpeza e Desinfeção dos Ambientes Comuns

3.6 – Limpeza, Desinfeção e Esterilização de Material

3.7 – Limpeza Manual

3.8 – Limpeza Mecânica

3.9 – Desinfeção

3.10 – Esterilização

4 – Barreiras Físicas de Proteção

5 – Doenças Infectocontagiosas e a Prática Clínica em Medicina Dentária

5.1 – Herpes Labial

5.2 – HIV e Sida

5.3 – Hepatite

5.4 – Tuberculose

5.5 – Covid 19

 

1. A Infeção Cruzada na Prática da Medicina Dentária

Diversas publicações e estudos indicam que a cavidade oral pode apresentar entre 400 a 1000 espécies microbianas, a saliva contém entre 4,3 a 5,5 biliões de bactérias por mililitro, constituindo-se assim como um potencial reservatório microbiano.

O exercício do ato clínico em Medicina Dentária, exige uma grande proximidade com o utente, expondo os seus profissionais a gotículas respiratórias e aerossóis que podem ser criados durante os procedimentos clínicos. Toda esta atividade leva a que o gabinete clínico seja uma potencial fonte de transmissão de agentes infeciosos de pessoa para pessoa ou a partir de objetos e instrumentos. Este tipo potencial de infeção costuma denominar-se de infeção cruzada.

Os profissionais de saúde oral, utilizam na sua prática clínica, diversos materiais e instrumentos, que quando contaminados com sangue ou saliva, podem ser potenciais veículos de contaminação.

O controlo da infeção deve ser uma das principais preocupações dos profissionais de saúde oral, especialmente do Médico Dentista e do Auxiliar de Medicina Dentária.
O controlo da infeção cruzada em Medicina Dentária, ganha eficiência quando os profissionais tiverem conhecimentos, respeitarem os protocolos e estiverem em constante formação e atualização de conhecimentos.

A criação e respeito por protocolos de prevenção e redução de disseminação de agentes infeciosos é fundamental para controlar e eliminar a infeção na prática da Medicina Dentária.

 

Na prática da Medicina Dentária a transmissão da infeção pode realizar-se por contacto direto ou por contacto indireto.
No contacto direto ocorre uma transmissão física, de pessoa para pessoa durante o tratamento, através de lesões, contacto com sangue ou saliva infetada.
Por sua vez, na transmissão indireta, a infeção ocorre por via de veículos de transmissão como as mãos, os instrumentos e materiais dentários, ou mesmo superfícies envolventes ao ato médico.

Os aerossóis são considerados um tipo de contacto indireto e de potencial contaminação, em que as partículas sólidas ou líquidas, suspensas no ar, são o veículo de transmissão microbiana. Os aparelhos que libertam aerossóis, são os instrumentos rotativos como turbinas, peças de mão e ultrassons utilizados para realizar destartarizações.

A transmissão através de partículas de maiores dimensões exige um contacto mais próximo, uma vez que não permanecem em suspensão no ar.

A transmissão através de partículas também pode ocorrer quando as mãos do médico-dentista e/ou do assistente sofrem contaminação, podendo depois entrar em contacto com as mucosas.

A contaminação pode ocorrer também por via de acessos vasculares, desencadeados por acidentes com instrumentos cortantes ou perfurantes.

A contaminação pode ainda ocorrer com a projeção de gotas de sangue, saliva e secreções em situações em que algum dos intervenientes no ato possa tossir, espirrar ou falar.

A disseminação da infeção em Medicina Dentária pode ocorrer das seguintes formas:

  • Do paciente para a equipa clínica;
  • Da equipa clínica para o paciente;
  • Do paciente para o paciente;
  • Da clínica para a comunidade;
  • Da comunidade para o paciente.

Os protocolos de prevenção devem ter em conta todas estas hipotéticas situações, a fim de poderem contribuir para a redução da disseminação de agentes infeciosos.

 

1.1 Riscos de Infeção Cruzada na Prática da Medicina Dentária

Como já referimos na prática da Medicina Dentária podemos ter diversas formas de infeção, nomeadamente:

  • Contaminação orofacial, pode ocorrer devido ao baixo nível de higiene pessoal de algum dos membros da equipa profissional que não higieniza corretamente as mãos quando utiliza sanitários;
  • Contaminação de familiares, o profissional pode contaminar os seus familiares através do seu corpo, não utilizando EPIs (viseira, gorro, máscara, avental, luvas, etc.);
  • Infeção de paciente para paciente, ocorre com o uso de instrumentos não esterilizados ou descartáveis; pode ocorrer por infeção direta, ou por infeção indireta;
  • Paciente imunodeficiente, pode ocorrer quando um paciente está mais fragilizado e mais suscetível às infeções. O paciente pode adquirir ou transmitir facilmente as infeções;
  • Paciente ou equipa entre si e para o protésico, ocorre por meio de superfícies e/ou objetos contaminados que podem transmitir doenças. Neste caso pode ocorrer por via das peças protésicas contaminadas encaminhadas para o protésico e vice-versa.

 

1.2 Tipos de Exposição à Infeção Cruzada na Prática de Medicina Dentária

Na prática de Medicina Dentária, os profissionais podem deparar-se com diferentes tipos de exposições à infeção cruzada; vamos destacar os principais.

:: Exposições Percutâneas
Resultam de lesões provocadas por instrumentos perfurocortantes, nomeadamente agulhas, bisturis, vidros entre outros.

:: Exposições às Mucosas
Resultam quando há respingos envolvendo olhos, nariz, boca ou genitais.

:: Exposições Cutâneas
Resultam por exemplo, quando ocorre o contacto com a pele não íntegra, como no caso de dermatites ou feridas abertas.

:: Exposições por Mordeduras Humanas
Consideradas como exposição de risco quando envolvem a presença de sangue. Devem ser avaliadas tanto para o indivíduo que provocou a lesão quanto para aquele que tenha sido exposto.

:: Exposições com Materiais Perfurantes
Como na prática de Medicina Dentária é frequente trabalhar com materiais perfurantes, os profissionais devem ter especial cuidado quando trabalharem com:

  • Material perfurante, brocas, agulhas entre outros;
  • Utilização direta dos dedos na preparação durante a realização de procedimentos que envolvam materiais perfurantes ou cortantes;
  • Utilização de agulhas: não devem ser retiradas da seringa com as mãos;
  • Todo o material perfurocortante (agulhas, lâminas de bisturi, vidrarias, entre outros), mesmo que estéril, deve ser descartado em recipientes resistentes à perfuração com tampa e o símbolo de infetante;
  • Os recipientes específicos para o descartamento de material não devem ser preenchidos acima do limite de dois terços da sua capacidade total e devem ser colocados sempre próximos do local onde é realizado o procedimento.

Vejamos quais as medidas que devem ser tomadas para assegurar uma minimização da transmissão da infeção cruzada, ou mesmo a sua eliminação total.

 

1.3 Protocolos de Controlo da Infeção

Os protocolos para controlar e eliminar a infeção na clínica dentária devem abranger os seguintes elementos:

  • Avaliação do paciente;
  • Proteção pessoal através de técnicas de barreira;
  • Limpeza e desinfeção do instrumental clínico;
  • Esterilização do instrumental clínico incluindo o controlo do processo de esterilização;
  • Assepsia do laboratório (de acordo com as recomendações internacionais, as impressões devem ser devidamente limpas de sangue, saliva e outros resíduos com solução de hipoclorito a 1%, previamente ao seu envio para o laboratório. Esta solução de hipoclorito deve ser renovada diariamente. As escovas usadas no polimento das próteses devem também ser desinfetadas com recurso a hipoclorito de sódio a 1% e feita a remoção adequada dos resíduos contaminados;
  • O uso do dique de borracha, pois este constitui um método eficaz na redução da contaminação microbiana. Quando usado em conjunto com: luvas, máscara e proteção ocular apropriada, o dique de borracha atua como uma excelente barreira e ajuda a impedir a potencial transmissão de doenças infeciosas no consultório.

