Índice
PARTE A — O papel do tutor
1 – O papel do tutor
1.1 – O tutor no ensino e formação à distância
1.2 – As dimensões do papel do tutor
1.2.1 – Tutor ativo
1.2.2 – Tutor passivo
1.3 – Interações pedagógicas à distância
1.4 – Funções do tutor na formação online
1.5 – As competências do tutor na formação online
1.6 – Tipos de discurso do tutor
1.6.1 – Guia generativo
1.6.2- Facilitador conceptual
1.6.3 – Reflexão pessoal Mediador
1.6.4 – Role play
1.7 – Estratégias do tutor
1.7.1 – Estratégias de focalização
1.7.2 – Estratégias de aprofundamento
1.8 – As expectativas dos formandos em relação ao tutor
1.9 – Síntese do módulo
PARTE B — O formando e a tutoria
2 – O formando e a tutoria
2.1 – O formando no centro do processo
2.2 – Características do formando online
2.3 – A função dos formandos na formação online
2.4 – Os problemas de aprender à distância
2.5 – Síntese do módulo
PARTE C — A formação online
3 – A formação Online
3.1 – Formação online: a nova forma de organização da formação profissional
3.2 – O contexto virtual e os agentes
3.3 – O modelo de ensino/aprendizagem online de Gilly Salmon
3.4 – Síntese do módulo
BIBLIOGRAFIA
PARTE A — O papel do tutor
1.1 – O tutor no ensino e formação à distância
A tutoria como método surgiu no século XV na universidade, onde foi usada como orientação de caráter religioso aos alunos. No século XX, o tutor assume um papel de orientador dos trabalhos académicos (Sá, 1998, citado por Machado, 2003).
O tutor necessita de estar atento a todas as características dos formandos, ao modo como encaram a aprendizagem e as circunstâncias da sua vida que podem ter uma influência na mesma. Assim, o apoio do tutor pode ser apresentado em duas vertentes:
- apoio académico;
- apoio não-académico.
O apoio académico consiste no apoio e nas orientações que o tutor dá aos seus formandos a nível das competências cognitivas, das competências de aprendizagem e dos conhecimentos. Este apoio engloba os aspetos cognitivos e intelectuais do formando e as questões que se relacionam com o trabalho sobre os conteúdos do curso.
O apoio não-académico consiste no aconselhamento ao formando, na ajuda na autoavaliação, na dinamização, no fomento da ação e na ajuda nos processos administrativos. Este tipo de apoio encontra-se relacionado com os aspetos afetivos e organizacionais envolvidos no processo de aprendizagem do formando.
1.2 – As dimensões do papel do tutor
Por exemplo, Garrison publica um artigo em 1985 em que defende que “a evolução tecnológica conduziu ao surgimento de paradigmas alternativos ao nível dos princípios e conceitos associados à Educação à Distância, identificando neste domínio a existência de três gerações de inovação tecnológica” (Garrison, in Gomes, 2003), as quais são consideradas na perspetiva das modalidades de comunicação bidirecional disponíveis:
- Autor – autor dos materiais de aprendizagem.
- Instrutor – o tutor deve dominar os conteúdos para fazer o acompanhamento dos formandos, esclarecer dúvidas relativas aos conteúdos, estimular a interação com o sistema e com os colegas numa ótica de aprendizagem colaborativa. Ainda avalia formativa e sumativamente os formandos e dá feedback, para que o formando regule o seu processo de autoaprendizagem. Para além destes aspetos, o tutor dá orientações sobre o modo de funcionamento e de utilização da plataforma informática.
- Facilitador – facilitador do processo de aprendizagem, na medida em que ajuda a regular e a orientar o processo de autoaprendizagem dos formandos.
- Moderador/Animador – o tutor deve ser um dinamizador da aprendizagem. Apresenta atividades, reconhece os interesses dos formandos e a diversidade das suas experiências, lança temas de debate e atividades de grupo (Rodrigues; Ferrão, 2006: 283284).
Distinguem-se dois tipos de tutor:
Tutor ativo
- Acompanha e intervém.
- Coloca questões aos formandos.
- Mais interventivo, dinamizador, provocador e colaborador no processo de aprendizagem do formando.
- Motiva constantemente os formandos.
- Dinamiza atividades relacionadas com conteúdos, comenta os trabalhos e dá respostas individuais.
Tutor passivo
- Acompanha, mas deixa fluir o formando.
- Responde às dúvidas e questões colocadas pelo formando. Dá resposta às necessidades do formando e do grupo.
- É mais reativo (reage às situações, não as provoca).
Caso prático exemplificativo da tutoria ativa.
