Ortodontia: Uma especialidade da Medicina Dentária

Índice

1 – O que é a Ortodontia

1.1 – Breve História da Ortodontia

2 – Diagnóstico em Ortodontia

2.1 – A Consulta em Ortodontia

2.2 – Fotografia em Ortodontia

2.3 – Impressão para Modelos de Estudo

2.4 – Impressão 3D

2.5 – Radiografia

3 – Tratamentos em Ortodontia e Tipos de Aparelhos

3.1 – Tipos de Tratamentos

3.2 – Tipos de Aparelhos

4 – Manutenção e Cuidados com os Aparelhos

5 – Procedimentos e apoio do Assistente de Medicina Dentária (AMD) ao Dentista em Ortodontia

 

1 – O que é a Ortodontia

A ortodontia é uma especialidade da Medicina Dentária que se dedica à correção da posição dos dentes e dos ossos maxilares quando posicionados de forma inadequada.

Dentes tortos ou dentes que não se encaixam corretamente são difíceis de manter limpos, correndo o risco de serem perdidos precocemente, devido à deterioração e à doença periodontal. Podem ainda causar stress adicional aos músculos de mastigação que pode levar a dores de cabeça, síndrome da ATM e dores na região do pescoço, dos ombros e das costas. Os dentes tortos ou mal posicionados prejudicam a aparência.

O tratamento ortodôntico faz com que a boca seja mais saudável, proporcionando uma aparência mais agradável e dentes com possibilidade de durar a vida toda.

Em Portugal a Ortodontia possui um colégio específico e com regulamentação própria de acordo com o Estatuto da Ordem dos Médicos Dentistas (OMD), desde 18 de fevereiro de 2012. O especialista em ortodontia é designado de ortodontista.

 

1.1 Breve História da Ortodontia

O termo ortodontia surgiu no século XIX. Foi introduzido pelo francês Joachim Lefoulon para se referir às deformidades congénitas e acidentais da boca.

Em 1890, Edward Angle, considerado o pai da ortodontia moderna, cria um dos primeiros aparelhos, o Arco E. Era um arco de metal pesado, que ficava preso na parte da frente dos dentes, aparafusado nos dois primeiros molares. Em 1911 desenvolveu e aplicou o sistema pino e tubo, o primeiro a atuar separadamente em cada dente.

Em 1950 popularizam-se os aparelhos com braquetes de aço, similares aos aparelhos metálicos usados atualmente. Em 1975, passam a ser colados aos dentes em vez de soldados.

É também em 1950 que o ortodontista Craven Kurz passa a colar os braquetes na parte de trás dos dentes. O resultado era mais discreto e agradou às estrelas de Hollywood, nascia o aparelho lingual.

Em 1997 há outro enorme avanço com a invenção do aparelho transparente.

Atualmente, o aparelho ortodôntico está muito mais avançado. Para quem não quer usar os tradicionais braquetes, há a opção de aplicar placas invisíveis que corrigem a posição dos dentes. Há também a opção de aparelhos com fios de níquel e titânio que são ativados pelo calor.

 

2. Diagnóstico em Ortodontia

Após um diagnóstico realizado pelo ortodontista, o paciente pode saber se poderá beneficiar ou não com um tratamento ortodôntico. Com base em alguns instrumentos de diagnóstico que incluem, um histórico médico e dentário completo, um exame clínico, moldes de gesso dos dentes, fotografias e radiografias especiais, o ortodontista poderá decidir se a ortodontia é recomendável e desenvolver um plano de tratamento adequado para o paciente.

Se o paciente apresentar algum dos problemas a seguir referenciados, pode ser um candidato para o tratamento ortodôntico:

:: Sobremordida ou Mordida Profunda
Por vezes designada de “dentes salientes“. Este problema é caracterizado por um excesso vertical da região anterior da maxila e/ou uma sobre erupção dos dentes dessa região.

Nos casos de sobremordida, os dentes anteriores superiores recobrem quase 100% dos dentes inferiores, conferindo um sorriso desagradável e problemas mastigatórios.

Esta sobremordida poderá estar relacionada com uma desordem ao nível esquelético (mordida profunda esquelética), ou desordens ao nível dentário (mordida profunda dentoalveolar).

:: Mordida Cruzada
É um desalinhamento entre os dentes superiores e os dentes inferiores, fazendo com que os portadores deste problema fiquem com o sorriso torto. Na prática, o que acontece é que o maxilar encaixa por dentro da mandíbula. A mordida cruzada pode ser classificada em dois tipos: mordida cruzada anterior e mordida cruzada posterior.