 

 

2. Proteção dos Elementos da Equipa de Medicina Dentária

A proteção dos profissionais de Medicina Dentária deve ser uma das principais preocupações numa clínica dentária. Destacamos um conjunto de medidas de controlo de infeção para serem adotadas como forma eficaz de redução do risco ocupacional e de transmissão de microrganismos nos serviços de uma clínica dentária. As precauções universais incluem:

  • Uso de barreiras ou equipamentos de proteção individual;
  • Prevenção da exposição a sangue e fluidos corpóreos;
  • Prevenção de acidentes com instrumentos perfurocortantes;
  • Manuseamento adequado em situações que envolvam a exposição a sangue e fluidos orgânicos;
  • Manuseamento adequado de procedimentos de descontaminação e do destino de dejetos e resíduos nos serviços de saúde.

Barreiras de proteção individual, também chamadas de EPI Equipamento de Proteção Individual são métodos físicos que interrompem as rotas de contaminação, quebrando o ciclo que poderia ser estabelecido. As barreiras de proteção pessoal devem ser utilizadas rigorosamente dentro das clínicas, tanto por Médicos-dentistas como por Auxiliares de Medicina Dentária.

 

A imunização é indispensável para completar as barreiras de proteção individual. Todos os profissionais expostos à contaminação (Médicos-dentistas e Auxiliares de Medicina Dentária) devem ser vacinados contra Hepatite B, Covid, tuberculose (BCG), tétano e difteria, sarampo e rubéola.

As clínicas de medicina dentária devem possuir os seguintes equipamentos de proteção individual:

  • Luvas para atendimento clínico e cirúrgico, que deverão ser descartadas após o atendimento a cada paciente;
  • Máscaras de proteção;
  • Avental, bata ou farda para proteção;
  • Óculos de proteção e gorro.

 

2.1 Utilização das Luvas

Sempre que houver possibilidade de contacto com sangue, saliva contaminada por sangue, contacto com a mucosa ou com superfície contaminada, o profissional deve utilizar luvas.

Antes do atendimento de cada paciente, o profissional deve lavar suas mãos e colocar novas luvas; após o tratamento de cada paciente, ou antes de deixar a clínica, o profissional deve remover e descartar as luvas e lavar as mãos.

Tanto as luvas para procedimento como as luvas cirúrgicas não devem ser lavadas antes do uso, nem lavadas, desinfetadas ou esterilizadas para reutilização.

As luvas de látex para exame não foram formuladas para resistir à exposição prolongada às secreções, podendo ficar comprometidas durante procedimentos de longa duração.

A boa utilização das luvas deve respeitar um conjunto de regras, nomeadamente:

  • As luvas não devem ser utilizadas fora das áreas de tratamento;
  • As luvas devem ser trocadas entre os tratamentos de diferentes pacientes;
  • A parte externa das luvas não deve ser tocada aquando da sua remoção;
  • As luvas devem ser verificadas quanto à presença de rasgos ou furos antes e depois de colocadas, devendo ser trocadas, caso isso ocorra;
  • Se as luvas se rasgarem durante o tratamento de um paciente, devem ser removidas e eliminadas, lavando as mãos antes de enluvadas;
  • Se ocorrerem acidentes com instrumentos perfurocortantes, as luvas devem ser removidas e eliminadas, as mãos devem ser lavadas e o acidente comunicado;
  • Superfícies ou objetos fora do campo operatório não podem ser tocados por luvas usadas no tratamento do paciente.
  • Em procedimentos cirúrgicos demorados ou com sangramento intenso, está indicado o uso de dois pares de luvas;
  • Luvas usadas não devem ser lavadas ou reutilizadas.

Para uma boa colocação das luvas devemos seguir as seguintes recomendações:

  • Colocar o pacote sobre uma mesa ou superfície lisa, abrindo-o sem o contaminar;
  • Expor as luvas de modo que os punhos fiquem voltados para si;
  • Retirar a luva esquerda (E) com a mão direita, pela dobra do punho;
  • Levantá-la, mantendo-a longe do corpo, com os dedos da luva para baixo;
  • Introduzir a mão esquerda, tocando apenas a dobra do punho;
  • Introduzir os dedos da mão esquerda enluvada sob a dobra do punho da luva direita (D). Calçar a luva direita, desfazendo a seguir a dobra até cobrir o punho da manga do avental;
  • Ajustar os dedos de ambas as mãos;
  • Após o uso, retirar as luvas puxando a primeira pelo lado externo do punho, e a segunda pelo lado interno.

A troca de luvas em procedimentos de maior duração também possibilita um melhor controlo do processo de sudação, e consequentemente uma diminuição do risco de infeções dérmicas ou inflamação.

É importante ter em mente que as mãos não se encontram necessariamente limpas por causa do uso de luvas. Na remoção das luvas, os microrganismos do paciente presentes na superfície externa da luva podem ser transmitidos para as mãos do médico-dentista e só serão eliminados através da lavagem correta das mãos.

Devemos, contudo, ter em atenção a interferência das luvas com testes de sensibilidade e aquando da tomada de impressões.

As luvas de látex natural e as de nitrilo permitem uma boa destreza manual, são impermeáveis aos microrganismos o uso prolongado deste equipamento de proteção está associado a efeitos adversos de origem irritante e alérgica.

Classificação dos vários tipos de luvas clínicas

 

2.2 Utilização de Máscara

Durante o tratamento de qualquer paciente, deve ser usada máscara na face para proteger as mucosas nasais e bucais da exposição ao sangue e saliva. A máscara deverá ser descartável e apresentar camada dupla ou tripla, para uma filtragem eficiente.

A boa utilização da máscara deve respeitar um conjunto de regras, nomeadamente:

  • As máscaras devem ser colocadas após o gorro e antes dos óculos de proteção;
  • As máscaras devem adaptar-se confortavelmente à face, sem tocar os lábios e narinas;
  • Não devem ser ajustadas ou tocadas durante os procedimentos;
  • Devem ser trocadas entre os pacientes e sempre que se tornarem húmidas, aquando dos procedimentos geradores de aerossóis ou respingos, o que diminui a sua eficiência;
  • Não devem ser usadas fora da área de atendimento, nem ficar penduradas no pescoço;
  • Devem ser descartadas após o uso;
  • As máscaras devem ser removidas enquanto o profissional estiver com luvas, nunca com as mãos nuas;
  • Para a sua remoção, as máscaras devem ser manuseadas o mínimo possível e somente pelos bordos ou cordéis, tendo em conta a pesada contaminação;
  • O uso de protetores faciais de plástico não exclui a necessidade da utilização das máscaras;
  • Máscaras e óculos de proteção não são necessários no contacto social, realização da história clínica, medição da pressão arterial ou procedimentos semelhantes.

Classificação dos vários tipos de máscaras em função da sua utilização

 

2.3 Utilização de Óculos de Proteção e Viseiras

São um dos equipamentos mais importantes. Os olhos são a porta de entrada para diversos tipos de vírus e bactérias. Inclusive, em alguns tratamentos, o paciente também precisa utilizar os óculos de proteção.

A boa utilização dos óculos de proteção deve respeitar um conjunto de regras, nomeadamente:

  • Óculos de proteção com vedação lateral ou protetores faciais de plástico, devem ser usados durante o tratamento de qualquer paciente, para proteção ocular contra acidentes ocupacionais (partículas advindas de restaurações, placa dentária, polimento) e contaminação proveniente de aerossóis ou respingos de sangue e saliva;
  • Os óculos de proteção também devem ser usados quando necessário no laboratório, na desinfeção de superfícies e manipulação de instrumentos na área de lavagem;
  • Óculos e protetores faciais não devem ser utilizados fora da área de trabalho;
  • Devem ser lavados e desinfetados quando apresentarem sujidade.