PROFISS (Projeto de Formação Profissional para a Solidariedade e Segurança Social) surgiu no final de 2007 como iniciativa da Secretaria de Estado da Segurança Social – Ministério da Solidariedade e Segurança Social, no âmbito da implementação de uma nova política de desenvolvimento de recursos humanos.
“A tutoria ativa constituiu um dos principais fatores críticos de sucesso, devido à interatividade (com predominância de ferramentas assíncronas) estabelecida. Esta assentou numa relação pedagógica centrada em diversos fóruns de discussões temáticos (constituição de grupos com papéis de coordenador e de relator), visando a aplicação prática, em situações diversificadas, dos conteúdos estudados, tendo por base as vivências e os contextos profissionais, organizacionais e sociais dos diversos participantes. O regime de tutoria envolveu dois tutores por módulo, que, à semelhança de ambientes de formação presencial facilitadores da aprendizagem, orientam a sua ação para a motivação individual e grupal dos participantes, através da colocação de questões complementares de sensibilização à participação, com recurso à ferramenta de email do próprio software de elearning, e respondendo aos diversos tipos de questões colocadas pelos formandos, levando-os a momentos de reflexão individual e/ou grupal (…) a sinergia motivacional de grupo, indutora de uma concentração e disciplina de estudo eficazes, e de um clima de socialização e de sentimentos crescentemente positivos de pertença ao grupo virtual, foi garantido e cimentado.”
Mendeiros (2002)
1.3 – Interações pedagógicas à distância
A tutoria é essencial para desenvolver a autonomia dos formandos. No entanto, para que tal aconteça, são ainda fundamentais as interações pedagógicas. O contacto frequente entre o tutor e os formandos é fundamental para que estes mantenham a motivação, o que contribui para melhorar o seu desempenho.
A tutoria também é fundamental para regular as restantes interações pedagógicas, uma vez que pode orientar a interação entre o formando e os conteúdos e a interação entre os próprios formandos, de forma a construir um grupo de aprendizagem motivante e enriquecedor.
De acordo com Mason (1998, cit. Rodrigues, 2004: 73), as interações pedagógicas à distância podem ser agrupadas em três categorias:
- Interação formando / tutor – engloba todos os tipos de interação entre o tutor e o formando relevantes para o processo de aprendizagem.
- Interação formando / conteúdo – para aprender o formando terá que interagir com o conteúdo em todos os domínios envolvidos no processo de aprendizagem – cognitivo, psicomotor e afetivo.
- Interação formando / formando – no ensino e formação à distância a aprendizagem com os pares é importante, por exemplo, quando fazem um trabalho de grupo (aprendizagem formal) ou quando discutem um tema ou esclarecem dúvidas entre si (aprendizagem informal). Esta interação poderia ser complexa de acontecer devido à situação de isolamento do formando à distância. No entanto, a tecnologia veio superar esta lacuna, possibilitando a exploração da interação entre os formandos de uma forma mais frequente e sistemática, nomeadamente através da exploração de estratégias de aprendizagem colaborativa (eTrainers: 185186).
1.4 – Funções do tutor na formação online
A função do tutor na formação online pode abarcar diferentes tarefas:
- Acolher os formandos
- Atuar de modo a que os chats sejam produtivos em termos de aprendizagem
- Apoiar tecnicamente os participantes dos cursos
- Avaliar a aprendizagem, através de diferentes instrumentos e ferramentas
- Clarificar e explicar os conteúdos e as dúvidas
- Comentar os trabalhos e as atividades realizadas pelos formandos em diferentes ferramentas
- Contribuir para a melhoria do processo de aprendizagem
- Controlar o ambiente social das comunicações síncronas e assíncronas
- Disponibilizar a informação e referências bibliográficas
- Estimular a participação de todos
- Motivar e encorajar os diferentes intervenientes
- Orientar, facilitar e moderar a comunidade de aprendizagem
- Sintetizar os conteúdos e sistematizar a informação
O tutor é um gestor de informação pedagógica que organiza, orienta e facilita a aprendizagem. A sua função pode abranger três grandes áreas:
A Conceção: Incluindo a definição do modelo de formação, do método, dos conteúdos, do material de apoio e respetiva atualização
A Tutoria: A qual prevê o acompanhamento pedagógico, a moderação de debates, a análise de trabalhos, a respostas a dúvidas, a divulgação de informação
A Avaliação: Está aqui compreendida a conceção, a realização e a correção dos exercícios de avaliação pedagógica, bem do próprio processo formativo
A motivação dos alunos surge como uma das questões mais importantes e delicadas da formação online. O tutor deverá esforçar-se por comunicar de forma positiva, entusiástica e solidária com todos os formandos. A aprendizagem que os formandos fazem pode variar segundo as experiências e os conhecimentos prévios de cada um.