A mordida cruzada anterior, ocorre quando os dentes da frente da arcada superior não conseguem encobrir os da arcada inferior. Assim, quando a boca se fecha, os dentes de baixo ficam mais à frente, projetando o queixo do paciente para frente.

A mordida cruzada posterior, ocorre quando os dentes superiores da parte de trás se fecham por dentro dos dentes inferiores.

:: Mordida Aberta
É um tipo de má oclusão que corresponde à ausência de contacto entre os dentes superiores e inferiores, podendo dar a ilusão de “boca torta” ou que a “boca não fecha bem”. Esta ausência de contacto pode verificar-se tanto nos dentes anteriores (dentes da frente), como nos dentes posteriores (dentes de trás). Pode ainda ocorrer apenas de um lado (mordida aberta unilateral) ou de ambos os lados (mordida aberta bilateral), e pode verificar-se quer em crianças e adolescentes, ou no adulto.

:: Diastema, Falhas ou Espaços entre os Dentes
Resulta de dentes ausentes ou dentes que não preenchem a boca. É mais frequente nos dois dentes frontais da arcada superior.

:: Apinhamento Dentário
Consiste num desalinhamento dos dentes, que ficam apinhados, ou seja, sobrepostos uns nos outros. O apinhamento dentário pode causar constrangimentos estéticos, afetando a autoestima da pessoa.

Estes são os principais problemas que o ortodontista poderá diagnosticar para indicar um tratamento ortodôntico.

 

2.1 A Consulta em Ortodontia

A primeira consulta, por vezes designada de consulta de anamnese, é a consulta onde o médico-dentista recolhe toda a informação do paciente que é importante para um diagnóstico correto e inclui os seguintes exames:

 :: EXAMES RADIOGRÁFICOS
– Ortopantomografia Digital Panorâmica;
– Telerradiografia de Perfil.

:: EXAMES CLÍNICOS
– Análise clínica do médico-dentista.

:: REGISTO FOTOGRÁFICO
O médico-dentista faz um registo fotográfico intraoral (dentes) e extra oral (face).

A anamnese é fundamental para o sucesso dos tratamentos com aparelho dentário. É através desta consulta que o médico-dentista pode perceber que aspetos estão relacionados com a má oclusão, se existem antecedentes familiares ou problemas de saúde gerais e entender a motivação do paciente.

Vejamos com mais detalhe em que consiste cada um destes exames.

 

2.2 Fotografia em Ortodontia

As vantagens das fotografias em ortodontia, vão para além da documentação ortodôntica inicial, apresentando-se como uma excelente ferramenta para auxiliar na comunicação entre profissionais, mas também com os pacientes.

Para realização de um exame fotográfico, existe a necessidade do conhecimento de como posicionar o paciente frente à câmara, padronizar as posições, para além de saber utilizar instrumentos auxiliares para ter uma maior fidelidade da realidade no registo (cor e posição, entre outras).

Em ortodontia as fotografias podem ser agrupadas em extra oral e intraoral.

As fotografias extra orais padrões em ortodontia são tiradas de frente, perfil e com sorriso.

Para a realização destas fotografias, que têm como objetivo o diagnóstico e análise facial, o paciente deve estar em posição natural de cabeça, cabelos presos, sem acessórios volumosos nas orelhas e pescoço. Para o auxílio nestas fotografias recomenda-se utilizar um prumo paralelo à margem lateral, desta forma conseguiremos mais fidelidade em posicionar o paciente paralelo a ele.

O ideal é que o registo da posição natural de cabeça seja realizado de perfil com os lábios relaxados, em com o paciente a olhar para o horizonte. Ao lado do paciente e em frente devemos colocar um prumo que representa a vertical.

Quanto ao enquadramento, aconselha-se centrar a câmara perpendicular e o mais paralelo possível do paciente.

As fotografias intraorais, têm como objetivo registar mudanças durante o tratamento ortodôntico, intercorrências e contribuir para avaliação dos detalhes.
Normalmente as posições são:

  • Frontais;
  • Laterais;
  • Oclusais;
  • Funcionais.

Para as duas primeiras formas, necessitamos de instrumentos auxiliares, neste caso, afastadores de bochechas e lábio. Devem ser confortáveis para o paciente, abertura triangular para aceder à região posterior e autoclaváveis. Atualmente encontramos no mercado afastadores pretos para aumentar o contraste da fotografia. Uma dica clínica é humidificar os lábios previamente à sua inserção, hoje em dia encontramos também pomadas específicas para o afastamento. Devem se inseridos bilateralmente.