 

2.4 Utilização de Avental, Bata ou Farda

Sempre que houver a possibilidade de sujar as roupas com sangue ou outros fluidos orgânicos, devem ser utilizadas vestes de proteção, como batas ou fardas (reutilizáveis ou descartáveis), ou aventais para laboratório, sobre elas.

A boa utilização das batas ou fardas deve respeitar um conjunto de regras, nomeadamente:

  • A bata ou farda fechada, com colarinho alto e mangas longas é a que oferece a maior proteção;
  • As batas, fardas ou aventais devem ser trocadas pelo menos diariamente, ou sempre que contaminados por fluidos corpóreos;
  • As batas, fardas ou aventais utilizados devem ser retirados na própria clínica e, com cuidado, colocados em sacos de plástico, para o procedimento posterior (limpeza ou descarte).
  • Com essa atitude, evita-se a veiculação de microrganismos da clínica para outros ambientes, inclusive o doméstico.

 

2.5 Utilização de Gorros

Os cabelos devem ser protegidos da contaminação através de aerossóis e gotículas de sangue e saliva, principalmente aquando de procedimentos cirúrgicos, com a utilização de gorros descartáveis, que devem ser substituídos quando houver sujidade visível.

 

3. Assepsia, Antissepsia e Técnicas de Esterilização

Vejamos agora alguns conceitos fundamentais para compreender o processo de combate à infeção na prática de Medicina Dentária.

Assepsia, é o conjunto de medidas que utilizamos para impedir a penetração de microrganismos num ambiente que logicamente não os tem, logo um ambiente asséptico é aquele que está livre de infeção.

 Antissepsia, é o conjunto de medidas propostas para inibir o crescimento de microrganismos ou removê-los de um determinado ambiente, podendo ou não destruí-los e para tal fim utilizamos antissépticos ou desinfetantes. É a destruição de microrganismos existentes nas camadas superficiais ou profundas da pele, mediante a aplicação de um agente germicida de baixa causticidade, hipoalergénico e passível de ser aplicado em tecido vivo.

 

Degermação, significa a diminuição do número de microrganismos patogênicos ou não, após a escovagem da pele com água e sabão. É a remoção de detritos e impurezas depositados sobre a pele. Sabões e detergentes sintéticos, graças a sua propriedade de humidificação, penetração, emulsificação e dispersão, removem mecanicamente a maior parte da flora microbiana existente nas camadas superficiais da pele, também chamada flora transitória, mas não conseguem remover aquela que coloniza as camadas mais profundas ou flora residente.

Desinfeção, é o processo pelo qual se destroem particularmente os germes patogénicos e/ou se inativa a sua toxina ou se inibe o seu desenvolvimento. Os esporos não são necessariamente destruídos.

Esterilização, é processo de destruição de todas as formas de vida microbiana (bactérias nas formas vegetativas e esporulentas, fungos e vírus) mediante a aplicação de agentes físicos e ou químicos. Toda a esterilização deve ser precedida de lavagem e enxaguamento do artigo para remoção de detritos.

 

O conceito de esterilização é absoluto, com este procedimento o material é esterilizado com ausência total de agente infecioso.

Esterilizantes, são meios físicos (por calor, filtração, radiações, etc.) capazes de matar os esporos e a forma vegetativa, isto é, destruir todas as formas microscópicas de vida.

Germicidas, são meios químicos utilizados para destruir todas as formas microscópicas de vida e são designados pelos sufixos “cida” ou “lise“, como por exemplo, bactericida, fungicida, virucida, bacteriólise etc.

No dia a dia, os termos antissépticos, desinfetantes e germicidas são empregados como sinónimos, fazendo que não haja diferenças absolutas entre desinfetantes e antissépticos.
Caracterizamos como antisséptico quando são aplicados em tecidos vivos e desinfetante quando a utilizamos em objetos inanimados.

 

3.1 Limpeza e Agentes de Limpeza em Medicina Dentária

A limpeza tem como objetivo a remoção de sujidade de um local, equipamento ou material. É de suma importância para a redução da carga microbiana, favorecendo a eficácia do processo.

É a remoção de sujidade visível aderida às superfícies, nas fendas, nas serrilhas, nas articulações e lúmenes de instrumentos, dispositivos e equipamentos, por meio de um processo manual, realizando fricção com escovas apropriadas e por meio de enxaguamento utilizando água sob pressão.

A limpeza pode também ocorrer de forma mecânica utilizando detergente e água em máquinas de lavar com ou sem ultrassom.
Em ambos os casos são utilizados detergentes ou produtos enzimáticos.

Alguns fatores interferem na efetividade da limpeza, assim como a qualidade da água, o tipo e qualidade dos agentes, os acessórios de limpeza, a manuseamento e preparação dos materiais para a limpeza e método manual ou mecânico usado.

No final de qualquer processo, recomenda-se que se realize, uma observação criteriosa do processo de limpeza para garantir que o protocolo foi seguido completamente, que se realize a validação e aplicar metodologias de verificação que garantam a limpeza.

É muito importante ter consciência que os resíduos orgânicos bem como sangue, soro, lípides, fragmentos de tecido e sais inorgânicos, se não forem retirados adequadamente durante o processo de limpeza, podem impedir a desinfeção e a esterilização, uma vez que limitarão a difusão dos agentes esterilizantes ou inativarão a ação dos desinfetantes.

A limpeza de uma clínica dentária é muito importante para garantir um ambiente seguro e higiénico para os pacientes e os profissionais.
É importante utilizar produtos de limpeza de qualidade para garantir que todas as superfícies sejam completamente limpas e desinfetadas. Devemos seguir as orientações do fabricante para garantir a eficácia dos produtos de limpeza e desinfetantes.

Após a limpeza, é importante desinfetar as superfícies para garantir a eliminação de germes e bactérias.

É importante formar e treinar o pessoal da clínica dentária sobre as práticas de limpeza e desinfeção corretas para garantir que todas as medidas de higiene sejam seguidas de forma consistente.

 

 3.2 Agentes de Desinfeção

Os principais e mais utilizados agentes de desinfeção são:

  • Hipoclorito de Sódio a 1%;
  • Álcool a 70%.

Ao utilizar os agentes de desinfeção citados acima, o local necessita de ser limpo previamente onde se verificar a sujidade, com toalhas de papel, água e detergente, a desinfeção com álcool deve ser repetida por 3 (três) vezes.

Os agentes de desinfeção referenciados devem ser evitados em materiais como acrílicos, borrachas e plásticos, pois podem endurecer os materiais e deixá-los amarelados.

Existem ainda outros desinfetantes, nomeadamente:

  • Quaternário de amónio e biguanida;
  • Glucoprotamina.

Quanto aos agentes citados acima, não é necessário a limpeza prévia, pois eles limpam e desinfetam simultaneamente.

Poderão ainda ser utilizados outros produtos que permitem qualidade e agilidade na limpeza e desinfeção, tornando a rotina mais fácil, é o caso do uso de lenços humedecidos desinfetantes à base de quaternário de amónio. Esse tipo de produto, que serve para limpeza de superfícies, permite uma economia de tempo e de materiais como gazes, algodão e papéis.

 

 3.3 Lavagem das Mãos

Nenhuma outra medida de higiene pessoal tem impacto tão positivo na eliminação da infeção cruzada na clínica de Medicina Dentária como a lavagem das mãos. A lavagem simples das mãos, ou lavagem básica das mãos, que consiste na fricção com água e sabão, é o processo que tem por finalidade remover a sujidade e a microbiota transitória (constituída por contaminantes recentes adquiridos do ambiente e que ficam na pele por períodos limitados).