O tutor deverá combater a falta de motivação e incentivar a participação e a autoconfiança dos participantes, contribuindo para o “quebrar do gelo”, convertendo “o desconhecido” em “conhecido”, incentivando os formandos a concentrarem-se nos seus pontos fortes e a desenvolverem uma motivação de cariz positivo. Este facto exige do tutor bastante disponibilidade, envolvimento e dedicação.
1.5 – As competências do tutor na formação online
Propomos que analise as competências de um “e-moderador online” sugeridas pela professora Gilly Salmon, responsável pelo ensino à distância da Universidade de Leicester, em Inglaterra. O quadro de seguida apresentado foi retirado do livro de sua autoria Emoderating: the key to teaching and learning online (2000, Routledge, Inglaterra).
Autoconfiante/Seguro
Conhecimento do Processo Online: Auto confiante nas orientações que presta para as discussões, intervindo, avaliando o interesse dos participantes, utilizando diferentes abordagens.
Competências técnicas: Auto confiante no conhecimento operacional, como utilizador, do software utilizado.
Competências de Comunicação online: Seguro na utilização de uma comunicação (escrita) online, cortês e respeitável.
Conhecimento dos conteúdos: Seguro na partilha de conhecimentos e experiências com vontade e capacidade para acrescentar contribuições.
Características pessoais: Auto confiante na determinação e motivação para ser moderador.
Construtivo
Conhecimento do Processo Online: Capacidade para construir (à distância) confiança e definir objetivos
Competências técnicas: Capacidade para compreender a estrutura básica do e o potencial da Internet.
Competências de Comunicação online: Capacidade para escrever mensagens online objetivas, estimulantes e personalizadas.
Conhecimento dos conteúdos: Capacidade para encorajar contribuições entre os participantes.
Características pessoais: Capacidade para Transmitir uma identidade como moderador online.
Desenvolvimento
Conhecimento do Processo Online: Capacidade para desenvolver e permitir que os participantes se desenvolvam, atuar como catalisador, alimentar a discussão, sintetizar e monitorizar a compreensão e os equívocos de interpretação.
Competências técnicas: Saber utilizar as funcionalidades especiais do software para e moderadores, incluindo o arquivo.
Competências de Comunicação online: Capacidade para despertar a atenção dos participantes.
Conhecimento dos conteúdos: Capacidade para incentivar ao debate colocando questões pertinentes.
Características pessoais: Capacidade de Adaptação a novos contextos de ensino, novos métodos e novos públicos-alvo.
Facilitador
Conhecimento do Processo Online: Capacidade para desenvolver e permitir que os participantes se desenvolvam, atuar como catalisador, alimentar a discussão, sintetizar e monitorizar a compreensão e os equívocos de interpretação.
Competências técnicas: Saber utilizar as funcionalidades especiais do software para e moderadores, incluindo o arquivo.
Competências de Comunicação online: Capacidade para despertar a atenção dos participantes.
Conhecimento dos conteúdos: Capacidade para incentivar ao debate colocando questões pertinentes.
Características pessoais: Capacidade de Adaptação a novos contextos de ensino, novos métodos e novos públicos-alvo.
Partilha de Conhecimento
Conhecimento do Processo Online: Capacidade para explicar ideias, desenvolver argumentos, promover rumos construtivos, evitar rumos improdutivos, escolher o momento de finalizar.
Competências técnicas: Capacidade de estabelecer ligações entre os diferentes tipos de programas.
Competências de Comunicação online: Capacidade para avaliar a diversidade cultural.
Conhecimento dos conteúdos: Conhecimento para pesquisar recursos e divulgá-los aos participantes.
Características pessoais: Mostrar uma atitude positiva, empenhamento e entusiasmo na aprendizagem online.
Criativo
Conhecimento do Processo Online: Capacidade para utilizar e conduzir uma gama de abordagens de conferência e discussão, bem como para avaliá-las posteriormente.
Competências técnicas: Capacidade de utilização das funcionalidades do software de conferências e discussões.
Competências de Comunicação online: Capacidade de comunicação sem necessidade de utilizar imagens ou símbolos
Conhecimento dos conteúdos: Capacidade para realizar conferências e discussões utilizando recursos multimédia.
Características pessoais: Conhecimento de como criar uma comunidade de aprendizagem online.