Para as fotografias laterais, mantemos um afastador relaxado e o outro afastando, assim conseguimos alcançar o máximo da região contralateral.

Para a foto frontal, o paciente ou AMD-Auxiliar de Medicina Dentária, pode afastar os afastadores para fotografia.

Com o paciente na máxima intercuspidação habitual e/ou em relação cêntrica realizamos as fotografias estáticas. É quando registamos os movimentos de lateralidade e protrusão, estas fotografias devem ser classificadas como funcionais.

Para as fotografias oclusais os afastadores utilizados são afastadores para fotografia juntamente com um espelho metálico. Devemos inserir o espelho até alcançar toda a extensão do arco no sentido longitudinal e transversal. O AMD deve ajudar arrefecendo o espelho e segurando o afastador, libertando o ortodontista para realizar a fotografia.

Procedimento igual deve ser realizado em ambos os arcos. Uma dica para melhor procedimento é pedir ao paciente para prender a respiração para evitar possíveis enjoos e explicando que é um procedimento rápido.

 

2.2.1 Equipamentos de Fotografia

As principais características a ter em consideração no momento da aquisição de um equipamento fotográfico digital referem-se ao tipo de câmara, à resolução, à objetiva e ao tipo de iluminação proporcionado pelo mesmo.

Para não gerar distorções nas fotos e conseguir focar as imagens recomenda-se uma lente macro 100 ou 105 mm.  Além disso, como a boca é uma cavidade escura, será necessário uma fonte de luz artificial. Flash para macrofotografia ou flash circular (existe um outro flash, o Twin que é indicado para profissionais que trabalham com estética e basicamente vai fotografar a região anterior).

Por fim, não podemos esquecer também dos indispensáveis programas de edição de imagens para padronizar recorte, ajustes de enquadramento, resolução e pequenas correções.

 

2.3 Impressão para Modelos de Estudo

A impressão é um procedimento muito comum em ortodontia e fundamental para um bom diagnóstico e correto plano de tratamento. Apesar de parecer simples, existem detalhes que fazem toda a diferença.

A impressão ortodôntica é uma técnica utilizada para a identificação da arcada dentária do paciente. Apesar de ser uma prática comum e simples, a impressão ortodôntica pode ser um pouco incómoda para o paciente, especialmente para aqueles que possuem muita sensibilidade nos dentes ou quando são muito pequenos, como é o caso do público infantil.

Por isso, é importante que o profissional e o AMD conheçam profundamente o assunto, nomeadamente os tipos de moldeiras, os materiais utilizados e, principalmente, os diferentes passos da impressão.

O importante na impressão é a reprodução exata da anatomia das arcadas, do osso basal, das coroas dos dentes e de todas as estruturas vizinhas.

A impressão tradicional é a mais utilizada, não só porque os seus custos são mais acessíveis, mas principalmente, porque oferece precisão de resultados.

Tão importante quanto o sucesso da operação é o preparo do terreno antes da execução da impressão. Vejamos os passos fundamentais para obter uma boa impressão:

:: Evitar comer antes. É importante falar com o paciente ou com os seus pais, no caso das crianças, para que compareça ao consultório em jejum se for ao início da manhã. Não ingerir alimentos por, pelo menos, 1 hora antes da impressão é o mais recomendado. A ideia é evitar que o indivíduo tenha ânsia de vômito, muito comum devido à aplicação do molde e por causa da produção de saliva.

:: Fazer uma simulação prévia do procedimento. Antes da manipulação, e do ato em si, é recomendável simular com o paciente, explicando os passos que serão realizados. Nesta fase, podemos observar como o paciente fecha a boca, qual é a sua rigidez muscular, se ele tem alguma dificuldade de respiração, etc.

Essa simulação é muito importante porque o paciente fica com uma ideia de como será feito este procedimento e pode preparar-se psicologicamente e fisicamente também. O condicionamento prévio a este procedimento, tão popular por causar enjoos, fará toda a diferença e trará um molde bem realizado, sem a necessidade de repetições desgastantes.

:: Aplicação das moldeiras, normalmente inicia-se pela impressão da arcada inferior. Inserindo a moldeira e pedindo ao paciente para levantar a ponta da língua e levá-la para frente, evitando qualquer interferência da língua.