A lavagem das mãos é obrigatória para todos os elementos da equipa de saúde oral que intervêm no ato clínico.

A higiene das mãos pode ser dividida em três grupos, consoante o ambiente envolvido:

  • Lavagem das mãos em ambiente social, os produtos a utilizar são o sabão e a água e a duração do procedimento deve variar entre 20 a 30 segundos. Tem o intuito de remover microrganismos, fluidos corporais e resíduos.
  • Higiene das mãos em ambiente clínico: deve ser utilizada uma solução desinfetante à base de álcool ou um desinfetante antimicrobiano à base de água. O procedimento deve ter uma duração média de 20 a 30 segundos. O objetivo passa pela eliminação e remoção de micróbios transitórios e pela redução da flora.
  • Higiene das mãos em ambiente cirúrgico, os produtos utilizados são semelhantes aos referidos na técnica anterior, contudo a duração do procedimento deve rondar os 2 minutos. O propósito visa a eliminação e remoção de microrganismos transitórios e a substancial redução dos microrganismos que constituem a flora.

O lavatório deve integrar:

  • Dispositivo que dispense o contacto das mãos aquando do fechamento da água;
  • Toalhas de papel descartáveis ou compressas estéreis;
  • Sabonete líquido antimicrobiano.

A lavagem das mãos deve ser realizada:

  • No início do dia;
  • Antes e após o atendimento do paciente;
  • Antes de calçar as luvas e após removê-las;
  • Após tocar qualquer instrumento ou superfície contaminada;
  • Antes e após de utilizar o WC;
  • Após tossir, espirrar ou assoar o nariz;
  • No final do dia de trabalho.

Uma boa lavagem das mãos deve respeitar um conjunto de regras, de uma maneira geral tende a usar-se a chamada Técnica de Ayliffe que consiste em:

  • Remover anéis, alianças, pulseiras e relógio;
  • Humedecer as mãos e pulsos em água corrente;
  • Aplicar sabão líquido suficiente para cobrir mãos e pulsos;
  • Ensaboar as mãos e limpar as unhas;
  • Esfregar o sabão em todas as áreas, com ênfase particular nas áreas que envolvem as unhas e entre os dedos, por um mínimo de 15 segundos antes de enxaguar com água fria.
  • Obedecer à seguinte sequência: palmas das mãos, dorso das mãos, espaços entre os dedos, polegar, articulações, unhas e pontas dos dedos e punhos;
  • Repetir o passo anterior;
  • Secar completamente, utilizando toalhas de papel descartáveis.

Como vimos, a técnica de Ayliffe é versátil e pode ser usada nos três ambientes anteriormente referidos (social, clínico e cirúrgico).

 

3.4 Limpeza e a Desinfeção do Consultório

Após cada atendimento, o gabinete clínico deve ser arejado com as portas e janelas abertas por no mínimo 15 minutos, para que o aerossol formado possa dispersar ou desaparecer. Passado esse tempo, o Auxiliar de Medicina Dentária deve começar a recolher todos os resíduos gerados durante o procedimento. Tudo o que for descartável deverá ser colocado no lixo infetado, já os instrumentais e peças de mão utilizadas deverão ser direcionados para a limpeza, para passar pelo processo de limpeza, desinfeção e esterilização.

Na sequência, deve ser realizada a limpeza do gabinete clínico, incluindo a cadeira dentária, mesas e bancadas, mocho e cadeiras, chão e paredes. O ideal é que se retire das bancadas tudo que não for útil para o atendimento, facilitando o processo de limpeza e desinfeção.

O Auxiliar de Medicina Dentária que realizar a limpeza e desinfeção deve respeitar o protocolo seguindo os seguintes princípios:

  • Começar pela área menos contaminada para a mais contaminada;
  • De cima para baixo;
  • De dentro para fora.

Contudo, algumas superfícies não permitem receber produtos químicos, pois estes podem danificar e prejudicar o funcionamento dos equipamentos. Neste caso, pode optar-se pelo uso de barreiras mecânicas, com filmes de PVC ou sacos plásticos. Já em superfícies como carrinho auxiliar e bancada podem ser utilizadas barreiras de TNT (tecido não tecido), lembramos que todas as barreiras necessitam ser trocadas entre a cada atendimento.

 

3.5 Limpeza e Desinfeção dos Ambientes Comuns

Tal como no gabinete clínico, é fundamental fazer uma limpeza minuciosa nos restantes ambientes da clínica, tais como a sala de espera e casas de banho.

É conveniente retirar os objetos que ficavam nas bancadas e prateleiras, bem como restringir ou controlar objetos utilizados pelos pacientes como canetas, pranchetas e telefones para evitar a contaminação. As cadeiras também devem ser distribuídas de forma que se mantenha a distância de 1 metro entre um paciente e outro e deverão ser desinfetadas sempre que o paciente saia do local para ser atendido.

É preciso também manter o ambiente ventilado, deixando as portas e janelas abertas para que ocorra a passagem de ar, pois os equipamentos de ar condicionado comuns não fazem reposição do ar, apenas aproveitam o mesmo ar do local. Devemos também fazer a manutenção e troca do filtro de ar condicionado periodicamente.

 

3.6 Limpeza, Desinfeção e Esterilização de Material

A limpeza é a remoção mecânica de sujidades, com o objetivo de reduzir a carga microbiana, a matéria orgânica e os contaminantes de natureza inorgânica, de modo a garantir o processo de desinfeção e esterilização e a manutenção da vida útil do material ou instrumento. Deve ser realizada em todos os materiais e instrumentos expostos ao ato clínico ou operatório.

Diversos estudos têm demonstrado que a limpeza reduz, a maior parte do contingente microbiano presente nos materiais, instrumentos e superfícies. Deve ser feita utilizando-se os EPIs próprios para uso no gabinete clínico (luvas de borracha resistente e de cano longo, gorro, máscara, óculos de proteção, avental impermeável e calçado fechado).

O manuseio dos materiais e instrumentos deve ser cuidadoso para evitar acidentes ocupacionais. Os instrumentos que têm mais de uma parte devem ser desmontados, as pinças e tesouras devem ser abertas, de modo a expor ao máximo suas reentrâncias.

A limpeza deve ser realizada imediatamente após o uso dos instrumentos. Pode-se fazer a imersão em solução aquosa de detergente com pH neutro ou enzimático, usando uma tina plástica, mantendo os instrumentos totalmente imersos para assegurar a limpeza adequada. O preparo da solução e o tempo de permanência do material imerso devem seguir as orientações recomendadas pelo fabricante. Depois deve enxaguá-los com água corrente. Se persistir alguma sujidade em ranhuras, por exemplo, deve retirá-la com escova e detergente.

A limpeza deve começar imediatamente após o uso do material para evitar o ressecamento da matéria orgânica sobre os materiais e deve preceder os processos de desinfeção e esterilização, pois a sujidade, principalmente a matéria orgânica (sangue e saliva), invalidam a ação completa dos desinfetantes e esterilizantes empregados. Além disso, os detritos presentes nos materiais podem proteger e nutrir os microrganismos.

Utilizam-se normalmente detergentes que facilitem a remoção da sujidade.  A limpeza pode ser realizada por método manual ou automatizado.

A limpeza manual é o procedimento que se destina à remoção de sujidades nos materiais. Esta deve ser realizada com água, detergente e escova. O tempo em que o material permanece de molho em solução de água e detergente serve para que as sujidades mais pesadas sejam removidas e a matéria orgânica depositada seja amolecida. Após a limpeza, o material deve secar sobre superfície limpa e protegida para o perfeito escoamento da água.

No mercado encontramos vários tipos de detergentes: neutros (limpeza manual de equipamentos); desincrustantes e enzimáticos que facilitam a remoção de sujidades por imersão, sendo que o desincrustante é mais corrosivo e menos eficaz que o enzimático.