No fundo, estão aqui inerentes as mesmas competências que um formador deve possuir nos demais contextos formativos:
Competências Pedagógicas
Estas competências dizem respeito à transmissão dos conhecimentos, à forma como são incentivadas atitudes e comportamentos, assim como desenvolvidas competências. Em suma, reportam-se à função de facilitador da aprendizagem e incluem as seguintes capacidades:
- Planeamento e preparação da formação
- Desenvolvimento e animação da formação
- Avaliação da formação
Competências Sociais e Relacionais
Neste ponto está subjacente a capacidade de comunicar, a estabilidade emocional, a facilidade de relacionamento interpessoal, o dinamismo e a criatividade, o trabalho em equipa, o espírito de abertura face a imprevistos e a capacidade de crítica e de auto- critica. Por outras palavras:
- Saber estar em situação profissional
- Capacidade de relacionamento com os outros e consigo mesmo
- Capacidade de relacionamento com o objeto de trabalho
Competências Técnicas
As competências técnicas dizem respeito à capacidade do formador se integrar e adaptar ao contexto técnico e organizacional da sua atividade, mantendo-se permanentemente atualizado:
- Capacidade de compreender e integrar-se no contexto técnico
- Capacidade de adaptação a diferentes contextos organizacionais
1.6 – Tipos de discurso do tutor
Guia generativo:
- Fornece posições possíveis face a determinado tema;
- Identifica no discurso dos formandos ideias que se aproximam de teorias.
Facilitador conceptual:
- Ajuda a articular conceitos usados pelos formandos;
- Clarifica conceitos que foram usados incorretamente;
- Refere conceitos que não foram referidos.
Reflexão pessoal:
- Desenvolve as suas próprias ideias sobre um determinado tema;
- Apresenta as suas escolhas dentro de vários modelos;
- Desafia os formandos a assumirem uma posição pessoal.
Mediador:
- Em caso de posições extremas entre os formandos, nas discussões, o tutor procura redirecionar o diálogo para objetivos comuns aos formandos;
- Deve clarificar os motivos que levaram à assunção de posições opostas e encontrar pontos comuns.
Role play:
- Numa discussão o tutor vai assumindo papéis diferenciados para introduzir perspetivas alternativas ao diálogo e levar ao aprofundamento dos temas em discussão. (adaptado de eTrainers: 218219)
1.7 – Estratégias do tutor
Estratégias de focalização
Quando o diálogo se torna disperso, prolixo ou denso. O tutor deve:
- identificar a direção do diálogo;
- ordenar ideias pela sua relevância;
- focar pontos-chave.
Estratégias de aprofundamento
Quando o diálogo se torna superficial, de forma a provocar a crítica sobre opiniões e afirmações que bloqueiam o diálogo. Quando os formandos sentem que existem áreas que deveriam ser exploradas / aprofundadas. O tutor deve:
- questionar de forma abrangente;
- estabelecer relações;
- privilegiar múltiplas perspetivas. (adaptado de eTrainers: 220221)
1.8 – As expectativas dos formandos em relação ao tutor
O tutor deverá ter consciência que os formandos terão expectativas relativamente ao seu papel. Este fator é de extrema importância para melhorar o seu desempenho profissional e para construir um percurso individual de formação. De seguida enumeramos alguns exemplos ilustrativos do que o formando poderá esperar do tutor:
- Dominar e possuir conhecimentos técnicos, bem como experiência sobre as matérias ministradas;
- Facultar feedback às suas dúvidas e questões, utilizando um discurso construtivo e uma linguagem clara e objetiva;
- Orientar o processo de aprendizagem de forma a que todos possam acompanhá-lo; motivar e encorajar a participação de todos os elementos.
1.9 – Síntese do módulo
Nas sessões síncronas e assíncronas, o tutor assume o papel de moderador de diálogo, tendo de adotar determinados tipos de discurso, de estilo e de estratégias, de acordo com as situações. Deste modo, torna-se fundamental que os futuros tutores conheçam os tipos de discurso que podem adotar e em que consistem, de forma a que, em determinadas circunstâncias, sejam capazes de prever qual aquele que deverão adotar. O mesmo se passa relativamente aos estilos de tutor e às estratégias a utilizar.
PARTE B — O formando e a tutoria
2.1 – O formando no centro do processo
A aprendizagem no espaço virtual coloca o formando no centro do processo. Ou seja, o formando tem de dirigir e tomar decisões sobre a sua própria aprendizagem. Tem de estudar, planear, organizar e executar o seu próprio processo de aprendizagem.
Neste contexto, o seu papel muda de forma significativa quando comparado com a formação presencial: não só ganha autonomia, como também é o responsável último pela sua própria formação. Na aprendizagem presencial a atitude do formando é condicionada e conduzida pela presença do formador ou do próprio grupo, assumindo muitas vezes uma posição passiva. Pelo contrário, na aprendizagem no ambiente de formação online exige-se que o formando desempenhe um papel mais ativo e interveniente.