A moldeira deve entrar com alguma folga, alcançar a região posterior e a altura do fundo de saco. Após a inferior, vamos à superior. Aplicando os mesmos procedimentos realizados na parte inferior, pedimos ao paciente para inclinar a cabeça para a frente. Caso o paciente demonstre algum desconforto, pedimos para se concentrar, manter a respiração nasal e respirar mais rápido, o que também ajuda a controlar a ansiedade do momento e aliviar a sensação de asfixia.

:: Impressão de transferência, caso seja uma impressão de transferência, remover as bandas dos dentes e posicionar o molde.

:: Desinfeção e vazamento do molde, este passo da impressão é a desinfeção e o vazamento do molde.

:: Registo da oclusão, após a moldagem, deve ser realizado o registo da oclusão, que pode ser oclusão registada ou oclusão funcional.

 

2.3.1 Impressão com Alginato

O alginato é o material mais usado na impressão ortodôntica. É um produto com ótimo custo-benefício, fácil de usar, garante precisão no registo do formato dos dentes do paciente e dos demais tecidos que envolvem a região da arcada.

A realização de moldes com alginato, exige uma dose a mais de cuidados. Isso porque o alginato tem uma fluidez mais fácil que os outros produtos e oferece resistência para se separar dos tecidos mais sensíveis e maleáveis. É possível que o molde rasgue quando se está a retirar, o que exige uma atenção redobrada do dentista.

Outra característica da impressão com o alginato é a pressão que ele sofre com a moldeira, que faz com que ele perca ou absorva a humidade muito facilmente, comprometendo a impressão. Por causa disso, o seu vazamento deve ser feito imediatamente.

 

2.3.2 Tipos de Moldeiras

Existem basicamente dois tipos de moldeiras. Cada tipo adequa-se à necessidade particular do paciente, nomeadamente:

:: Moldeiras de Estoque
São moldeiras em tamanho padrão. Por terem esta característica, não são indicadas para moldagem de toda a arcada, uma vez que podem apresentar distorções no resultado. É uma boa opção para restauração de dentes unitários.

:: Moldeiras Individuais
As moldeiras individuais são feitas com base na arcada dentária individual do paciente. Oferecem resultados mais precisos e são mais indicadas para uma quantidade maior de dentes.

 

2.4 Impressão 3D

Tal como como outras novas tecnologias que têm surgido no campo da Medicina Dentária, a impressão 3D na Ortodontia tem facilitado e muito na obtenção dos modelos para diagnóstico, plano de tratamento, confeção de aparelhos ortodônticos e guias, facilitando o andamento dos tratamentos ortodônticos.

A aquisição de modelos através das moldagens tradicionais com hidrocolóides (alginato), mais o vazamento do gesso sobre o molde e posteriormente o envio deste de maneira adequada ao laboratório, tem vindo a ser substituída pela impressão 3D, reduzindo significativamente os procedimentos e o tempo até a aquisição dos modelos.

Além disso, os dispositivos ortodônticos como alinhadores ortodônticos, disjuntores, barras transpalatinas, arco lingual feitas em modelos impressos 3D garantem precisão e fidelidade.

Estas e outras qualidades fazem desta tecnologia uma nova tendência na Ortodontia e na Medicina Dentária de maneira geral, tornando-se uma promessa crescente para o futuro.

A capacidade de recriar qualquer tipo de objeto é o que a torna tão vantajosa para a Odontologia, principalmente porque é feita de forma simples, a partir da leitura de dados com o auxílio de um software de impressão.

O processo de impressão em si é feito de camada em camada de dados, até formar o produto desejado, que sai exatamente de acordo com o modelo digital e com o material escolhido pelo profissional em Odontologia.

As cópias, altamente detalhadas e precisas, são uma inovação tecnológica significativa para a Odontologia e espera-se cada vez mais que se torne uma prática comum nas diferentes especialidades.

Os fins para a impressão 3D são variados na Ortodontia. Vamos listar alguns exemplos de como essa tecnologia pode ser utilizada no consultório ortodôntico, nomeadamente:

  • Impressão de modelos para confeção de alinhadores estéticos ortodônticos;
  • Impressão de modelos para confeção de aparelhos ortodônticos diversos, tais como: disjuntores, placas de levante, aparelhos de ancoragem como BTP, arco lingual etc.;
  • Impressão de guias para colagem indireta a partir de posicionamento de acessórios em software;
  • Impressão de guias para cirurgia ortognática;
  • Impressão de guias para instalação de dispositivos de ancoragem temporária (mini implantes ortodônticos).