 

3.7 Limpeza Manual

É o procedimento realizado manualmente para a remoção de sujidade, por meio de ação física aplicada sobre a superfície do instrumento, devemos usar:

  • Escova de cerdas macias e cabo longo;
  • Escova de aço para brocas;
  • Pia com tina profunda específica para este fim e preferencialmente com torneira com jato direcionável;
  • Detergente e água corrente.

O enxaguamento por água, deve ser realizado com água potável e corrente, garantindo a retirada total das sujidades e do produto utilizado na limpeza. A qualidade da água é muito importante para a durabilidade dos instrumentos, sendo recomendado que o último enxaguamento seja feito com água sem metais pesados.

A inspeção visual, serve para verificar a eficácia do processo de limpeza e as condições de integridade dos instrumentos. Se necessário, deve-se proceder novamente à limpeza dos instrumentos.

Quando os instrumentos forem fabricados em liga metálica sujeita a corrosão, como o aço, ou apresentar articulações com componentes de ligas metálicas diferentes, há sempre a possibilidade de desenvolver corrosão quando o processo de esterilização for realizado em autoclave. Nesses casos, pode-se prevenir a corrosão com a utilização de leite mineral hidrossolúvel ou de produtos similares como a solução aquosa de nitrito de sódio a 1%.

Os materiais sujeitos à corrosão deverão, após a limpeza, ser imersos em solução recomendada pelo fabricante, secos e embalados para serem esterilizados.

A corrosão poderá ser removida, desde que não comprometa a utilização do instrumento, pela utilização de soluções ácidas pré-aquecidas, seguindo as orientações do fabricante. Não devem ser utilizados produtos e objetos abrasivos.

A secagem deve ser criteriosa para evitar que a humidade interfira nos processos e para diminuir a possibilidade de corrosão dos instrumentos. Pode ser realizada com a utilização de pano limpo e seco, exclusivo para esta finalidade, secador de ar quente/frio, estufa regulada para este fim e/ou ar comprimido medicinal.

 

3.8 Limpeza Mecânica

É o procedimento automatizado para a remoção de sujidade por meio de máquina de lavar com jatos de água ou máquina de lavar com ultrassom de baixa frequência, que operam em diferentes condições de temperatura e tempo. Este tipo de limpeza diminui a exposição dos profissionais aos riscos ocupacionais de origem biológica, especialmente, aos vírus da hepatite e HIV.

 

CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS E INSTRUMENTOS EM FUNÇÃO DO TIPO DE LIMPEZA

Vejamos agora uma breve classificação dos materiais em função do tipo de limpeza recomendado.

Materiais críticos, são aqueles que penetram através da pele e mucosas, atingindo os tecidos subepiteliais, sistema vascular e outros órgãos isentos de flora bacteriana própria, bem como materiais que estejam diretamente conectados com estes. Exemplos: instrumentos de corte e de ponta, pinças, agulhas.

Materiais semicríticos, são aqueles que entram em contacto com a pele não íntegra ou com mucosas íntegras. Por exemplo, máscara facial, máscara de inalação entre outros. Requerem desinfeção de alto nível ou esterilização, sendo que a esterilização é a opção mais segura para materiais semicríticos que possam ser submetidas a esse tipo de procedimento.

Materiais não críticos, são todos que não entram em contacto com a boca e as mucosas. Por exemplo, esferográfica e computador. Requerem desinfeção de baixo e médio nível antes de serem novamente utilizados.

 

3.9 Desinfeção

A desinfeção é o próximo passo depois da limpeza. Ela consegue eliminar a maioria dos microrganismos, exceto os esporos. Os esporos são unidades de reprodução de plantas, algas e fungos que se descolam, podem contaminar os pacientes, causando doenças. Uma das mais conhecidas é a histoplasmose.

A desinfeção é o processo aplicado a um material ou superfície que visa a eliminação de microrganismos, exceto esporos, das superfícies fixas de equipamentos e mobílias utilizadas em assistência à saúde.

A desinfeção é indicada para materiais e equipamentos semicríticos que entram em contacto com membranas mucosas ou pele não íntegra. Sendo os mais comuns, os alicates e as brocas, entre outros.

Os métodos de desinfeção podem ser físicos, por ação térmica, ou químicos, pelo uso de desinfetantes. Os físicos são os equipamentos de pasteurização assim como desinfetadoras e máquinas de lavagem de descarga.

Alguns fatores podem influenciar na eficiência da desinfeção, nomeadamente:

  • Limpeza anterior mal realizada;
  • Tempo de exposição ao germicida;
  • Solução germicida inapropriada à ocasião;
  • Temperatura;
  • PH do processo.

 

CLASSIFICAÇÃO DA DESINFEÇÃO

A desinfeção pode ser classificada em três níveis:
:: NÍVEL BAIXO, aconselhável para:
– Bactérias em forma vegetativa, alguns vírus e fungos são desintegrados;
– Esporos bacterianos, vírus da hepatite B e da tuberculose.
Os vírus lentos podem sobreviver.
As soluções usadas são o álcool etílico, o hipoclorito de sódio, o álcool isopropílico e o quaternário de amónia.

:: NÍVEL MÉDIO, aconselhável para:
– Retirar os mesmos microrganismos que a de baixo nível.
– Eliminar a bactéria da tuberculose e de outros vírus e fungos.
Esporos e vírus lentos podem conseguir resistir a este tipo de desinfeção (nível médio).
As soluções usadas neste nível são o álcool propílico, o isopropílico, o hipoclorito de sódio, fenólicos e iodóforos.

:: NÍVEL ALTO, aconselhável para:
– Destruir bactérias, fungos e alguns esporos;
Podem resistir vírus lentos e outros tipos de esporos.
As soluções usadas são o hipoclorito de sódio, o glutaraldeído, a solução de peróxido de hidrogénio, o cloro, o ácido peracético,o orthophtalaldeído, e a água superoxidada.

 

3.10 Esterilização

A esterilização deve ocorrer depois de ter lavado e desinfetado o material.
A esterilização é o processo que oferece maior segurança e economia no combate à infeção cruzada em Medicina Dentária. Pode ser realizada em autoclave convencional horizontal ou autoclave a alto vácuo.

O autoclave é uma caixa metálica de paredes duplas, delimitando assim duas câmaras, uma mais externa que é a câmara de vapor, e uma interna, que é a câmara de esterilização ou de pressão de vapor.

A esterilização pelo vapor sob pressão, age através da difusão do vapor de água para dentro da membrana celular (osmose), hidratando o protoplasma celular, produzindo alterações químicas (hidrólise) e coagulando mais facilmente o protoplasma, sob ação do calor.

A entrada de vapor na câmara de esterilização faz-se por uma abertura posterior e superior, e a saída de vapor faz-se por uma abertura anterior e inferior, devido ao facto de ser o ar mais pesado que o vapor. O vapor é admitido primeiro na câmara externa com o objetivo de aquecer a câmara de esterilização, evitando assim a condensação de vapor nas suas paredes internas.

Sabe-se que 1 grama de vapor saturado sob pressão, liberta 524 calorias ao condensar-se. Ao entrar em contacto com as superfícies frias o vapor saturado condensa-se imediatamente, molhando e aquecendo o objeto, fornecendo assim dois fatores importantes para a destruição dos microrganismos.

Para testar a eficiência da esterilização em autoclave, podemos utilizar indicadores, que podem ser tintas que mudam de cor quando submetidas a determinada temperatura durante certo tempo, ou tiras de papel com esporos bacterianos, que são cultivados em caldos após serem retirados da autoclave.

 

EMBALAMENTO DO MATERIAL

O embalamento do material e/ou instrumental a ser esterilizado no autoclave deve obedecer a uma sequência na execução das dobras que tem por finalidade manter a assepsia da área de trabalho, evitando a contaminação por manipulação inadequada do material estéril.