O formando não só toma a iniciativa, como se responsabiliza pela sua aprendizagem.
No espaço de aprendizagem virtual o formando também enfrenta conflitos socio- cognitivos, confronto de ideias e opiniões. Ocupa um papel central no processo e nas estratégias de aprendizagem.
2.2 – Características do formando online
Os formandos dos cursos online devem possuir algumas características específicas que lhes facilite a aprendizagem, o acompanhamento e conclusão do curso com sucesso. Entre outras destacam-se as seguintes características:
O potencial formando da formação a distância deverá questionarse sobre a suficiência da sua autonomia no que respeita:
- Às capacidades de autoaprendizagem de autogestão e persistência
- Às características de personalidade, de maturidade, de responsabilidade e se tem motivação suficiente para a realização do curso de forma a superar fatores adversos como, por exemplo, o sentimento de solidão
- Às características essenciais como a capacidade de trabalhar de forma independente, sem a presença constante de um “instrutor”
2.3 – A função dos formandos na formação online
Ao utilizar a internet como mediador de novas estruturas de aprendizagem ao longo da vida, a participação ativa do formando no processo de ensino e de aprendizagem é fundamental para este não fracassar.
Em termos genéricos, podem ser descritas como funções do formando:
- Adotar um espírito de pesquisador permanente
- Tomar a iniciativa e provocar o debate de questões importantes
- Desenvolver as suas capacidades de questionar e procurar as respostas por ele próprio (tem de aprender a aprender)
- Movimentar-se no espaço virtual, utilizando todas as ferramentas disponíveis
- Ser capaz de se programar numa nova temporalidade
- Aprender a adaptar-se a um pensamento não linear
- Contribuir para uma comunidade de aprendizagem (quando a estrutura do curso o exija)
- Conhecer as regras de relacionamento e comunicação via Internet
Os formandos também adquirem as competências através das experiências que vão desenvolvendo e dos conhecimentos que vão adquirindo.
Podem ser categorizadas diferentes tipos de atitudes – também designadas como reações – dos formandos em relação à formação online. Por norma, é possível estabelecer quatro categorias de atitudes/reação:
2.4 – Os problemas de aprender à distância
Os problemas de aprender à distância podem agrupar-se em quatro categorias (eTrainers: 195200):
- Feedback
- Isolamento
- Aprender a aprender
- Autoestima.
Feedback
Os atrasos no feedback podem ser ultrapassados através de:
- Materiais de aprendizagem – devem antecipar as dificuldades dos formandos. Um tutor experiente sabe quais são os conteúdos em que sente mais dificuldades, devendo ter isso em consideração na elaboração/escolha dos materiais.
- Atividades – devem ter sempre soluções /indicações que possibilitem a verificação imediata das respostas dos formandos.
- Testes (formativos/sumativos) – a sua correção deve ser rápida e deve ser acompanhada de notas explicativas das correções feitas e indicações para que os formandos conduzam o seu estudo no sentido de os superar.
Isolamento
O isolamento do formando pode ser considerado em 3 dimensões:
- Física – o formando encontra-se fisicamente distante do tutor. No entanto, pode usar-se o telefone e as tecnologias da comunicação de forma a reduzir os problemas que resultam dessa separação geográfica.
- Social – o contacto pessoal do formando com o tutor e com os colegas pode não acontecer regularmente e é, no entanto, um fator fundamental para que os formandos se sintam parte de uma comunidade. Atualmente em ensino e formação à distância fala-se muito em comunidades de aprendizagem, trabalho cooperativo e No entanto, estes só se tornam eficazes se forem utilizadas “dinâmicas de interação pessoal através de processos de socialização” (eTrainers: 198).
- Psicológica – o formando sente-se muitas vezes isolado em termos psicológicos, daí ser importante que o tutor atue a este nível, mostram-se disponível e acompanhando o formando durante todo o seu processo de aprendizagem.
Aprender a Aprender
Existem 3 dimensões da aprendizagem:
- Dimensão cognitiva – saber aprender;
- Dimensão volitiva – vontade de aprender;
- Dimensão afetiva – gosto por aprender (eTrainers: 196197).
No ensino e formação à distância, a aprendizagem está centrada no formando, que tem de realizar determinadas funções, que se encontram organizadas em dois grupos:
FUNÇÕES OPERACIONAIS: Consistem nas operações que o formando deverá realizar para a aprendizagem específica de um objeto. Para que o formando aprenda terá de proceder a realização de ações físicas e mentais que julgue serem adequadas à situação.