Na Ortodontia, esta tecnologia tem vindo a revolucionar a correção de sorrisos, promovendo mais conforto para os pacientes e precisão para criar alinhadores, como no caso dos alinhadores estéticos.

O tempo dos processos até a aquisição da impressão final é muito reduzido, se comparado ao método tradicional com moldagem, vazamento de gesso e envio, além de possibilitar, a partir do registo digital, trabalhar com softwares com vários recursos de precisão.

Além disso, torna-se vantajoso para o profissional, entre outras coisas porque permite realizar um diagnóstico de digitalização (mais confortável que a impressão) e obter um trabalho mais preciso e rápido, com tempo entre o processo de impressão e o produto final reduzido.

A impressão 3D na Ortodontia modernizou tratamentos e facilitou o trabalho de ortodontistas, em relação ao paciente permite evitar a fase complicada de recolher os moldes.

 

2.5 Radiografia

As radiografias são um exame de diagnóstico que capta imagens do maxilar e da mandíbula, assim como do interior dos dentes, de uma só vez.

As radiografias em ortodontia servem para que o especialista possa avaliar o estado da boca do paciente e determinar se este precisa de se submeter a algum tipo de tratamento ortodôntico.

Podemos dividir os tipos de radiografias dentárias em radiografias intraorais, ou seja, as que são efetuadas ao interior da cavidade oral, e as radiografias extraorais, as que são realizadas fora da boca.

As radiografias extraorais são realizadas fora da cavidade oral. Dentro das radiografias extraorais existem dois tipos distintos que veremos com mais detalhe, nomeadamente:

  • Ortopantomografia ou radiografia dentária panorâmica;
  • Telerradiografia de perfil ou cefalometria.

A radiografia dentária panorâmica, também conhecida como raio-x panorâmico dentário ou ortopantomografia, é uma das mais frequentes, uma vez que dá uma perspetiva geral e panorâmica de toda a cavidade oral e permite que o ortodontista detete problemas que não se conseguem identificar num exame comum.

Esta técnica utiliza uma máquina de raio-x especial que anda à volta da cabeça do paciente para se conseguir uma visão detalhada e ampla da boca.

 

3. Tratamentos em Ortodontia e Tipos de Aparelhos

3.1 Tipos de Tratamentos

Para uma melhor compreensão dos tratamentos ortodônticos podemos considerar três tipos de intervenções ortodônticas, nomeadamente a ortodontia preventiva, a ortodontia intercetiva e a ortodontia corretiva, vejamos sumariamente cada uma delas.

3.1.1 Ortodontia Preventiva

A ortodontia preventiva tem como objetivo preservar o desenvolvimento da oclusão ou minimizar possíveis alterações dento-esqueléticas, com o propósito de evitar a necessidade de extração de dentes permanentes e, sempre que possível, do uso de aparelho fixo.

A ortodontia preventiva pode auxiliar em situações como:

  • Sucção do dedo ou chupeta nas crianças;
  • Problemas de dicção em que a língua empurra os dentes durante a fala;
  • Problemas respiratórios que fazem com que a criança respire pela boca.

 

 3.1.2 Ortodontia Intercetiva

A ortodontia intercetiva, como o nome indica, visa intercetar uma situação anormalexistente, com o propósito de devolver ao paciente a oclusão normal. Ela é fundamental para corrigir problemas como mordida aberta, mordida profunda e mordida cruzada.

Problemas associados à perda precoce dos dentes são muito frequentes, por isso é fundamental identificar os riscos. Com a perda precoce dos dentes, há o risco de outras perdas, além da extrusão do dente antagonista e redução ou fechamento do espaço original.

Para tratar problemas de oclusão precocemente diagnosticados a ortodontia intercetiva recorre normalmente a aparelhos ortodônticos especialmente utilizados para fazer a correção do mau desenvolvimento.

3.1.3 Ortodontia Corretiva

A ortodontia corretiva é um procedimento que tem como objetivo principal realizar a correção de más oclusões por meio do uso de aparelhos ortodônticos, fixos e/ou removíveis, geralmente ocorre no final da dentição mista e início da dentição permanente.