A embalagem poderá ser feita em algodão cru duplo, papel kraft, papel grau cirúrgico, filmes de poliamida ou papel crepado. Contudo existem atualmente no mercado, boas embalagens a preços muito competitivos. Todos os materiais devem ser esterilizados dentro de embalagens pequenas, fechadas com fita adesiva comum ou com seladora automática, contendo identificação do material e data da esterilização.

As embalagens devem ser colocadas dentro da autoclave deixando espaços entre eles, permitindo a circulação do vapor. Deverá ser repetida a esterilização se a embalagem estiver danificada, se apresentar humidade ou se o marcador físico não estiver com a cor alterada.

A água utilizada no reservatório da autoclave deve ser filtrada ou destilada.

 

IDENTIFICAÇÃO DO MATERIAL

Para identificar o material devem ser utilizadas ou fita adesiva branca larga para alta temperatura.

A identificação deverá conter:
– Nome;
– Data de esterilização;
– Validade (de acordo com o tipo de embalagem e condições de armazenagem)
– Nome do pacote de acordo com a padronização (ex.: isolamento, fórceps, limas, etc.).

A identificação deve ocorrer antes de fixar na embalagem e preencher os dados antes de realizar o embalamento. Este procedimento é importante para permitir a legibilidade dos dados e evitar a perfuração da embalagem com a caneta.

 

TEMPO E TEMPERATURA DE ESTERILIZAÇÃO

Usar exposição por 30 (trinta) minutos a uma temperatura de 121ºC, em autoclaves convencionais (uma atmosfera de pressão). Usar exposição por 15 (quinze) minutos a uma temperatura de 132ºC, em autoclaves convencionais (uma atmosfera de pressão). Usar exposição por 04 (quatro) minutos a uma temperatura de 132ºC, em autoclave de alto vácuo.

 

PRAZO DE VALIDADE DA ESTERILIZAÇÃO

O material esterilizado, terá uma validade de sete dias, a contar da data de esterilização, desde que não tenha sido retirado da embalagem protetora. A validade da esterilização só é garantida se as embalagens se mantiverem íntegras, sem furos, sem humidade, sem partículas contaminantes, até o uso.

Nenhuma embalagem descartável, após passar pelo processo de autoclavagem, pode ser reutilizada, pois as fibras do papel e tecido perdem a elasticidade após o processo e, num segundo processo, não permitem a passagem do vapor.

 

CUIDADOS COM A PEÇA DE MÃO

Com base nas instruções de fábrica para as peças de mão autoclaváveis, apenas se justifica a desinfeção externa desses dispositivos. O tratamento pelo calor, porém, exige que sejam seguidas as instruções do fabricante quanto à limpeza e lubrificação dos mesmos, para prolongar sua vida útil. Juntamente com a peça de mão de alta rotação e o sistema de baixa rotação (micromotor, peça reta e contra-ângulo), o fabricante pode fornecer o óleo que deve ser usado na lubrificação. A lubrificação desses elementos é feita antes da esterilização, para evitar o contacto do instrumento esterilizado, com um aplicador de óleo.

 

4. Barreiras Físicas de Proteção

As superfícies e mobiliários estão sujeitos ao toque das mãos, respingos e aerossóis.

As barreiras físicas são importantes aliadas no controlo de infeção das superfícies e mobiliários da clínica odontológica. A principal função das barreiras é a proteção das mãos da equipa de Saúde Oral. Como a maioria dos procedimentos dentários é clínico, devemos preocupar-nos com a proteção das superfícies que ficam em contacto e no envolvimento do paciente e profissionais.

O objetivo das barreiras é evitar infeção cruzada, evento bastante comum em procedimentos clínicos.

Embora atualmente sejam produzidas cadeiras e mochos mais lisos e sem costuras, pontas autoclaváveis, equipamentos com comandos acionados com os pés, entre outras adaptações. Entretanto, botões e alças devem ser recobertos com barreira impermeável (do tipo filme plástico), campo de algodão estéril ou material não-tecido (TNT), nos casos cirúrgicos.

 

As barreiras devem ser trocadas entre cada atendimento, promovendo a limpeza e a desinfeção, com álcool a 70% ou ácido peracético, a cada troca.

As sobreluvas de plástico são barreiras bastante utilizadas em situações onde há trabalho a quatro mãos ou quando o Médico-dentista se encontra sem Auxiliar e, durante o atendimento, necessite procurar objetos ou abrir gavetas.

Todas as barreiras devem ser colocadas unicamente sobre as superfícies que serão utilizadas em cada atendimento. Não é correto “plastificar” o gabinete clínico. Esta conduta, embora dê uma falsa aparência de controlo de infeção, desencadeia um aumento considerável da infeção cruzada pois, dificilmente a equipa de trabalho dispõe de tempo para trocar todas as barreiras no intervalo de pacientes.

Basicamente, devemos utilizar barreiras nas seguintes superfícies:
– Botões da cadeira, alça do refletor, encosto do mocho e as pontas da unidade de sucção (aplicar filme de PVC);
– Superfícies da bancada e do carrinho auxiliar (cobrir com pano de campo descartável);
– Pontas como caneta de alta rotação, devemos envolver com protetor descartável de látex ou “sacolas”;
– Cone e controle de aparelhos de raios X;
– Cabos de espelho (não odontológicos).

Envolver com filme de PVC outras superfícies como:
– Seringa tríplice e os seus encaixes, preferencialmente usar pontas descartáveis;
– Pontas, mangueiras de aspiração, botões de controlo e fotopolimerizador.

 

5. Doenças Infectocontagiosas e a Prática Clínica em Medicina Dentária

5.1 Herpes Labial

O herpes labial é uma doença viral, causada pelo Vírus Herpes Simplex (HSV) que se manifesta através de pequenos agregados de bolhas (vesículas) nos lábios e zonas adjacentes.

Um herpes labial ativo é altamente contagioso, existindo um risco de infeção cruzada na consulta de Medicina Dentária, visto que pode ser transmitido através do contacto direto ou indireto através de sangue, saliva, e especialmente pelo uso de aerossóis, característicos dos instrumentos usados na consulta, que libertam pequenas gotículas de água, podendo disseminar o vírus.

Esta disseminação do vírus pode contagiar outras áreas da pele do paciente e/ou médico-dentista e assistente, mas torna-se especialmente preocupante quando entra em contacto com os olhos, podendo desenvolver-se herpes ocular que pode levar a complicações graves.

De forma a que o tratamento seja efetuado com a maior segurança possível, a consulta de Medicina Dentária deve ser adiada, salvo raras exceções de tratamento urgente.

 

 5.2 HIV e Sida

A Síndrome Da Imunodeficiência Adquirida (SIDA) é uma manifestação clínica avançada do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e suas principais vias de transmissão são:

  • Sexual, por meio das relações sexuais;
  • Sanguínea, por partilha de agulhas, seringas e transfusões de sangue;
  • Perinatal, através da transmissão de mãe para o filho durante a gestação, no momento do parto ou durante o aleitamento materno.

Além dessas, também pode ocorrer a transmissão ocupacional, ocasionada em acidentes de trabalho por profissionais da área da saúde que sofrem ferimentos com instrumentos perfurocortantes contaminados com sangue de pacientes infetados pelo vírus HIV.

São considerados portadores de SIDA, todo indivíduo adulto (maior que 13 anos) infetado que apresentar contagem das células CD4 abaixo de 200, independente da presença de doenças associadas, ou que apresente alguma doença tida como definidora da SIDA.
Em crianças, os critérios para determinação da doença incluem a confirmação de infeção pelo HIV e a presença da doença definidora de SIDA.

 

COMO DEVE OCORRER O ATO CLÍNICO DO PACIENTE COM HIV?