Assim, terá de recolher os dados dos materiais e tratá-los, organizando-os, selecionando-os e relacionando-os com os seus conhecimentos anteriores, de forma a procurar respostas para as questões que lhe são colocadas ou que ele coloca a si próprio, enquanto estuda.
Após o tratamento dos dados, terá que elaborar uma resposta e exprimi-la. Se a resposta for considerada satisfatória, deverá memorizá-la para posteriores reutilizações.
Em todo este processo, de forma consciente ou inconsciente, o aluno avalia a forma como está a adquirir a informação e os seus resultados (Silva, 1997: 8485).
Esquema 1: Funções operacionais (retirado de eTrainers: 1998)
FUNÇÕES ESTRATÉGICAS (distinguem-se 5 funções estratégicas):
- Atitude É fundamental que o formando adote uma atitude positiva face à aprendizagem, em relação a si e aos outros e em relação ao presente e a um futuro próximo ou longínquo.
- Projeto A ideia que se tem relativamente ao futuro encontra-se vinculada a um projeto de vida, um projeto de aprendizagem. Todavia, nem sempre esse projeto se coaduna com as aprendizagens que o formando tem de fazer. Por vezes, a aprendizagem pode desencadear novos projetos de vida. De qualquer forma, o facto de o formando ter um projeto faz com que tenha uma intenção, o que é imprescindível para a sua motivação e para a sua auto direção.
- Situação As situações em que o formando aprende são essenciais para levar a cabo o desenvolvimento desse projeto.
- Tratamento O tratamento refere-se à forma como o formando trata a informação.
- Distanciamento O distanciamento tem a ver com a gestão da sua própria aprendizagem, com o controlo que sobre ela exerce. Esta função permite que o sujeito se descentre do seu ato de aprender e faça uma autoavaliação.
Esquema 2: Funções estratégicas (retirado de eTrainers: 1998)
Autoestima
“A ideia que um indivíduo faz de si próprio, das suas forças e das suas fraquezas, é um fator determinante no seu sucesso na aprendizagem.”
eTrainers (2000)
É fundamental que o tutor tenha consciência que:
- O insucesso frequente leva a que o formando acredite que não será capaz de ultrapassar as dificuldades;
- A forma como o formando encara e perceciona as suas capacidades influencia o seu desempenho;
- Os formandos com baixo rendimento escolar têm tendência para comportamentos que dificultam a aprendizagem (eTrainers: 200).
O isolamento a que o formando está sujeito no ensino e formação à distância pode influenciar negativamente a sua autoconfiança e a sua autoestima, sendo fundamental que o tutor explore os sucessos dos formandos para aumentar essa confiança, e os insucessos, para ajudar o formando a encontrar estratégias de superação das dificuldades.
Através das conversas e da interação que o tutor estabelece com o formando, é essencial que consiga detetar as situações em que este possa ter a sua autoestima mais em baixo para que esta situação possa ser contornável o mais rapidamente possível.
2.5 – Síntese do módulo
Características do formando online: automotivação; autodisciplina; competências de estudo.
A função o formando online:
- Pesquisar no ambiente virtual;
- Tomar a iniciativa e provocar o debate de questões importantes;
- Gerir o seu processo de aprendizagem;
- Questionar e procurar as respostas por ele próprio, tem de aprender a aprender;
- Movimentar-se no espaço virtual utilizando as ferramentas disponíveis;
- “Programar-se” numa nova temporalidade;
- Adaptar-se a um pensamento não linear;
- Contribuir para uma comunidade de aprendizagem;
- Relacionar-se e comunicar via Internet.
No ensino e formação à distância os formandos deparam-se com algumas dificuldades. Nesta unidade foram também abordadas as dificuldades relacionadas com os atrasos no feedback, o isolamento, as estratégias de aprendizagem em que destacam as funções que terão que ser exercidas por parte de quem aprende (funções operacionais e funções estratégicas) e com a baixa autoestima.
PARTE C — A formação online
3.1 – Formação online: a nova forma de organização da formação profissional
O termo e-learning (“electronic-learning”) é um conceito genérico, que designa todos os processos de aprendizagem que têm por base a utilização do computador. Tem subjacente a utilização de diferentes metodologias e diversos suportes auxiliares, que podem incluir sítios, materiais multimédia (som, vídeo, CDROM, …), simulações, jogos, chats, fóruns de discussão, ou mesmo as tecnologias móveis, como os PDAs e os leitores de MP3.
Todavia, o conceito pode também estar associado a novas formas de gerir controlar os procedimentos administrativos e pedagógicos dos sistemas educativo e formativo, no qual há uma gestão integrada entre a aprendizagem e os serviços administrativos.