 

3.2 Tipos de Aparelhos

Antes de descrever os tipos de aparelhos ortodônticos, convém destacar que o uso depende do problema a ser corrigido, das características do paciente e da etapa do tratamento. Vejamos sumariamente os principais tipos de aparelhos que podem ser implementados pelos ortodontistas:

:: ALINHADORES, a correção é feita por meio do uso de placas transparentes, trocadas diversas vezes durante o tratamento, conforme os dentes do paciente se movem;

:: APARELHO FIXO ESTÉTICO, os já populares “aparelhos transparentes”, cujas peças são feitas de safira ou porcelana, são mais discretos que o modelo metálico;

:: APARELHO FIXO TRADICIONAL, movimenta os dentes por meio da força mecânica;

:: APARELHO MÓVEL, indicado no final do tratamento, mas nas crianças podem ser usados ainda na fase de crescimento, para a correção prévia de falhas.

Na maioria dos casos, não é o paciente que decide qual aparelho vai usar durante o tratamento, mas sim o profissional que vai fazer a intervenção.
Isso porque cada modelo é indicado para um caso específico e, por isso, a palavra final é do profissional.

Em casos mais graves, com grandes desalinhamentos dentários, possivelmente o ortodontista deverá aconselhar o aparelho fixo, porque permite um controle maior das movimentações dos dentes do paciente.

Aparelhos Fixos
Trata-se do aparelho odontológico clássico e mais conhecido. Tem esse nome porque é fixo nos dentes e o paciente não consegue tirá-lo, apenas o ortodontista.

O aparelho exerce pressão sobre os dentes e usa a força mecânica para os movimentar. A dor, que por vezes ocorre após a sua colocação resulta dos mediadores inflamatórios que o corpo produz como resposta à movimentação na boca.

O aparelho é indicado para casos mais complexos, tanto estéticos como de oclusão, de alinhamento dos dentes, ossos da maxila e da mandíbula.

O aparelho é composto por um fio metálico sustentado por pequenas peças também de metal, que são designadas de braquetes.

Os braquetes, por sua vez, são colados nos dentes com uma resina que não faz mal nem muda de coloração. Os braquetes são colados nos dentes e neles é colocado um fio (arame) que é fixado aos mesmos por ligaduras. Estas ligaduras podem ser metálicas ou elastoméricas (as ligaduras coloridas). Através da interação entre o fio e o braquete geram-se as forças que movimentam os dentes.

Havendo necessidade, o ortodontista pode, ainda, utilizar outros acessórios para corrigir problemas, como elásticos e molas.

À medida que os dentes cedem e mudam de posição, o ortodontista aplica cada vez mais pressão, até que o resultado desejado seja atingido. É aqui que entra a importância das manutenções periódicas junto ao profissional.

Com a intervenção do aparelho ortodôntico, os ossos da boca vão-se modificando e a raiz do dente vai-se acomodando à sua nova posição.

Apesar deste aparelho ser “fixo”, o sucesso do tratamento depende da colaboração do paciente, nomeadamente na assiduidade às consultas, na correta higienização dos dentes e aparelho ortodôntico e no seguimento rigoroso das indicações dadas por parte do clínico responsável.

O aparelho ortodôntico fixo com braquetes estéticos é semelhante ao anterior, os dentes movem-se segundo os mesmos princípios, e as forças geram-se de igual forma. Este tipo de aparelhos é feito de materiais mais transparentes, ou opacos com uma cor semelhante à dos dentes, providenciando assim uma melhor estética quando comparado ao metálico.

Apesar da melhor estética ser atrativa para os adultos, sendo uma opção muito comum, os braquetes tendem a ser ligeiramente maiores, são mais quebradiços e geram um pouco mais atrito do que os de metal.

poucas contraindicações para este tratamento, mas geralmente é usado em adultos que já têm todos os dentes permanentes e que têm a arcada bem formada.

O tratamento com aparelho fixo, é normalmente complementado por outro, o aparelho móvel contentor. A sua finalidade é evitar a perda dos resultados conquistados com o aparelho fixo.

Aparelho ortodôntico fixo lingual, é o único aparelho ortodôntico completamente invisível. Como está colocado na face interna dos dentes não é visível.
O modo de funcionamento é semelhante ao aparelho ortodôntico fixo metálico/estético por vestibular (na parte visível dos dentes) – é igualmente constituído por braquetes, por fios (arame) e por ligaduras – mas o modo de fabrico é, na maioria das vezes, diferente.

Na maioria dos aparelhos ortodônticos linguais cada braquete é individualmente produzido para cada dente (de cada paciente) o que o torna consideravelmente mais dispendioso.