O paciente com HIV deve comunicar a sua condição ao dentista, uma vez que os imunodeprimidos recebem cuidados especiais durante o tratamento dentário.

O segundo passo é o dentista fazer uma anamnese detalhada, indicando alterações provocadas pelo HIV. Também é aconselhável pedir a lista de medicamentos a tomar, assim como o nome e o contacto do médico que acompanha o paciente. Em alguns casos, pode ser necessário discutir o tratamento dentário.

O HIV pode causar alterações na cavidade oral, como candidíase, leucoplasia pilosa, doença periodontal, lesões por HPV e ulcerações. O dentista deve conhecer essas manifestações para indicar o melhor tratamento.
Além da anamnese, o profissional pode solicitar hemograma completo, contagem diferencial CD4 e CD8 e carga viral.

Pacientes que estejam com o sistema imunológico muito comprometido devem adiar o tratamento dentário até atingir certa melhoria na saúde. Só devem ser submetidos a procedimentos aqueles que tiverem condições de tolerar as intervenções.
Já os pacientes que estão com carga viral indetetável podem realizar diversos tipos de tratamentos, incluindo cirurgias e implantes.

 

É POSSÍVEL CONTRAIR HIV NA CLÍNICA DENTÁRIA?

Os riscos são baixos até porque o gabinete dentário é um local com segurança controlada. A limpeza da clínica, dos equipamentos e dos instrumentais utilizados pelo dentista passa por processos rigorosos para prevenção de doenças e de agentes infeciosos. A prevenção também conta com o uso de luvas, máscaras, aventais ou batas e óculos.

Materiais que não podem ser esterilizados no autoclave devem ser descartados em lixos especiais. A esterilização em autoclave é mais segura do que a feita em estufa, que está sujeita a erros.
Terminada a consulta, luvas, máscaras, pontas de aspirador, seringas e todos os materiais descartáveis devem ser descartados no lixo.

 

5.3 Hepatite

A hepatite é uma doença viral e um grave problema de saúde pública no mundo todo. A doença ocorre por meio da transmissão de um vírus que provoca uma inflamação no fígado e pode causar alterações leves, moderadas ou graves.

Quando manifestados, o paciente pode vir a ter sintomas variados, nomeadamente:

  • Cansaço;
  • Febre;
  • Mal-estar;
  • Enjoo;
  • Dor abdominal;
  • Pele e olhos amarelados;
  • Urina escurecida;
  • Fezes claras;
  • Entre outros.

 

COMO É TRANSMITIDA A HEPATITE?

A transmissão pode ocorrer de duas formas, através do contacto direto (paciente para profissional e vice-versa) ou contacto indireto (paciente para paciente por material contaminado).

O vírus afeta principalmente o fígado e possui 5 classificações: A, B, C, D e E.  A Hepatite é considerada a doença viral de maior risco para a saúde oral.
A hepatite B é apontada como a maior causa de mortalidade em clínicas de Medicina Dentária.

 

RISCOS NA CLÍNICA DENTÁRIA

Vários estudos indicam que o risco de aquisição do VHB por meio de acidente perfurocortante com sangue sabidamente contaminado varia de 6 a 30%. Sabe-se que uma quantidade ínfima de sangue contaminado (0,0001 ml) é suficiente para a transmissão do vírus.

Em acidente perfurante ou cortante envolvendo sangue de fonte desconhecida, o risco de aquisição do VHB é 57 vezes superior ao HIV, e o risco de morte é 1,7 vezes superior para o VHB.

O VHB resiste até uma semana em superfície seca. O soro perde a infetividade quando submetido à fervura por 2 minutos, ao calor seco (160°C por uma hora) ou a autoclave a 121°C por 20 minutos.

Devido ao risco, é necessário seguir rigorosamente as medidas de biossegurança. Além da utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), sugere-se o cuidado reforçado no uso de equipamentos pontiagudos ou perfurocortantes.

 

MEDIDAS DE PREVENÇÃO CONTRA A HEPATITE

Apesar do assunto ser muito estudado e conhecido, é sempre bom relembrar as formas de proteção, a fim de prevenir a existência da Hepatite na prática da Medicina Dentária, nomeadamente:

  • Vacinação contra o VHB;
  • Manutenção de autoclaves;
  • Instrumentais perfeitamente higienizados;
  • Realizar sempre anamnese questionando histórico de doenças;
  • Desinfeção constante das superfícies do consultório.

Em caso de atendimento a pacientes com Hepatite, é principalmente importante avaliar a suscetibilidade à infeção e hemorragia e a relação do seu organismo com medicamentos. Além disso, efetuar uma anamnese com foco na doença, descrevendo a situação atual da mesma. Testes de coagulação também são indicados nesses casos.

 

5.4 Tuberculose

A tuberculose é uma doença infeciosa que tem como agente causal a bactéria Mycobacterium Tuberculosis, a qual tem predileção pelos pulmões, mas também pode acometer outros locais como rins, ossos, gânglios, cavidade oral, meninges, entre outros.

Considerando o último relatório global realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a maioria das pessoas que desenvolvem a doença são adultos: os homens representaram 56% de todos os casos, as mulheres adultas representaram 33% e as crianças, 11%.

Embora qualquer indivíduo possa contrair e manifestar tuberculose, alguns fatores quando relacionados podem aumentar a predisposição para doença. Como, por exemplo, desnutrição, infeção por HIV, transtornos relacionados com o uso de álcool, tabagismo e diabetes.

A infeção deve ser distinguida da doença ativa, como a tuberculose primária e secundária. A tuberculose primária ocorre em pessoas não expostas ao microrganismo e quase sempre envolve pulmões. A tuberculose secundária geralmente ocorre numa fase mais tardia da vida, a partir da reativação do microrganismo em pessoas previamente infetadas, causando o comprometimento do sistema de defesa do hospedeiro.

A tuberculose primária é usualmente assintomática, com a presença ocasional de febre. Na tuberculose secundária o principal sintoma é a tosse por tempo prolongado, geralmente superior a três semanas, que pode vir acompanhada de outros sinais e sintomas, como febre baixa, falta de apetite, perda de peso, sudorese noturna, cansaço, dor no peito e escarro com sangue.

A transmissão ocorre por via aérea a partir da inalação de núcleos secos de partículas contendo bacilos expelidos pela tosse, fala ou espirro do doente com tuberculose ativa.

Quanto maior a intensidade e a frequência da tosse, o tempo de permanência do indivíduo com tuberculose com pessoas que moram na mesma casa, que trabalham ou dividem o mesmo ambiente, e quanto menor a ventilação do local, maior a probabilidade de infeção pelo bacilo.

 

RISCO DE TRANSMISSÃO DE TUBERCULOSE NA PRÁTICA DA MEDICINA DENTÁRIA

A tuberculose é uma doença em relação à qual os profissionais de Medicina Dentária devem prestar muita atenção, uma vez que o ambiente da clínica favorece a sua disseminação, principalmente pela proximidade dos profissionais com o paciente.

 

Sendo assim, o risco de contaminação biológica torna-se preocupante se existir desconhecimento, dos profissionais e das suas equipas, sobre fatores importantes como formas de transmissão.

O ambiente no gabinete de medicina dentária, pelas suas particularidades, possibilita que o ar seja uma via potencial de transmissão de microrganismos, por meio das gotículas e dos aerossóis provenientes dos instrumentos rotativos, seringas tríplices, equipamentos ultrassónicos e por jateamento.

De tal maneira que podem contaminar diretamente os profissionais ao atingirem a pele e a mucosa, por inalação e ingestão, ou indiretamente, quando contaminam as superfícies.