Na base conceptual do “e-learning” estão subjacentes os princípios do ensino à distância e da aprendizagem flexível, podendo este inclusive ser intervalado com momentos de formação presencial. Quando tal acontece é, muitas vezes, designado – de modo demasiado simplista, como defendem alguns autores – por blended learning. Este conceito promove e incentiva a conjugação de diferentes formas de organização, metodologias pedagógicas e recursos de apoio, bem como interações em diversos níveis.
O sucesso do e-learning consiste em ministrar, de forma equilibrada, diversas metodologias e tecnologias com o objetivo de melhorar a eficácia e eficiência do processo de aprendizagem.
Antes da “explosão” da Internet o ensino à distância realizava-se por duas vias: “um para muitos” (através da TV ou da rádio) e “um para um” (através do ensino por correspondência). Com todas as funcionalidades facultadas pelas tecnologias de informação e comunicação, o “um para todos” sofreu alterações estruturais – em particular, em termos de interatividade e acompanhamento síncrono – daí, que seja quase obsoleto falar de ensino à distância sem o recurso à Internet.
O e-learning é caracterizado pela interação na aprendizagem de conteúdos disponíveis online. É um sistema que proporciona o retorno pedagógico às atividades desenvolvidas pelos estudantes e que engloba a separação física do formador e do formando. Docentes, tutores e alunos estão ancorados numa estrutura organizacional que, por sua vez, está apoiada numa rede de computadores. Estes facultam a distribuição de conteúdos e providenciam o suporte a canais de dupla via de comunicação: entre estudantes e professores, ou entre estes e restantes colaboradores da organização.
Do ponto de vista organizacional há como que uma evolução de uma estrutura historicamente centrada na escola para uma estrutura em que a tónica é colocada no aluno. Passamos da sala de aula para o lugar adequado e do horário rígido para o tempo oportuno. Do ponto de vista pedagógico, a preocupação do ensinar foi substituída pelo criar condições de aprendizagem e, como tal, uma evolução dos conteúdos para os contextos, do papel para o online, e do quadro para o hipermédia.
Associado à cultura digital, os pontos fortes do e-learning são múltiplos: fácil interatividade, rapidez de distribuir informação, fácil acesso a conteúdos apelativos e com elevado potencial de valorização pessoal e profissional, o ritmo personalizado e a flexibilidade de horários e ainda a redução e a racionalização dos recursos. A componente presencial servirá, fundamentalmente, para ultrapassar um dos pontos fracos do e-learning: a ausência da relação humana entre formador e formandos. Esta será uma forma de aumentar a confiança e a credibilidade deste sistema de formação – para além de ter subjacente a alfabetização computacional e o equipamento próprio.
A formação online não é apenas uma forma de organização da formação; é um conjunto de “estilos” dependente dos meios e das metodologias utilizadas. Neste contexto emergem novas competências e desafios para todos os que se envolvem no processo formativo.
Preparar os diferentes intervenientes para desempenharem os seus papéis em contextos da formação online requer metodologias e técnicas específicas adequadas a cada um dos meios de comunicação utilizados.
3.2 – O contexto virtual e os agentes
A partir do momento em que os agentes formativos começam a desempenhar as suas funções no ambiente online importa conhecer e dominar as estratégias pedagógicas e as ferramentas tecnológicas que estão à sua disposição. Atualmente, estão em funcionamento no mercado formativo diferentes plataformas de ensino à distância. Para que os diferentes agentes possam apreender e dominar os novos conteúdos das suas funções importa:
- Experimentar, já que através da própria experiência é possível aprender fazendo
- Procurar a partilha da experiência de outros e aconselhamento junto dos que já participaram em cursos de formação organizadas neste regime
- Ler e discutir textos sobre formação online nas suas múltiplas vertentes
- Frequentar ações de formação que proporcionem uma aplicação imediata na atividade
3.3 – O modelo de ensino/aprendizagem online de Gilly Salmon
Este modelo de ensino/aprendizagem tem como objetivo principal a criação de situações que tornam os formandos de cursos online mais confiantes e capazes de desenvolver com sucesso as suas aprendizagens.
Este modelo encontra-se organizado em 5 níveis, sendo que cada um deles requer um determinado tipo de competências técnicas por parte dos formandos. Os níveis são sequenciais.
- Nível 1 – Acesso e motivação
- Nível 2 – Socialização online
- Nível 3 – Troca de informação
- Nível 4 – Construção de conhecimento
- Nível 5 – Desenvolvimento pessoal
Esquema 3: Modelo de ensino/aprendizagem online de Gilly Salmon
Nível 1 – Acesso e motivação
Neste nível, a motivação dos formandos é um aspeto essencial para o seu sucesso.