 

Aparelhos Removíveis
Quem usa aparelho ortodôntico fixo sabe que o tratamento não fica por aí, o aparelho móvel é necessário após a retirada do fixo. O objetivo é manter os dentes e o sorriso lindo até que os ossos e a gengiva se estabilizem.

Enquanto o aparelho fixo geralmente é usado na parte superior da boca, a parte inferior recebe uma placa de metal na parte de trás. Esta peça também evita que os dentes voltem a movimentar-se.

O aparelho ortodôntico móvel é mais cómodo que o fixo, pode ser retirado para ocasiões sociais, durante refeições e para a higienização da boca e dentes. O desconforto causado pela manutenção é menor.

Em contraposição, ele exige mais disciplina do paciente. Existem vários tipos de aparelhos móveis, sendo que cada um deve ser usado por períodos diferentes. Cabe ao paciente colocá-lo e retirá-lo conforme as orientações do dentista para garantir dentes perfeitos.

Existem vários tipos de aparelhos móveis, nomeadamente:

  • Aparelho reposicionador de mandíbula;
  • Aparelho amortecedor de lábios e bochechas;
  • Expansor palatino;
  • Aparelho móvel extraoral ou bucal.

Vejamos sumariamente cada um deles.
:: Aparelho reposicionador de mandíbula, que ajuda a garantir que o paciente tenha uma oclusão dentária correta. Normalmente, é utilizado em tratamentos de disfunção da Articulação Temporomandibular, a famosa ATM.

:: Aparelho móvel amortecedor de lábios e bochechas, bem como o expansor palatino. O primeiro evita a pressão muscular da face em dentes e mandíbula, enquanto o segundo expande o arco da mandíbula superior. É indicado para tratar palato reduzido.

 :: Aparelho móvel extraoral, que aplica uma força sobre os ossos da face, de modo a estimular ou restringir o seu crescimento. É utilizado por crianças, para garantir o crescimento adequado da estrutura óssea facial e de dentes.

 

Aparelhos Alinhadores
O aparelho ortodôntico invisível é um dos mais modernos que existem em alinhamento de dentes. Tem esse nome porque é quase impercetível, sem ser visto com facilidade pelas pessoas.

O dispositivo encaixa-se perfeitamente na boca e é impercetível. Como é invisível, não altera o sorriso durante o uso. Por isso, é a alternativa mais indicada para quem deseja alinhar os dentes de maneira discreta, sem que outras pessoas percebam o uso do aparelho.

Faz a movimentação dos dentes e pode ser removido no momento das refeições. Com este aparelho, o tratamento torna-se mais rápido, mais assertivo, com maior previsibilidade dos resultados, mais higiénico e o paciente não precisa passar pela manutenção mensal, reduzindo o número de visitas ao consultório.

O Invisalign é um alinhador estético, que não causa dor ao paciente e oferece um tratamento até duas vezes mais rápido. Antes de iniciar o tratamento, o paciente já consegue ver uma digitalização 3D, que apresenta o resultado do novo sorriso.

Esta alternativa também se destaca por não ter braquetes e fios metálicos, como acontece no aparelho fixo tradicional. A versão invisível é composta por um jogo de moldeiras removíveis e transparentes, que são feitas sob medida.

As moldeiras são fabricadas depois do mapeamento digital da arcada dentária do paciente. Após esse processo, o ortodontista planeia as etapas do tratamento e geralmente o paciente necessita de usar várias moldeiras durante esse período.

O aparelho ortodôntico invisível conta com a vantagem de ser removível pelo próprio paciente, o que facilita a escovagem dos dentes. Além disso, permite obter resultados em menos tempo do que um aparelho fixo, desde que o paciente siga as orientações do ortodontista.

Esta alternativa ainda possui a facilidade de não exigir manutenções frequentes em consultório. O ortodontista não precisa realizar ajustes do aparelho, basta que o paciente troque a moldeira no momento certo.

O aparelho ortodôntico invisível tem um ponto negativo, o seu preço é mais alto do que o fixo.
O Invisalign é o alinhador transparente mais avançado do mundo, feito com os recursos mais inovadores da ortodontia. Com um planeamento digital do sorriso, o ortodontista consegue saber exatamente como serão os deslocamentos dos dentes e os resultados esperados.

 

4. Manutenção e Cuidados com os Aparelhos

Vejamos alguns conselhos e cuidados fundamentais que o paciente deve realizar para cuidar do aparelho e realizar o tratamento sem grandes complicações:

:: Escovar os dentes imediatamente após as refeições de acordo com as orientações fornecidas pelo ortodontista.