Para promover a prevenção e controlo de riscos, no gabinete de medicina dentária, por forma a reduzir os riscos de contaminação com o vírus VHB, recomenda-se:

  • Usar dique de borracha, sempre que o procedimento permitir;
  • Usar aspiradores de alta potência;
  • Evitar o uso da seringa tríplice na forma de spray, isto é, evitar acionar os dois botões ao mesmo tempo;
  • Regular a saída de água de refrigeração;
  • Higienizar previamente a boca do paciente mediante bochecho com antisséptico;
  • Manter o ambiente ventilado;
  • Usar exaustores com filtro;
  • Usar máscaras de proteção respiratórias;
  • Usar óculos de proteção;
  • Evitar contacto dos profissionais suscetíveis com os pacientes suspeitos.

Além disso, aconselha-se a que o atendimento dentário à pessoa com possibilidade de transmitir a tuberculose ocorra apenas em caráter de urgência, evitando-se ao máximo procedimentos que gerem aerossóis, como profilaxias, restaurações, entre outros.

 

5.5 COVID-19

O coronavírus é um vírus do tipo zoonótico que pertence à família Coronaviridae, possui elevado potencial para provocar infeções respiratórias. Inicialmente, o vírus SARS-CoV-2 foi denominado como novo coronavírus.

A COVID-19 foi inicialmente identificada na cidade Wuhan província de Hubei, na China, em dezembro de 2019 e, de forma avassaladora propagou-se pelo mundo, tornando-se uma pandemia. Desde então, houve o início de estratégias com o objetivo de detetar as infeções causadas pelo SARS-CoV-2 e desenvolver medidas de prevenção referentes à propagação do mesmo, em todos os países.

 

COMO É TRANSMITIDO O COVID-19?

A transmissão do vírus pode ocorrer de duas formas diferentes:

  • DIRETA, principalmente de pessoa para pessoa por meio das gotículas respiratórias produzidas quando uma pessoa infetada espirra ou tosse;
  • INDIRETA, através do contacto com elementos/objetos contaminados com o vírus e o rosto (olhos, nariz, boca), ou a inalação de aerossóis dispersos no ambiente.

A pandemia causada pelo SARS-CoV-2 fez com que muitos profissionais da área da saúde, entre eles, os Dentistas modificassem a forma como realizam os seus atendimentos. Ocorrendo assim, mudanças expressivas nas Clínicas de Medicina Dentária no que diz respeito à rotina e aos atendimentos realizados. Isso porque os pacientes e profissionais da Clínica de Medicina Dentária são frequentemente expostos a microrganismos patogénicos, incluindo vírus e bactérias que podem infetar a cavidade oral e o trato respiratório. O ambiente do atendimento dentário carrega um risco de infeção viral devido a procedimentos que envolvem comunicação face a face com pacientes e exposição frequente à saliva, sangue e outros fluidos corporais, bem como manuseio de instrumentos que provocam perfuração ou corte.

 

Muitos dos procedimentos realizados nas clínicas dentárias, que utilizam alta rotação, seringa tríplice, aparelhos ultrassónicos, entre outros, produzem aerossóis e gotículas que podem estar contaminadas com o vírus. Deste modo, a propagação aérea dessas gotículas e aerossóis são preocupações de grande importância em Clínicas de Medicina Dentária, uma vez que é difícil evitar a produção de grandes quantidades de aerossóis e gotículas misturadas com a saliva do paciente e até sangue durante a prática clínica.

Em virtude de alguns pacientes portadores do SARV-CoV-2 serem assintomáticos, indica-se que todos os pacientes sejam tratados como potenciais fontes de transmissão do vírus.
Vejamos algumas recomendações para que o atendimento seja realizado com segurança, por forma a diminuir o risco de contaminação cruzada entre os pacientes e a equipa de saúde oral.

:: Referente ao Paciente
É recomendado que o mesmo compareça no consultório no horário previamente agendado; sendo realizada a verificação de sinais e sintomas e determinação do horário da consulta para que o Dentista programe os atendimentos baseado no tempo de espera em cada processo de desinfeção do gabinete.

:: Referente ao Auxiliar de Medicina Dentária
O mesmo deve ser responsável por organizar o gabinete dentário, para que uma menor quantidade de material fique exposto sobre as bancadas, realizar a desinfeção e limpeza do gabinete, e ainda deve receber treino em relação a paramentação e desparamentação dos EPIs (máscara N95, gorro, óculos, protetor facial, avental impermeável descartável, luvas) e, sobretudo, ausentar-se das atividades profissionais quando apresentar sinais e sintomas de COVID-19.

:: Referente ao Dentista
Durante o atendimento presencial o profissional deve lavar bem as mãos com água e sabão e fazer uso dos EPIs necessários (máscara N95, gorro, óculos, protetor facial, avental impermeável descartável, luvas) e optar pelo uso de instrumentos de alta rotação sem spray de água, com preferência por instrumentos de baixa rotação sem água ou utilização de instrumentos manuais como as curetas; não utilizar a seringa tríplice, e substituir a lavagem com soro fisiológico; não usar a cuspideira; aspirar a cavidade oral do paciente com frequência; usar isolamento absoluto; o profissional deve optar por procedimentos que não gerem aerossóis como ART (Tratamento Restaurador Atraumático) e restaurações provisórias. Além de ausentar-se das atividades profissionais quando apresentar sinais e sintomas de COVID-19.

:: Referente ao uso de EPIs
É necessário que tanto o Dentista, como o Auxiliar de Medicina Dentária, realizem a sequência correta de paramentação; retirem adornos; troquem o avental impermeável a cada atendimento; realizem a troca da máscara N95 caso apresente sujidade na superfície e/ou humidade; usem protetores faciais pois diminui o contacto entre gotículas e aerossóis com a face do profissional e a máscara N95; façam a lavagem com frequência das mãos com água e sabão, e desinfeção com álcool a 70º; retirem os EPIs com luva limpa, e novamente lavagem e desinfeção das mãos; realizar a desinfeção dos óculos de proteção e do protetor facial lavando com água e sabão e depois desinfeção com álcool a 70°; retirar-se da sala clínica para remoção da N95; proceder a limpeza da cavidade nasal no fim do dia de trabalho com soro fisiológico ou água da torneira ou com auxílio do cotonete embebido em água.

Dentistas do sexo masculino devem fazer a barba para maior selamento facial e efetividade da máscara N95. Os Dentistas do sexo feminino não devem utilizar maquilhagem. Sugerimos que com a máscara N95 em posição, o profissional fale somente o necessário evitando a diminuição do selamento da máscara com a pele do rosto.

:: Referente ao Consultório
Depois de terminar o atendimento é recomendado que o gabinete clínico fique fechado por um período de 15 minutos para que ocorra a sedimentação das partículas de aerossóis do ar nas superfícies. Após este período é necessário realizar a limpeza terminal do consultório (cadeira dentária, mesas, cadeiras, chão e paredes do consultório) com 62-71% de etanol ou 0,1% de hipoclorito de sódio em 1 minuto ou quaternário de amónia 50%.

O uso de barreiras colocados sobre a cadeira e mobiliário facilitam a limpeza do consultório, pois estes protegem os equipamentos dos aerossóis formados, e devem somente ser retirados no momento da desinfeção do consultório.

:: Referente à Sala de Espera
Devem remover-se as revistas ou demais artefactos de manuseio; orientação de etiqueta respiratória, lavagem das mãos ou uso de álcool gel; o paciente deve realizar a lavagem do rosto previamente ao procedimento dentário; orientar o paciente a tocar o mínimo nos objetos; os pacientes não devem ficar à espera na sala de espera, por isso a importância do contacto telefónico e agendamento dos pacientes; limpeza da sala de espera a cada paciente; presença de acompanhante somente se necessário.

A aplicação dos cuidados citados, permite menor formação de aerossóis e maior biossegurança, reduzindo infeções cruzadas, proporcionando maior e mais segurança para a realização dos procedimentos dentários durante a pandemia do SARS- CoV-2.