O tutor deve dar as boas-vindas aos formandos e encorajar a sua participação, explicando claramente os objetivos do curso.
Também é fundamental que os formandos tenham conhecimento do modo de funcionamento do ambiente virtual onde decorre o curso (plataforma, sessões síncronas e assíncronas).
O tutor tem um papel importante neste nível, pois até os formandos que parecem ser os mais confiantes necessitam de apoio no início do curso.
Ilustração: Nível 1, retirada de SALMON,
Gilly. “All things in moderation”
Nível 2 – Socialização online
Neste nível, o tutor cria as bases e as “pontes” entre todos os participantes. É importante que organize as atividades e que promova discussões. Neste nível devem ser definidos os princípios do trabalho online.
Os formandos fazem as suas apresentações individuais, o que promove a descoberta dos outros formandos, com quem vão interagir.
Torna-se essencial a criação de um espírito de comunidade online, inicialmente através das propostas de participação do tutor (atividades, debates, fórum, etc.), de forma a que todos sintam que a sua participação é útil para a aprendizagem do grupo.
Ilustração: Nível 2, retirada de SALMON,
Gilly. “All things in moderation”
Nível 3 – Troca de informação
Os formandos interagem com os materiais de aprendizagem.
Esta fase caracteriza-se pela troca de informação entre os formandos e pelas tarefas de grupo, que promovem essa troca. É de realçar a vantagem das sessões assíncronas nesta fase, uma vez que cada formando pode explorar a informação de acordo com o seu ritmo e reagir antes de ver os pontos de vista e as interpretações dos outros formandos.
Neste nível, a aprendizagem dos formandos requer dois tipos de interação:
- Com os conteúdos do curso;
- Com os outros formandos e com o
O tutor tem de ser um especialista de conteúdos e apoia a utilização dos materiais de aprendizagem.
Ilustração: Nível 1, retirada de SALMON,
Gilly.
Nível 4 – Construção de conhecimento
Neste nível, o grupo já está à vontade com o tutor, com o funcionamento do curso e da plataforma. Os formandos assumem o controlo da sua aprendizagem e colocam questões. Há mais debates e a interação tornase mais colaborativa.
A partir deste nível o tutor assume um papel menos ativo, uma vez que são os próprios formandos que constroem o seu conhecimento.
O tutor acompanhaos, assegurando-se que as aprendizagens ficam consolidadas.
Ilustração: Nível 1, retirada de SALMON,
Gilly. “All things in moderation”
Nível 5 – Desenvolvimento pessoal
Neste nível os formandos são responsáveis pela sua aprendizagem. Estabelecem-se níveis elevados de interação, com menos materiais de aprendizagem. As aprendizagens fazem-se por meio da interação e da colaboração.
Os formandos refletem sobre a sua aprendizagem e procuram no sistema formas e ferramentas que permitam o seu desenvolvimento.
Ilustração: Nível 1, retirada de SALMON,
Gilly. “All things in moderation”
3.4 – Síntese do módulo
Em síntese, o tutor deve compreender que a interatividade ao longo de um curso de ensino e formação a distância depende largamente do nível de competências dos formandos, pois quanto maior for este nível, mais capazes e mais à vontade os formandos se sentem de explorar, de comunicar e de interagir. Assim, de acordo com Gilly Salmon, a interatividade ao longo de um curso online evolui de acordo com 5 níveis de competências técnicas dos formandos: acesso e motivação; socialização online; troca de informação; construção do conhecimento e desenvolvimento pessoal.
BIBLIOGRAFIA
- Cação, R. (2003). Introdução ao e-Learning, Porto: Sociedade Portuguesa de Inovação Duggleby, J. (2002). Como ser um tutor online. Lisboa: Monitor.
- eTRAINERS: Pedagogia, Formação e Certificação em Ambiente de eLearning
- Rodrigues, E. (2004). Competências do eFormadores. “E-Learning para eFormadores”, Guimarães: TecMinho
- Ramos, M (2006). Ser formador em contexto virtual de aprendizagem. Revista Formar, n.º 54. Lisboa:
- IEFP, 2327.
- Sá, I. & Silva, A.L. (1993). Saber estudar e estudar para saber. Porto: Porto Editora. Santos, A. (2000). Ensino a Distância e Tecnologias de Informação e-Learning, Lisboa: FCA Santos, Ao. Moreira, L. Peixinho, F. (2014). Projetos de E-Learning, Inovação,
- implementação e gestão, Lisboa: Lidel
- Salmon, G. (2000). E-Moderating: the key to teaching and learning online. London: Kogan Page