:: Utilizar o fio dentário entre os dentes e braquetes. Em alguns casos, a fita dentária pode ser mais fácil de utilizar do que o fio dentário.

 :: A partir do momento que coloca aparelho fixo, o paciente não deve utilizar os dentes da frente, para cortar alimentos, tais como: maçã, cenoura, sanduíches mais consistentes, carnes, pastilhas elásticas, entre outros.

 :: Evitar comer ou mastigar alimentos pegajosos (pastilhas elásticas, gomas, caramelos, etc.) ou duros (figos secos, amendoim, castanhas, nozes, pipoca, etc.). Além destes, também deve evitar comer alimentos gordurosos.

:: Para quem usa aparelho fixo, frutas, carnes e vegetais devem ser cortados em pedaços pequenos para facilitar a mastigação. Portanto, evite mordê-los inteiros, porque isso pode danificar o aparelho. No caso do aparelho móvel, deve ser retirado durante as refeições, voltando a colocá-lo apenas depois da escovagem.

 :: As borrachas (ligaduras) com o tempo e de acordo com a dieta podem ficar amareladas ou escurecidas. Então para manter a cor das borrachas por mais tempo, o paciente deve evitar o consumo excessivo de alimentos muito corados.

:: É normal sentir uma sensibilidade nos três primeiros dias após as ativações do aparelho. Se houver dificuldade para mastigar o alimento, recomendam-se alimentos líquidos e pastosos como sopas, caldos e puré. O nível de sensibilidade à dor varia de pessoa para pessoa.

:: Em caso de quebra do aparelho ortodôntico, o paciente deve entrar em contacto com o ortodontista e guardar as peças soltas. Tomar cuidado para não ingerir nenhuma peça que se tenha soltado.

:: Guardar o aparelho em caixa específica para não serem perdidos e não correrem o risco de partir. Além de proteger o aparelho de danos, a caixinha é um local higiénico para o guardar. Convém lavá-la com frequência e até fervê-la de tempos em tempos.

:: No início, o aparelho ortodôntico pode incomodar um pouco as bochechas, lábio e língua. Isso em função de uma reação normal do organismo a um corpo estranho, sendo que com tempo essa reação desaparece. Para evitar, o paciente deve utilizar a cera ortodôntica fornecida pelo ortodontista.

:: Se o aparelho magoar, não deve ser removido pelo paciente, mas sempre pelo ortodontista.

:: Manter os controles clínicos periódicos para a prevenção de cáries e doenças gengivais. Em caso de persistência dessas patologias, o tratamento ortodôntico poderá ser suspenso até que as mesmas sejam controladas.

 

5. Procedimentos e apoio do Assistente de Medicina Dentária (AMD) ao Dentista em Ortodontia

Para que o médico-dentista realize o seu trabalho de forma eficiente, o contributo do auxiliar de Medicina Dentária é fundamental.

Vejamos como deve estruturar o seu trabalho e intervir quer em termos de posicionamento no gabinete, quer em termos de disponibilização dos materiais e equipamentos que o médico-dentista necessite no decorrer do ato clínico.

  • Higienização do gabinete clínico, o Auxiliar de Medicina Dentária, deve começar por higienizar o gabinete onde vai ser realizada a intervenção, respeitando o protocolo definido pela clínica.
  • Disponibilizar o material e respetivos equipamentos, estando atento à anamnese do paciente para saber antecipadamente que tipo de intervenção poderá vir a ser realizada.
  • Apoiar durante o ato clínico, quando iniciar a intervenção do médico-dentista, o Auxiliar de Medicina Dentária deve estar atento a todos os passos realizados pelo dentista, estando do lado oposto na cadeira, por forma a poder visualizar a intervenção e apoiar quer na aspiração quer na disponibilização do material que seja solicitado pelo dentista.
  • Limpeza do gabinete após o ato clínico, após a realização do ato clínico o Assistente de Medicina Dentária, deve proceder à arrumação do material utilizado e respetiva limpeza.
  • Desinfeção e esterilização dos equipamentos utilizados, estes procedimentos poderão ser somente realizados no final do dia, tudo depende da dinâmica da clínica onde trabalhar.

A formação e experiência do Auxiliar de Medicina Dentária levam a que muitas vezes a comunicação verbal entre o dentista e o AMD seja muito reduzida uma vez que este consegue antecipadamente saber quais são os materiais e equipamentos que o dentista vai necessitar no decorrer da intervenção.